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Criminosos provocam explosão em ponte no 18º dia de ataques no Ceará; van escolar e carro-pipa são incendiados

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Ceará vive onda de ataques criminosos

Ceará vive onda de ataques criminosos

Criminosos provocaram uma explosão em uma ponte na BR-116, no Bairro Aerolândia, em Fortaleza, na madrugada deste sábado (19). É o 18º dia seguido de ataques desde o início da onda de violência no Ceará. Na noite de sexta-feira (18), a capital também registrou incêndios contra um ônibus e uma van escolar. Já no município de Crateús, no interior do estado, um grupo ateou fogo em um carro-pipa.

Desde o dia 2 de janeiro, criminosos atacaram ônibus, carros, prédios públicos, prefeituras e comércios em 46 dos 184 municípios cearenses. As ações começaram em Fortaleza, foram para a Região Metropolitana e se espalharam por diversas cidades do interior do estado. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, 387 pessoas foram capturadas por envolvimento nos ataques. Criminosos tentam forçar o governo a desistir de medidas que tornam a fiscalização nos presídios mais rígida.

Conforme testemunhas, a explosão desta madrugada causou forte ruído, que assustou os moradores da região. Equipes do Grupo de Ações Táticas Operacionais (Gate), da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Força Nacional de Segurança foram acionadas, mas não encontraram os artefatos utilizados na ação. Segundo a Polícia, ainda não é possível informar que tipo de material foi usado.

No quilômetro 3 da rodovia BR-116 criminosos explodiram uma bomba no viaduto. — Foto: Rafaela Duarte/TV Diário

No quilômetro 3 da rodovia BR-116 criminosos explodiram uma bomba no viaduto. — Foto: Rafaela Duarte/TV Diário

Engenheiros do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estão no local para avaliar se houve danos à estrutura.

Ataques de sexta-feira (18)

Na sexta-feira (18), um ônibus foi incendiado no Bairro Quintino Cunha, em Fortaleza. A ação ocorreu no início da tarde, na comunidade Sossego, na periferia da capital. O veículo pertencia à linha Pio Saraiva II.

Por volta das 18 horas de sexta, criminosos também atearam fogo em uma van escolar, no Bairro Mondubim, em Fortaleza. Segundo a polícia, dois suspeitos em uma motocicleta jogaram combustível e incendiaram o veículo. Moradores conseguiram apagar as chamas, mas o carro ficou destruído.

A polícia apreendeu dois adolescentes suspeitos de envolvimento no ataque. Eles foram conduzidos para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).

Durante a noite, no município de Crateús, um grupo incendiou um carro pipa, na localidade de Lagoa das Pedras, na zona rural da cidade. Não houve registro de feridos. A Polícia Militar da cidade realiza buscas na região com objetivo de prender os suspeitos. Até a manhã deste sábado, ninguém foi preso.

Moradores conseguiram apagar as chamas, mas o veículo ficou destruído. — Foto: Rafaela Duarte/TV Diário

Moradores conseguiram apagar as chamas, mas o veículo ficou destruído. — Foto: Rafaela Duarte/TV Diário

Desde a última segunda-feira (14), o número de atentados tem sido menor, porém ainda foram registrados ataques incendiários a carro de coleta de lixo, ônibus, além de tiros em uma agência bancária e explosões na ponte do Bairro Bela Vista e em um poste perto da estação do metrô do Couto Fernandes.

Reforço policial

O governo estadual convocou 1.200 policiais militares aposentados para reforçar a segurança contra a onda de ataques. Até a manhã desta sexta, 800 haviam se apresentado para retornar ao serviço.

O Ministério da Justiça confirmou que enviou um reforço de 355 agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para o estado. Tropas da Força Nacional também seguem reforçando as ações no estado. O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou as ações criminosas como “atos de terrorismo”.

Na quinta-feira (17), o governador do Ceará, Camilo Santana, se reuniu em Brasília com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e solicitou o apoio de 90 agentes penitenciários. Conforme a Secretaria da Administração Pública, a ordem para os ataques parte de dentro dos presídios.

