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Ciro Gomes diz que Lula sabia de esquema na Petrobras e não se desculpa por temperamento

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O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou na noite desta segunda-feira (17) em entrevista ao Jornal da Globo que é contra a venda da Embraer à Boeing e que, se for eleito, revogará o negócio. O presidenciável também afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia do mensalão do PT, mas sabia do esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.

Ele também falou sobre a proposta para refinanciar as dívidas de 63 milhões de brasileiros, que prevê o chamado “aval solidário” quando uma pessoa não puder quitar sua dívida (leia mais abaixo sobre a proposta).

Ciro abriu a série de entrevistas que a apresentadora Renata Lo Prete fará nesta semana com os candidatos à Presidência mais bem colocados na última pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta-feira (14). Também haverá entrevistas com Geraldo Alckmin (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Marina Silva (Rede). O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, permanece internado se recuperando do atentado que sofreu no dia 6 de setembro e não será entrevistado neste momento.

Logo no início da entrevista, o candidato do PDT se disse contra a venda da Embraer à Boeing ou a qualquer outra empresa estrangeira. Para Ciro, a fabricante de aeronaves é “estratégica” para o Brasil e, por isso, deve continuar nacional.

O acordo de união dos negócios da Boeing e Embraer para a criação de uma nova empresa na área de aviação comercial foi anunciado em julho. Pelo memorando, a companhia americana terá 80% de participação e a brasileira, 20% na joint venture. A transação ainda depende do aval dos acionistas – entre os quais está o governo brasileiro – e dos órgãos reguladores do mercado brasileiro e americano. A expectativa da Embraer é que o negócio seja concluído até 2019.

Ciro, porém, explicou que, se for eleito, não trabalhará para estatizar a Embraer e se disse favorável a mantê-la privatizada. Ciro disse ainda que, se for eleito, desfará o negócio envolvendo a Embraer e a Boeing.

“Quando a Embraer foi privatizada, o governo federal ficou com uma golden share, que é uma ação especial, que dá ao governo o poder de vetar determinadas decisões estratégicas. E aquilo é uma questão absolutamente sensível sob o ponto de vista da defesa, da segurança nacional, da engenharia brasileira. É um de dois lugares onde o Brasil ainda tem alguma potencialidade tecnológica: petróleo e a Embraer. Dois produtos extraordinários foram desenvolvidos e na hora de renderem bilhões para o Brasil e nós estamos permitindo, se isso se consumar eu vou desfazer, que a Boeing feche a Embraer”, disse o candidato.

“Eu sou nacionalista. Eu não quero estatizar a Embraer. Não quero estatizar a Embraer, eu quero que a Embraer siga nacional brasileira, o que é diferente. Ela hoje já é privada, e eu não tenho nada contra ela ser privada. Foi privada que ela desenvolveu esse estágio superior de ser a maior companhia mundial de jatos médios”, explicou.

Programa Nome Limpo

Ciro Gomes também falou sobre a proposta, batizada de Nome Limpo, na qual se propõe a retirar mais de 63 milhões de brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Nela, está previsto o “aval solidário”, que consiste na formação de grupos de 5 ou 10 endividados que se responsabilizariam umas pelas outras. Pelo sistema, se um dos membros não pagar a prestação da dívida, os demais se responsabilizam pelo pagamento.

Durante a entrevista, o candidato afirmou que não propôs que o grupo fosse formado por endividados. “É só ler, está no meu site cirogomes.com.br, tem a cartilhazinha, está bem estudado”. A jornalista Renata Lo Prete ressaltou que a cartilha falava, sim, de “endividados”. O tópico 6 informa: “O Programa Nome Limpo vai organizar os devedores em grupos de 5 ou 10 pessoas, que se responsabilizam umas pelas outras. É o sistema de Aval Solidário. Se uma pessoa do grupo não pagar a sua prestação, os outros membros se responsabilizam pelo pagamento.”

Ao JG, Ciro passou a defender que o grupo possa ser formato não só por endividados. “Você reúne de cinco a dez pessoas e elas assinam solidariamente. Se a prestação é R$ 40, dividindo por 36 meses, dá R$ 40 por mês. Dez pessoas juntas, se uma delas falhar, elas têm que dividir, dá R$ 4 por mês, para cada avalista. Vamos concordar que isso é o mínimo de solidariedade comunitária que o nosso povo está cansado de fazer”, explicou.

