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Arco Metropoliano: em 5 anos, via que custou R$ 1,9 bi vira símbolo de corrupção, abandono e roubos

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Por Arthur Guimarães e Pedro Bassan, Jornal Nacional

Estrada do Rio reúne todas as mazelas das piores obras públicas do Brasil

Estrada do Rio reúne todas as mazelas das piores obras públicas do Brasil

Uma via inaugurada em 2014 no estado do Rio e que era para ser uma das mais modernas do Brasil se transformou em um símbolo de tudo de ruim que pode haver nas piores obras públicas, como mostrou o Jornal Nacional nesta segunda-feira (4). A obra do Arco Metropolitano, investigada pela Lava Jato por superfaturamento, atualmente é um corredor escuro que só este ano já teve 199 roubos a motoristas registrados.

“Essa obra infelizmente é o exemplo clássico de tudo o que não deve ser feito numa obra pública”, diz o controlador-geral do Estado, Bernardo Santos Cunha Barbosa.

A estrada custou R$ 1,9 bilhão e teve irregularidades desde a licitação até a inauguração. A via de 71 quilômetros escoa a produção do Rio e encurta a viagem até São Paulo, mas hoje muitos motoristas a evitam. Começa em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e vai até o Porto de Itaguaí.

Arco Metropolitano: via tem 71 km entre Caxias e o Porto de Itaguaí — Foto: Reprodução/TV GloboArco Metropolitano: via tem 71 km entre Caxias e o Porto de Itaguaí — Foto: Reprodução/TV Globo

Arco Metropolitano: via tem 71 km entre Caxias e o Porto de Itaguaí — Foto: Reprodução/TV Globo

Quem passa à noite pelo arco convive com a escuridão e o medo da violência. A grande maioria dos 4,2 mil postes de luz – um a cada 17 metros – já não funciona.

O Jornal Nacional localizou o caminhoneiro Cristian Dantas, que chegou a ser garoto-propaganda da obra em 2014. Hoje, evita passar pelo Arco.

“Dou a volta – Avenida Brasil, Dutra – mas corro dali. Hoje em dia não passo, não. Hoje não é nada daquilo. É a rodovia do medo.”

Escuridão à noite no Arco Metropolitando: rodovia foi projetada sem sinalização noturna porque há postes a cada 17 metros, mas maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV GloboEscuridão à noite no Arco Metropolitando: rodovia foi projetada sem sinalização noturna porque há postes a cada 17 metros, mas maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV Globo

Escuridão à noite no Arco Metropolitando: rodovia foi projetada sem sinalização noturna porque há postes a cada 17 metros, mas maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV Globo

A polícia descobriu que parte das baterias dos postes que é roubada é usada para abastecer módulos super potentes de auto falantes, os paredões de som. Cada poste tem espaço para quatro baterias. A polícia desarticulou uma quadrilha que já tinha roubado mais de 50.

“Se aproveitavam do local, que tinha baixíssima iluminação, não tinha muita circulação, câmeras de segurança. Eles sabiam dessa informação, e aproveitavam isso pra praticar o delito”, diz o delegado André Neves.

Bandidos contaram para a polícia que sobem nos postes para retirar o equipamento. Há também casos em que os postes têm a base serrada e são derrubados. Nesse caso, além das baterias, placas solares e lâmpadas são levadas.

Postes: sobrepreço investigado

O roubo no Arco Metropolitano, entretanto, pode ter começado durante a compra do material. O Tribunal de Contas do Estado do Rio encontrou um sobrepreço de mais de R$ 4 mil em cada poste. Um total que ultrapassa R$ 17 milhões.

Investigação aponta sobrepreço na obra do Arco Metropolitano — Foto: Reprodução/TV GloboInvestigação aponta sobrepreço na obra do Arco Metropolitano — Foto: Reprodução/TV Globo

Investigação aponta sobrepreço na obra do Arco Metropolitano — Foto: Reprodução/TV Globo

Alguns dos responsáveis pela obra foram denunciados pela Lava Jato como uma organização criminosa. César Augusto Craveiro Amorim, dono da empresa que montava os postes, foi preso no final de 2018, junto com o ex-governador Luiz Fernando Pezão.

Em depoimento à polícia federal, César Craveiro contou ter recebido R$ 350 mil em dinheiro do ex-governador Sérgio Cabral para instalar um equipamento ultramoderno de áudio e vídeo na casa de Pezão.

Para a controladoria-geral do Rio de Janeiro, os postes nem deveriam existir.

“Se a opção era fazer (energia) solar, há no mercado outras opções, como placas maiores fazendo um parque de energia solar integrada à rede do sistema”, disse Bernardo Santos Cunha Barbosa.

Como comparação, um relatório da controladoria mostra que, se tivessem sido instalados postes convencionais, ligados à rede elétrica, em 25 anos o estado economizaria R$ 55 milhões.

Mais um problema apareceu já com a obra em andamento: como não foi feito um estudo do terreno, de repente descobriram que o poste escolhido não parava em pé.

A fixação de cada um deles por estacas gerou mais um prejuízo de R$ 22 milhões. Dinheiro jogado fora porque, segundo a controladoria, as estacas não foram devidamente presas ao solo, por uma série de erros no projeto.

Bandidos derrubam postes no Arco Metropolitano para roubar — Foto: Reprodução/TV GloboBandidos derrubam postes no Arco Metropolitano para roubar — Foto: Reprodução/TV Globo

Bandidos derrubam postes no Arco Metropolitano para roubar — Foto: Reprodução/TV Globo

Na época da inauguração, a euforia com a nova estrada era tanta que o dono da empreiteira até se orgulhava de ter superado o problema dos postes no vídeo oficial.

“Quando começou não conhecia ali o terreno a fundo, descobrimos que o solo não era firme como a gente imaginava. Teve que fazer três estacas por poste, estacas de 6 metros!”, disse o diretor-superintendente da Soter Energia, Julio Kezem, em um vídeo oficial.

O que dizem os citados

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o DNIT, reconhece que já assumiu a manutenção da estrada, mas afirmou que o governo do estado do Rio, que fez a obra, ainda não entregou a rodovia de forma definitiva.

A Secretaria Estadual de Obras do Rio afirmou que contribuiu para a auditoria.

O ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) negou qualquer irregularidade nas obras do Arco Metropolitano e afirmou que reitera a confiança na Justiça.

Julio Kezem, diretor da Soter energia, que instalou os postes, disse que não coube à empresa a elaboração do projeto e negou que haja problemas de sustentação nas estruturas.

César Augusto Craveiro Amorim, dono da empresa que montou os postes, não quis se pronunciar.

Arco Metropolitano e seus postes com painéis de energia solar: maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV GloboArco Metropolitano e seus postes com painéis de energia solar: maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV Globo

Arco Metropolitano e seus postes com painéis de energia solar: maioria não funciona — Foto: Reprodução/TV Globo

Arco Metropolitano liga Caxias ao Porto de Itaguaí, no RJ — Foto: Reprodução/TV GloboArco Metropolitano liga Caxias ao Porto de Itaguaí, no RJ — Foto: Reprodução/TV Globo

Arco Metropolitano liga Caxias ao Porto de Itaguaí, no RJ — Foto: Reprodução/TV Globo

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