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Brasil e Argentina puxarão recuperação econômica da América Latina

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Depois de uma desaceleração de seis anos e uma contração econômica de 1,3% em 2016, a América Latina e o Caribe voltarão a crescer a partir deste ano, puxados pela expansão da Argentina e do Brasil, previu relatório sobre a região divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Mundial. Mas a fragilidade fiscal continua a ser a principal debilidade da região, com déficits em quase todos os países, o que demanda programas de ajuste.

Usando projeções do mercado, a instituição espera aumento do PIB de 1,2% em 2017 e de 2,3% em 2018. O estudo diz que o movimento será impulsionado pela “robusta recuperação” nos dois principais sócios do Mercosul. O Brasil deverá registrar expansão de 0,6% neste ano e de 2,3% no próximo. Na Argentina, os índices esperados são de 2,8% e 3,0%, respectivamente.

A frágil situação fiscal da maioria dos países é o principal risco do ponto de vista macroeconômico, disse o relatório. Dos 32 países analisados, 28 terão um balanço negativo em 2017. Na América do Sul, o déficit fiscal médio será de 6% do PIB, depois de um crescimento de 5,1 pontos percentuais de 2011 a 2017. No Brasil, o déficit deve ficar pouco acima de 8% do PIB, segundo as projeções do Banco Mundial. O índice esperado para México, América Central e Caribe é de 1,5%.

O desequilíbrio levou ao aumento da dívida pública na maioria dos países, para uma média de 59% do PIB. Com um índice de quase 80%, o Brasil está entre os 16 países que superam esse patamar. Na avaliação da instituição multilateral, o país precisará de um ajuste fiscal equivalente a 7% do PIB para estabilizar a trajetória da dívida, o terceiro maior percentual, atrás apenas de Trinidad e Tobago e Equador. Mas o economista-chefe da instituição para região, Carlos Vegh, ressaltou que é necessário gradualismo nesse processo, em razão do baixo nível de crescimento da região. “Não é preciso um choque.”

Na avaliação do Banco Mundial, fatores externos, como o preço de commodities, terão impacto “neutro” sobre a evolução do PIB, o que demandará o fortalecimento de fontes domésticas de crescimento. “Reformas no mercado de trabalho e educação, mais gastos em infraestrutura e o enfrentamento da situação fiscal serão chave”, disse Vegh.

Segundo ele, a deterioração das contas públicas restringe o espaço de políticas fiscais anticíclicas, caso elas sejam necessárias para impulsionar o crescimento. Esse cenário aumenta a relevância da política monetária para a estabilização macroeconômica, mas esse caminho apresenta riscos. “Os Bancos Centrais podem reduzir a taxa de juros da política monetária para estimular a economia sem arriscar maior depreciação (da moeda) e inflação?”, perguntou o economista.

O relatório ressalta que esse dilema é enfrentado pelos mercados emergentes diante de choques externos desde a relativa abertura de suas contas de capital e esteve no centro da crise asiática de 1996 e 1997. “Em resposta à rápida depreciação das moedas, o FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou que os Bancos Centrais aumentassem as taxas básicas para estabilizar a moeda, mesmo ao custo de piorar uma atividade econômica já fraca”, ressaltou o estudo.

Se quiserem ter espaço para reduzir os juros diante de um choque externo, os países da região precisam reforçar a credibilidade de sua política monetária. A receita do organismo multilateral abrange independência do Banco Central, baixos níveis de dolarização e uma moldura de política monetária que tenha credibilidade.

O Chile foi mencionado como exemplo do único país da região que conseguiu resolver esse dilema e foi capaz de reduzir as taxas básicas no momento de queda dos preços de petróleo registrada em 2014, que levou à queda do PIB, depreciações da moeda e alta da inflação. O Brasil reagiu com forte elevação dos juros, para 14,25%, o que estabilizou a moeda e a inflação com o tempo, mas agravou a contração do PIB. “Em contraste, o Chile imediatamente reduziu as taxas básicas quando ocorreu o choque negativo sobre seus termos de troca”, observou o relatório.

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