Inflação

Após ser perguntado sobre sua proposta de vincular o combate à inflação a uma meta de geração de empregos, o candidato informou números errados da inflação de quando foi ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, em 1994.

“Eu peguei a inflação com 3% ao mês e entreguei com zero, o país crescendo com desemprego quase perto de 3%…”, afirmou.

Em seguida, a jornalista Renata Lo Prete pediu a palavra. “Posso só colocar uns números aqui? Eu tenho visto que o senhor fala sobre essa questão da inflação, então trouxe os seus números de inflação quando ministro da Fazenda. De fato, eram números baixos, a inflação estava numa trajetória de baixa com a implantação do real…”.

Ciro assumiu o ministério em 7 setembro. Nesse mês, a inflação foi de 1,53%. Depois, o IPCA (considerada o índice oficial pelo governo) registrou 2,62% em outubro e 2,81% em novembro. Ciro deixou o cargo em dezembro, quando a inflação foi de 1,71% – acima de quando tomou posse.

Lula e escândalos de corrupção

Ciro também foi questionado na entrevista sobre a relação com o ex-presidente Lula e o PT – ele foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato do petista – e sobre o fato de criticar reiteradamente a candidatura de Fernando Haddad, mas poupar Lula de críticas.

Segundo Ciro, ele e Lula são amigos “há mais de 30 anos” e que o ex-presidente, que está preso em Curitiba após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, “nem é satanás, como os coxinhas e os radicais de direita no Brasil querem fazer [parecer], e nem é esse deus que certa fração religiosa radicalizada do PT quer, também, transformar”.

“O Lula escolheu o [Antonio] Palocci, que está preso, para comandar a economia brasileira por oito anos. Será que ele mesmo, Lula, acha que foi uma escolha acertada? O Lula escolheu a Dilma [Rousseff], que é uma pessoa honrada, mas desastrou o país. O Lula escolheu Michel Temer. Com a popularidade farta e generosa, merecida, escolheu Michel Temer e cravou Michel Temer na linha de sucessão do Brasil. E tudo isso eu protestei na hora. O Lula escolheu o Haddad recentemente. Eu não falo mal do Haddad. O Haddad é um amigo meu. Estou discutindo porque estamos num debate. […] É razoável que a gente exponha o Brasil a esse risco?”, explicou.

Logo depois, Ciro Gomes foi questionado sobre as responsabilidades que, para ele, Lula teve nos escândalos do mensalão do PT e na Petrobras. Segundo o candidato do PDT, o ex-presidente “não sabia” do esquema de compras de voto em seu governo, mas sabia que os partidos políticos buscavam indicações na Petrobras “para roubar”.

“No mensalão, eu estava lá [no governo, como ministro]. De fato, ele não sabia. Eu tenho razões genuínas para acreditar que, de fato, ele falou a verdade quando disse que não sabia. No ‘petrolão’, não dá. No ‘petrolão’, simplesmente não dá porque não é que ele sabia que as pessoas estavam roubando, mas ele sabia que as pessoas estavam procurando as indicações para roubar. Isso aí, infelizmente, eu por exemplo falei pra ele várias vezes do Sérgio Machado [ex-presidente da Transpetro]”, afirmou Ciro.

Outros temas

  • Reforma trabalhista

Pergunta: Gostaria de começar com reforma trabalhista. O seu programa inclui a revisão da reforma aprovada no atual governo. O senhor disse que cria insegurança jurídica, que o país não pode crescer com insegurança jurídica.

Resposta: A reforma trabalhista precisa ser revogada porque é a reprodução de uma agenda de 1998 que passou com uma fraude no Senado, que aceitou votar contra sua própria convicção. E isso está tudo registrado, desde que o presidente da República formalizasse uma carta vetando aquelas aberrações, e o veto não aconteceu. E isso já produziu mais de 980 mil novos desempregados no Brasil, o que é uma selvageria que precisa ser substituída por uma coisa moderna. […] Nós temos 13,7 milhões de desempregados. Eu falei que, do dia que a reforma trabalhista entrou em vigor, com a mentirosa promessa de que ia ajudar a superar o desemprego, 980 mil novos desempregados foram produzidos no Brasil.

