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Atualmente, 21,7% da população do DF sofre de hipertensão

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Há 10 anos, a hipertensão acometia 18,4% dos moradores do Distrito Federal. Atualmente, 21,7% sofrem do mal. Metade da população está com excesso de peso, o que agrava o quadro. Mudar o estilo de vida é o melhor remédio, segundo especialistas

Duas doenças silenciosas e perigosas tiveram crescimento na capital na última década. A hipertensão arterial, que pode causar infarto e acidente vascular cerebral (AVC), atinge 21,7%  da população do DF. O diabetes que, quando não tratado adequadamente, leva a degeneração progressiva dos nervos e a lesões nos rins, acomete 8,6% dos habitantes da cidade. Além das predisposições genéticas, o estilo de vida, segundo especialistas, está puxando os índices para cima.

A comparação dos dados atuais com os de 2006 evidencia a escalada. Há 10 anos, a hipertensão acometia 18,4% da população e o diabetes, 5,1%. Percentualmente, o DF é a sétimas unidade da Federação com mais diabéticos e a 16ª com mais hipertensos. A estatística faz parte do sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Um dos alertas que o texto traz é sobre o aumento de peso e para a obesidade. O brasiliense está cada vez mais gordo: 48,8 % da população está com excesso de peso.
Problemas com a balança não fazem parte da história da estudante universitária Patrícia Moura, 24 anos, e da servidora pública Marisa Helena de Lima, 58. Apesar disso, a primeira tem diabetes tipo 1. A outra é hipertensa. Patrícia toma até cinco doses de insulina por dia. Marisa não se atreve a sair de casa sem antes ingerir o controlador de pressão. Ambas admitem que não tinham uma alimentação equilibrada nem praticavam atividades físicas. São vítimas da falta de prevenção. “Se controlarmos fatores de riscos simples, conseguimos evitar essas doenças. Todo mundo tem medo de morrer com um problema no coração, por exemplo, mas poucos sabem dos fatores de risco e como evitá-los. Faltam orientação e prevenção”, critica o chefe do pronto socorro do Hospital do Coração do Brasil, Paulo Cardoso. Ele diz ser preciso mostrar o impacto das doenças na vida das pessoas. “Há campanhas contra o câncer ou a gripe, mas não se tem o mesmo com o diabetes, a hipertensão e as doenças cardiovasculares.”

Testes corriqueiros

Em 90% dos casos, o diabetes e a hipertensão são assintomáticas. Não há outra maneira de se identificar as doenças senão com testes corriqueiros, como medir a pressão ou o exame de glicose, a popular picada no dedo. Patrícia não fazia isso. Ela descobriu que tinha diabetes tipo 1 aos 13 anos. “Sempre fui magra, não era de comer doce, mas era bastante sedentária”, conta a moradora de Sobradinho. A jovem teve de adequar a rotina para conviver com a enfermidade. Na bolsa, há frascos de insulina e alimentos. “Tem situações que são complicadas. Fui ao banco fazer o resgate do FGTS, como estava muito tempo na fila e sem comer nada, eu me senti mal”, observa.
A continuidade do tratamento é uma das formas de manter o bem-estar do paciente, ressalta o médico Paulo Cardoso. “Em qualquer das situações, ministrar as medicações e manter consultas regulares ajudam a controlar a qualidade de vida”, conclui. Marisa concorda. “Um dia, cheguei ao trabalho e tive uma dor de cabeça muito forte. Fui ao ambulatório e o médico se assustou. Minha pressão estava 17 por 13. Hoje, faço exames semestrais para monitorar a situação”, pondera a moradora do Park Way.
A maior parte dos doentes depende do Sistema Único de Saúde (SUS). “O tratamento tem que ser na atenção primária. Nela, avaliamos os graus de risco para oferecer a assistência mais adequada. Por exemplo, um médico de família deve acompanhar um hipertenso. Ele só deve ser encaminhado a um cardiologista quando o caso se agravar”, avalia a coordenadora de cardiologia da Secretaria de Saúde, Edna Oliveira. Só 30% dos brasilienses têm acesso aos cuidados da atenção primária. A intenção do governo é aumentar para 75% até o próximo ano.

PALAVRA DE ESPECIALISTAS

Mudança de hábitos

» Luiz Bortolotto
“As pessoas precisam conhecer os fatores de risco. É preciso procurar o serviço de saúde para identificar e tomar os cuidados necessários para controlar essas doenças. A parcela jovem está sendo acometida ainda na infância e adolescência. Temos que criar a cultura de comer pouco sal, pouco carboidrato e fazer atividade física. Temos que controlar as doenças. Existem iniciativas, como a da OMS (Organização Mundial da Saúde) que estima reduzir em 25% os fatores de riscos até 2025 com campanhas educativas. O essencial é a mudança de comportamento.”
Cardiologista da unidade de hipertensão do Instituto do Coração e integrante da Sociedade Brasileira de Hipertensão

Tratamento continuado

» Melanie Rodacki
“O aumento da hipertensão e da diabetes se deve a dois fatores: ao aumento da obesidade e ao maior acesso ao diagnóstico. O que merece a atenção é que são doenças silenciosas, ou seja, não têm sinais ou sintomas. Para o diabético diminuir as chances de complicações, como agravos nos olhos, rins e neurológicas, é essencial controlar a glicose, usar medicação e fazer atividade física. Temos que fazer campanhas de detecção e de prevenção da doença. Outra falha é a interrupção do tratamento na rede pública. Tratar continuamente o doente diminui os custos para o governo, já que se evita casos graves.”
Consultora da Sociedade Brasileira de Diabetes
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