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Análise: Grêmio evoca espírito copeiro e deixa de lado melhor futebol por vaga

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Por Eduardo Deconto, Porto Alegre

Melhores momentos de Grêmio 1 x 0 Botafogo pelas quartas de final da Libertadores

Melhores momentos de Grêmio 1 x 0 Botafogo pelas quartas de final da Libertadores

Luan e Arthur trocam um abraço efusivo. Marcelo Grohe e Fernandinho erguem as mãos aos céus em gratidão. Renato Portaluppi entra em campo e faz questão de agradecer às 50 mil vozes que explodem numa festa uníssona na Arena pela classificação do Grêmio à semifinal da Libertadores após bater o Botafogo por 1 a 0.

As reações até são distintas, mas expressam o mesmo sentimento de alívio ao ver os 90 minutos de aflição pura chegarem ao fim com a tão sonhada vaga em mãos. A explosão de alegria dos gremistas tem a ver com uma partida em que o Tricolor deixou de lado o futebol vistoso habitual em 2017 para evocar suas raízes “copeiras” e fazer uma atuação com espírito aguerrido em essência para sair com a vitória.

“Se não fosse (tão difícil), não seria o Grêmio. A gente mostrou que não é aquele tiki-taka, futebol bonito. Jogamos o que tem que ser jogado e estávamos prontos para buscar o resultado”. (Pedro Geromel, zagueiro).

Prova disso é o enredo do embate decisivo. Se não foi possível fazer prevalecer a qualidade técnica, com a valorização do toque de bola que gerou o rótulo de “melhor futebol do Brasil”, o Grêmio fez a vontade soterrar uma série de falhas. Numa má jornada, sem inspiração num setor de criação esfacelado por desfalques, o Tricolor mostrou o aguerrimento costumeiro da equipe de Felipão multicampeã nos anos 90, corroborado pelo gol da vitória. Um gol de centroavante, anotado por Lucas Barrios após cobrança de falta já no segundo tempo.

Renato reúne jogadores no centro do gramado (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio) Renato reúne jogadores no centro do gramado (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)

Renato reúne jogadores no centro do gramado (Foto: Lucas Uebel/Divulgação Grêmio)

Mas para entender todo o sofrimento vivenciado pelos gremistas na partida é preciso remeter ao ambiente do vestiário e até da concentração antes de a bola rolar. O elenco de Renato Portaluppi viveu dias de apreensão com a condição física de Luan. O treino da última terça-feira praticamente definiu sua ausência. O camisa 7 sentiu dores ao tentar arrancadas e finalizações. Mas apresentou melhora na quarta. A evolução o levou ao pedido insistente para estar em campo, freado pelo último teste, minutos antes de a bola rolar, que o deixou no banco de reservas.

Sem Luan, pouca criação

O “veto” a Luan mexeu com os gremistas e deu uma pitada a mais ao ambiente de tensão crescente dos útimos jogos, com apenas uma vitória nas sete partidas anteriores – só reduzido, em partes, pelo retorno de peso de Pedro Geromel à zaga. O nervosismo e a apreensão ficaram evidentes numa primeira etapa de muitos erros em que o Grêmio, de fato, escapou de uma derrota parcial crucial para o Botafogo.

– (O Luan) É fundamental. Quando tem o jogador de criação no meio-campo, tudo facilita. Quando os volantes pegam a bola, procuram o jogador que pode armar o time. Jogamos praticamente com três volantes. Mas não vou ficar me lamentando. O Botafogo está acostumado a jogar com três volantes. Nós, não. Jogamos com dois. Temos usado três volatnes por causa da falta do Luan – analisou Renato.

Entrada de Everton foi vital para Grêmio buscar a vitória (Foto: Reuters) Entrada de Everton foi vital para Grêmio buscar a vitória (Foto: Reuters)

Entrada de Everton foi vital para Grêmio buscar a vitória (Foto: Reuters)

A inconsistência dos 35 minutos inicias se explica pela escalação. O Grêmio entrou em campo com os três jogadores de sua linha de meias fora das posições habituais: Ramiro atuou centralizado, Fernandinho pela esquerda, e o lateral-direito Léo Moura apareceu na direita. O resultado foi uma equipe desconexa, sem ligação da defesa com o ataque e com um setor de criação praticamente nulo. Fernandinho até mandou uma bola na trave como cartão de visitas. Mas os donos da casa logo foram envolvidos pelos comandados de Jair Ventura.