Sargento Nilton Uchoa retorna ao policiamento ostensivo após 32 anos na reserva — Foto: João Pedro Ribeiro/TVM

Sargento Nilton Uchoa retorna ao policiamento ostensivo após 32 anos na reserva — Foto: João Pedro Ribeiro/TVM

Entenda o que está acontecendo no Ceará

  • O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios. O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
  • Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior.
  • O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
  • A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
  • A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
  • 35 membros de facções criminosas foram transferidos do Ceará para presídios federais desde o início dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.

Ações são ‘atos de terrorismo’, diz governador

Em entrevista à GloboNews, o governador Camilo Santana disse que as ações criminosas registradas no Ceará são “atos de terrorismo”. Santana defendeu que o Congresso Nacional revisse a lei antiterrorismo para tipificar ataques como os que ocorrem no Ceará.

Camilo Santana também confirmou o fechamento de 67 cadeias municipais no interior do Ceará nos últimos dias. A medida foi uma decisão do novo secretário da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, segundo o governador.

“Eram cadeias precárias, concentrei na Região Metropolitana para ter mais controle sobre esses presos. Isso foi uma decisão do próprio secretário [da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque]. Tenho tido todo o apoio do poder Judiciário”, afirmou.

Ordens partiram de presídios

Áudios compartilhados entre membros de facções do Ceará revelaram que as ordens para as ações contra ônibus, prefeituras e prédios públicos partiram de presidiários. As mensagens chegaram até as autoridades após a apreensão de 407 aparelhos de celulares nas unidades prisionais do estado, no dia 6 de janeiro.

Em uma mensagem, um detento ordena: “Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?”. O Palácio Municipal da Prefeitura de Maracanaú, na Grande Fortaleza, foi um dos 49 prédios públicos atacados no Ceará. “Agora a bagunça vai começar é com força”, diz outra mensagem de áudio. “Agora nós vamos parar os ônibus, vamos tocar fogo com vocês dentro”, ameaça um terceiro detento.

Em outro áudio, um detento diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da Administração Penitenciária desista de medidas que tornam mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. “Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês”, ameaça um criminoso.

Policiais da reserva

Mais de mil policiais militares da reserva foram convocados para voltar a atuar nas ruas. No entanto, menos da metade dos agentes de segurança se apresentaram. Os PMs que já assinaram os documentos deveriam ter começado a trabalhar na quarta-feira (16), mas atrasos na preparação das fardas e coletes atrasaram a saída às ruas. Devido à baixa adesão, o Governo do Ceará ainda prorrogou o prazo para que os policiais militares se apresentem no Comando Geral da PM.

“Logo depois desses ajustes, os policiais militares devem retornar as ruas até sexta-feira. Eles serão designados em um primeiro apenas para reforçar o policiamento em Fortaleza. E se necessário podem ser deslocados para outras regiões do estado”, disse o Relações Públicas da PM, coronel Jano Marinho.

A Polícia Militar informou que a apresentação é obrigatória para os PMs que estão na reserva há no máximo cinco anos e que moram no Ceará. Aqueles que não residem no Ceará não estão obrigados a se apresentar.

Quem não se apresentar vai responder administrativamente por transgressão disciplinar. E quem não puder mais trabalhar precisa trazer um atestado médico e passar por uma avaliação na PM.

A convocação é possível após a aprovação de uma lei na Assembleia Legislativa, em sessão extraordinária neste sábado (12), durante o recesso parlamentar. Os policiais da reserva que voltarem a trabalhar irão receber uma gratificação extra.

Medalha e premiação

O prefeito Roberto Cláudio vai instituir uma medalha de heroísmo e bravura a servidores públicos municipais que atuaram, durante este mês de janeiro, contra os ataques criminosos em todo o estado. Premiações em dinheiro também vão ser oferecidas.

“É uma forma da gente incentivar e estimular a cidadania, o ato de entrega e serviço entre aqueles que estão no serviço público municipal, pra poderem dedicar o que tem de melhor pra nossa cidade”, reforçou o prefeito.

Os critérios para escolha dos profissionais que vão ser agraciados com medalhas e prêmio não foram divulgados.

Ainda segundo o prefeito, o projeto vai se tornar lei e deve ser aplicado durante todo o ano em Fortaleza.

Ceará vive onda de ataques desde 2 de janeiro — Foto: Infográfico: Arte/G1

Ceará vive onda de ataques desde 2 de janeiro — Foto: Infográfico: Arte/G1 G1 CE

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