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Brasiliense é o único representante do DF na Seleção Brasileira paralímpica

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Bastaram dois anos de treinamento no alto rendimento para Wendell Belarmino receber o convite que o fará mudar de vida. Desde o início do ano, o rapaz de 18 anos é o único brasiliense entre os 12 jovens chamados para compor a Seleção Brasileira de jovens de natação paralímpica. O programa de detecção de talentos seleciona adolescentes de até 20 anos que se aproximam dos índices do time adulto para acompanhá-los de perto. Wendell não demorou a conquistar um lugar entre as maiores promessas do Brasil.
Os passos calmos e calculados pela falta de visão se transformam, dentro da piscina, em rápidas braçadas em busca do sonho de um dia conquistar uma medalha nos Jogos Paralímpicos. O nadador da categoria S12 — na qual os atletas cegos têm apenas a percepção de vultos — não conseguiu a convocação para a Rio-2016 por pouco, no ano passado. O índice não alcançado, porém, não desanimou o garoto. Com uma vida inteira pela frente como atleta de alto rendimento, ele passou a treinar duas vezes ao dia, cinco dias por semana.
A falta da visão nunca foi tratada como problema por Wendell. Devido a um glaucoma congênito, ele nasceu cego. Assim, ele diz que lidar com a deficiência é algo natural. O jovem chegou a passar por seis transplantes de córnea, mas nenhum deles devolveu ao garoto a visão completa. “Sempre tentei levar tudo do modo mais natural possível, um comportamento incentivado também pelos meus pais”, conta o nadador.
A mãe dele, Laudiceia Belarmino, 51 anos, é do tipo coruja: jura que o filho nunca deu trabalho. “A deficiência nunca o atrapalhou em nada”, comenta. Orgulhosa, ela diz que é chamada de “mãe do menino peixe”, pois o filho passa mais tempo dentro da piscina do que fora dela.
A natação sempre foi o principal esporte praticado pelo garoto. Desde os quatro anos, esteve presente em diferentes períodos da vida de Wendell: primeiro, na infância, por causa de problemas respiratórios; depois, na escola; por último, nos treinos de alto rendimento. A rotina mais puxada começou em 2015, com a equipe do Minas Brasília Tênis Clube. “Eu já competia em provas escolares e me convidaram para um meeting paralímpico que acontece no clube todo fim de ano”, recorda. Na oportunidade, o adolescente conheceu o coordenador e treinador da equipe paralímpica do Minas, Marcus Lima, que decidiu puxá-lo para perto.

Evolução

A primeira vaga em uma competição nacional veio no mesmo ano em que Wendell entrou na equipe. A evolução rápida pode ser notada por todos os que trabalham com ele. Marcão, como é conhecido o técnico, lembra que, no início, Wendell tinha que treinar em uma raia sozinho, pois nadava em zigue-zague. “Tem atletas que demoram cinco a seis anos para entrar na Seleção. Em dois anos, ele já conseguiu se destacar”, orgulha-se.
O progresso, apesar de rápido, exige esforço. Por causa da falta de visão, o aprendizado é mais lento do que o convencional. “O que eu faço é falar de forma mais detalhada, às vezes tiro ele da piscina e peço para ele tatear e sentir o movimento que faço”, descreve o treinador.
A confiança é outro aspecto que precisa ser desenvolvido na relação entre técnica e atleta. Por não enxergar, Wendell precisa da ajuda do tapper, pessoa que usa um bastão com ponta de espuma para indicar aos nadadores com deficiência visual a proximidade da parede. Geralmente, quem cumpre esse papel é Marcus. “O mérito não é do meu trabalho, mas sim do esforço e do talento dele”, discursa.
Correio Brasiliense
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