  • Inflação

Pergunta: Como fica para o senhor a questão da inflação aceitável?

Resposta: A inflação aceitável é zero. Agora, deixe explicar para você. O Brasil está intoxicado. Essa que estou propondo equivale às melhores práticas internacionais. O mandato do FED, que é o Banco Central americano, é perseguir a menor inflação a pleno emprego. O mandato dos bancos centrais mais sérios da Europa: perseguir a menor inflação a pleno emprego. Muitos poucos países têm isso que se chama de meta de inflação no Brasil e nenhum deles têm a história de indexação que o Brasil tem, sancionando com taxas de juros preços que são inflados por decretos de governo. Isso é simplesmente jogada ou canalhice, se você quiser uma palavra um pouco mais dura, para privilegiar a especulação financeira, matando o Brasil. Essa prática, que vem do Fernando Henrique, passou pelo governo Lula e se agravou com Dilma. Essa prática destruiu, nos últimos 3 anos, 13 mil indústrias no Brasil. Essa prática fechou 220 mil pontos de comércio no Brasil.

  • Reforma da Previdência

Pergunta: O senhor propõe que a gente migre do atual sistema de repartição, em que o trabalhador da ativa banca o aposentado na inativa, para o sistema de capitalização, em que basicamente o trabalhador contribui para a sua poupança de aposentadoria. Quem estuda a fundo o assunto da Previdência diz que migrar de um sistema para outro tem um custo bastante elevado. A sua equipe fez esse cálculo?

Resposta: Evidente! E sob a minha pessoal liderança. […] Só Brasil, Argentina e Venezuela, que neste caso não são boas companhias, persistem na América Latina com regime de repartição. Os três estão quebrados. E fica a elite brasileira insistindo em reformar o que é irreformável. Eu estou propondo uma solução estratégica e definitiva para um problema que vai engolir o Brasil se a gente não equacionar. […] Até R$ 5 mil o governo garante, porque a contribuição será compulsória editada por lei e […] a partir daí o cidadão e a cidadã que quiserem ter uma aposentadoria maior banca voluntariamente esse excedente. Isso é o que o mundo moderno inteiro faz.

  • ‘Destempero’

Pergunta: “O senhor não acha que a gente está de novo às voltas com uma questão que marca a sua vida pública? O senhora, muitas vezes, tem que responder por isso, que é a questão do seu descontrole.”

Resposta: “Inventam essa questão. Eu não tenho sangue de barata e não quero ter […] Não tendo o que dizer de mim, não podem me chamar de ladrão, não podem me chamar de incompetente. Ninguém passa uma campanha com o paletó limpinho. Então, comigo é isso! Porque eu, 16 anos atrás, chamei alguém de burro, o que de fato existe gente burra. Existe gente burra!”

  • Comandante do exército

Pergunta: O senhor comentou uma entrevista dada pelo comandante do Exército, general Villas Boas. Ele manifestou a opinião que, diante do quadro de divisão, na sociedade brasileira, na política de visão extremada, ele via a possibilidade de que a legitimidade do presidente eleito viesse a ser contestada. Daí o senhor, acredito, inspirado numa frase do dramaturgo alemão Bertold Brecht, disse o seguinte a respeito das palavras do general Villas Boas: “Que ele tentou calar a voz das cadelas no cio que embaixo dele estão se animando”. Eu queria saber exatamente a quem o senhor se referia.

Resposta: Eu sou um brasileiro que conheço a lei, conheço a lei e dou valor a ela. Está proibido comandante militar dar opinião sobre política. Simples assim. Está escrito na Constituição Brasileira, em todos os regulamentos que chefes militares não podem opinar na política. Deus está me ajudando.. No dia seguinte, o presidente do Uruguai mandou prender o comandante do Exército, que deu uma opinião sobre um assunto e que inclusive era pertinente ao Exército, mas era política. No caso, é próprio um comandante militar num país que tem a tradição lamentável que nós temos? É próprio? Vamos raciocinar juntos… É próprio que um comandante militar fique tutelando o processo político, coagindo as pessoas a votar por medo? Medo de que? Eu não tenho medo deles não.

G1

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