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Filha faz videoconferência para cuidar da mãe de 90 anos com Alzheimer durante isolamento pelo coronavírus em Fortaleza

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Por Thatiany Nascimento e Lucas Falconery


Filha usa videoconferência para matar saudade da mãe durante isolamento — Foto: Arquivo PessoalFilha usa videoconferência para matar saudade da mãe durante isolamento — Foto: Arquivo Pessoal

Filha usa videoconferência para matar saudade da mãe durante isolamento — Foto: Arquivo Pessoal

Parte das madrugadas de Isabel Silva são dedicadas à mãe, Graziela Angelim da Silva, de 90 anos, com uso de videoconferência desde que a cuidadora da idosa entrou em quarentena para evitar a propagação da covid-19. Recurso surge como alternativa à distância entre a funcionária pública, que mora em Fortaleza, e mãe – diagnosticada com Alzheimer – que vive no Eusébio, na Região Metropolitana da Capital.

Os casos de infecção pelo novo coronavírus chegaram ao registro 322 pacientes de 4 mortes no boletim da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), divulgado neste sábado (28). Camilo Santana, governador do Estado, prorrogou o decreto que restringe aulas e parte das atividades comerciais e de serviços até o dia 4 de abril.

Após a rotina de cuidados que mobiliza as filhas, Isabel observa a mãe à distância pela câmera durante cerca de 3 horas por noite. Embora afirme não ter familiaridade com o uso da tecnologia, ela diz que, agora, a família, está habituada aos encontros virtuais que passaram a ser constantes.

“Nós somos uma família que gosta muito de tá junta. Agora nós fazemos videochamadas para descontrair. Tá todo mundo dentro de casa com saudade. Estamos brincando com a tecnologia. No nosso dia a dia, a gente não tem tempo”, relata.

Filha cuida da mãe mesmo de longe por causa do isolamento do coronavírus — Foto: Arquivo PessoalFilha cuida da mãe mesmo de longe por causa do isolamento do coronavírus — Foto: Arquivo Pessoal

Filha cuida da mãe mesmo de longe por causa do isolamento do coronavírus — Foto: Arquivo Pessoal

Outro exemplo desse uso da tecnologia vem de uma turma de estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental que se reúne em videoconferência para manter o contato social no período de isolamento. As mães dos alunos resolveram proporcionar as reuniões virtuais que acontecem diariamente desde que as reclamações da falta dos colegas de classe se tornaram insistentes.

“Elas já estavam entrando no 5º dia de quarentena, já diziam que estavam com saudade do colégio e dos amiguinhos. Foi quando uma mãe deu a ideia e todas vimos uma oportunidade deles matarem um pouco a saudade e o tédio também”, explica Virgínia Brasil, mãe de uma das estudantes, a Alice, de 7 anos. São utilizados celulares para o encontro virtual. “As crianças vibram quando se veem, gritam, riem, ficam até sem saber o que dizer”, acrescenta.

Fernando Pinto também encontra nas câmeras e na tela do celular o caminho para encurtar a distância daqueles que sente saudade desde que entrou em isolamento voluntário para evitar a doença. Família e amigos são acionados por aplicativos desde então. “A tecnologia está sendo fundamental para passar entretenimento para a gente, enquanto estamos em casa”, reflete o advogado.

“Quando acabar o isolamento, eu acho que vai ser mais intenso as pessoas irem aos compromissos. Acho que eu vou dar mais valor. Porque eu gosto muito de contato, de muita gente. Eu não vejo a hora disso acabar”, disse.

Falta de contato físico durante o isolamento social devido a covid-19 abre espaço para a criatividade em manter formas de socialização e de interação humana, como explica a psicóloga e doutoranda em Saúde Pública, Maria Camila Moura. “A situação reafirmou que somos seres sociais. Que nenhuma distância física e geográfica apaga isso. Que damos o nosso jeitinho. Usamos novas tecnologias para exercemos nossa socialidade. Mas o que foi ressignificado foi nossa socialização. Novas maneiras de interação. Novas vivências em sociedade”.

Ainda assim, alguma relações conflituosas podem continuar gerando situações desagradáveis no período também, como a especialista ressalta. “Uma família que não convive tão bem, não é porque eles estão agora se olhando diariamente, que esse vínculo vai melhor. Não necessariamente. Às vezes, pode até agravar algumas divergências. Assim como não é porque algumas pessoas estão com o contato limitado ao meio virtual, que esses vínculos vão se enfraquecer”, conclui.

G1

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