Com três volantes em seu meio-campo, o time carioca cumpriu a promessa do treinador e não se limitou a defender. Após manter a cautela nos primeiros minutos, o Botafogo adiantou sua marcação e pressionou com intensidade a saída de bola do Grêmio, desorganizada e um tanto oscilante com um Geromel longe do ritmo ideal e alguma falhas pontuais de Kannemann.

Mudança no primeiro tempo surte efeito

Um erro do gringo, aliás, deu a largada à soberania carioca. O zagueiro errou feio ao sair jogando e permitiu uma série de três lances seguidos em que o adversário levou muito perigo à meta de Marcelo Grohe. Em seguida, o Grêmio até conseguiu reter mais a bola, mas sem a aproximação, a precisão e a intensidade costumeiras para abrir espaços. Atacado e sem atacar, Renato ousou. Aos 38, o treinador sacou Léo Moura para o ingresso de Everton, que inverteu a posição com Fernandinho.

Barrios fez o gol da vitória (Foto: Estadão Conteúdo) Barrios fez o gol da vitória (Foto: Estadão Conteúdo)

Barrios fez o gol da vitória (Foto: Estadão Conteúdo)

– Têm horas que as coisas não dão certo e cabe ao treinador enxergar. Léo Moura é um jogador de minha confiança, só que tem 38 anos e vinha de uma sequência de três jogos. O Botafogo estava nos acuando, não conseguíamos jogar. Se o Botafogo estava nos atacando, nós íamos atacar também, com o Everton de um lado e o Fernandinho do outro. Então o jogo ficou equilibrado a partir desse momento – explicou Renato.

O técnico assumiu o erro e tratou de corrigi-lo, além de alterar o posicionamento de Ramiro e de Arthur, que passaram a atuar numa linha à frente de Michel, mas atrás de Everton e Fernandinho, quase num 4-1-4-1 (veja na imagem abaixo). Foi o suficiente para o Tricolor equiparar as ações e conseguir, ao menos, aproveitar os espaços cedidos pelo rival. Após um primeiro tempo de puro sofrimento, o Grêmio manteve certo nervosismo ao sair jogando, mas conseguiu fazer seu jogo prevalecer, até com lampejos de triangulações e progressões com toque de bola no segundo tempo.

– A gente estava pilhado demais. Ele (Renato) sentou, nos deu confiança, falou para a gente ter tranquilidade para tocar a bola. Está de parabens até nisso – elogiou Arthur.

Renato dispôs o Grêmio no 4-1-4-1 (Foto: Reprodução) Renato dispôs o Grêmio no 4-1-4-1 (Foto: Reprodução)

Renato dispôs o Grêmio no 4-1-4-1 (Foto: Reprodução)

Com o setor criativo em uma crise de inspiração, o Grêmio achou seu gol com base na insistência e na força, numa jogada de bola parada. Aos 17 da etapa final, Edílson cobrou falta na área. Barrios se impôs a marcação e, mesmo sem se antecipar, conseguiu cabecear para estufar as redes, num gol típico de centroavante – o seu primeiro de cabeça pelo clube.

A vantagem no placar fez o Tricolor aflorar seu lado “copeiro”. Foi preciso muita transpiração, seguida de boa dose de catimba para frear o ímpeto do Botafogo, que abusou das bolas aéreas. No momento de maior dificuldade, a dupla de xerifes Pedro Geromel e Kannemann voltou a esbanjar a segurança habitual para sair com a vaga. Aliás: deu tempo até de Luan entrar em campo para os minutos finais.

Classificado, o Grêmio tem cerca de um mês até o primeiro confronto com o Barcelona-EQU, fora de casa. Até lá, focará no Brasileirão, mesmo com chances mínimas de buscar o líder Corinthians. O elenco gremista se reapresenta nesta quinta-feira. No domingo, o Tricolor encara o Bahia, às 19h, na Arena Fonte Nova, pela 25ª rodada do Brasileirão.

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