O surto mundial de coronavírus – classificado como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quarta-feira (12) – fez governos de outros países tomarem algumas das medidas mais radicais já vistas em tempos recentes para conter a disseminação de uma doença. No mundo todo, a Covid-19 já matou mais de 4,5 mil pessoas.
- Na China, cidades inteiras ficaram isoladas e houve interrupção total do transporte público.
- Na Itália, serviços considerados não essenciais, como lojas e bares, foram suspensos em todo o país.
- No Irã, mais de 70 mil presos foram temporariamente soltos depois da confirmação de infecções entre detentos.
- A Coreia do Sul incentivou ativamente empresas a adotar o trabalho remoto (home office).
- Os Estados Unidos proibiram a chegada de pessoas vindas da Europa caso elas não tenham residência no país.
- A França anunciou fechamento de escolas e universidades.
Especialistas explicam que, num cenário como esse, ações extremas são justificáveis. O principal objetivo, segundo eles, é controlar a velocidade com que o vírus se espalha.
Em um relatório divulgado nesta terça-feira (10) sobre a situação da pandemia, a OMS defendeu que “a restrição de deslocamento das pessoas deve ser proporcional ao risco à saúde pública, de curta duração e periodicamente revisada ao passo em que mais informações sobre o vírus, a epidemiologia da doença e características clínicas se tornam disponíveis”.
A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, é leve na maior parte das vezes, mas se espalha muito rapidamente. Dessa forma, o número de casos graves da doença, ainda que limitado, é capaz de levar ao colapso o sistema de saúde de um país.
“A gente não classifica a Itália como um país cujo sistema de saúde é frágil”, afirma Margaret Harris, porta-voz da OMS. “E, no entanto, o sistema de saúde deles foi sobrecarregado. Isso mostra como que mesmo um bom sistema de saúde pode ser sobrecarregado rapidamente.”
Especialistas apontam para a importância de se adotar medidas para que a doença se alastre com menor velocidade, uma vez que leitos de UTI e equipamentos básicos, como respiradores artificiais, são limitados.
No Twitter, foi criada uma campanha batizada de #FlattenTheCurve (algo como “achatar a curva”), em referência ao gráfico que mostra a disseminação da doença (veja abaixo).
Gráfico elaborado pelo cientista Drew Harris mostra como medidas de prevenção podem retardar o contágio da Covid-19 e evitar o colapso do sistema de saúde — Foto: Carl Bergstrom e Esther Kim/CC BY 2.0
Brasil sem medida em larga escala
No Brasil, até a última atualização desta reportagem, nenhuma medida havia sido tomada em larga escala para conter a disseminação do vírus em âmbito nacional.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou a suspensão das aulas na rede pública e privada por cinco dias. A medida foi criticada pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Governo do DF assina decreto que suspende aulas e eventos a partir desta quinta (12)
Os quatro países mais afetados
O G1 listou as principais medidas tomadas pelos quatro países mais afetados pelo coronavírus em número de casos registrados: China, Itália, Irã e Coreia do Sul.
Juntos, eles concentram 90,35% dos registros feitos desde o início da epidemia. Mas a doença tem se espalhado rapidamente – um levantamento do G1 mostra que metade dos países com coronavírus notificou o 1º caso apenas em março.
Dos quatro países, todos cancelaram as aulas em escolas e faculdades. Três também chegaram a restringir, em ao menos uma área, o deslocamento entre regiões.
A exceção é a Coreia do Sul, que adotou o monitoramento ostensivo de casos suspeitos e de pessoas próximas. As autoridades usam imagens de câmeras de vigilância e até dados do uso do cartão de crédito para saber por onde passaram os contaminados.
Mudanças na jornada de trabalho também são comuns nos países mais afetados: houve paralisações parciais ou totais em fábricas; a Coreia do Sul incentivou empresas a adotar home office ou escalas emergenciais, financiando pequenas e médias empresas que pudessem ter problemas com a medida.
Veja algumas das principais medidas tomadas por esses países:
China
5 de março – Médicos (na parte de cima da imagem) passam por camas vazias enquanto um paciente descansa em um hospital temporário criado para pacientes com o novo coronavírus COVID-19 em um estádio de esportes em Wuhan, na província central de Hubei, na China — Foto: AFP
- Isolou cidades inteiras.
- Suspensão total da circulação do transporte público nas cidades e regiões mais afetadas.
- Paralisação de todas as atividades em Wuhan, cidade epicentro do coronavírus, com recomendação para que todos os cidadãos permanecessem em casa.
- Paralisação parcial ou total da indústria e de serviços em dezenas de localidades.
- Cancelamento das comemorações do Ano Novo chinês, o principal feriado do país.
- Construção emergencial de hospitais; um deles ficou pronto em dez dias.
Itália
Restaurante fica vazio em Veneza; governo da Itália ampliou quarentena para tentar frear o coronavírus — Foto: Manuel Silvestri/AP
- Fechamento total de comércio e serviços considerados não essenciais em todo o país, como funcionamento de lojas e restaurantes.
- Circulação de pessoas entre cidades fica restrita a motivos relacionados a trabalho ou saúde
- Proibição de reuniões públicas, inclusive cerimônias religiosas como funerais e casamentos
- Fechamento de escolas e faculdades
- Suspensão de todos os eventos esportivos, incluindo futebol
- Limitação de visitas em hospitais e outras unidades de saúde
Irã
Trabalhadores desinfetam vagões de metrô em Teerã, no Irã, na manhã de terça-feira (25), contra o novo coronavírus. — Foto: Sajjad Safari/IIPA via AP
- Formação de 300 mil equipes de monitoramento do surto de porta em porta.
- Restrição de deslocamento entre províncias.
- Libertação temporária de mais de 70 mil presos.
- Cancelamento de eventos públicos, incluindo o Ano Novo, comemorado no fim de março.
- Cancelamentos de aulas em escolas e faculdades.
- Redução da jornada de trabalho.
Coreia do Sul rastreia casos suspeitos
Coreia do Sul – Equipe médica usa trajes de proteção em ‘drive-thru’ de centro montado para realizar testes de coronavírus no Centro Médico da Universidade Yeungnam, em Daegu — Foto: Reuters/Kim Kyung-Hoon/File Photo
- Adoção de testes em massa da população. Os parentes de todas as pessoas contaminadas são procurados sistematicamente para que façam testes.
- Rastreamento de pacientes suspeitos por meio de imagens de videovigilância, uso do cartão de crédito ou de telefone celular.
- Envio de SMS à população quando um novo caso é confirmado na área.
- Fechamento de escolas e faculdades.
- Incentivos para que empresas, incluindo pequenas e médias, deixem os funcionários trabalhando de casa ou em horários flexíveis.
- Limpeza e desinfecção de algumas das principais estações de metrô.
EUA restringiram viagens
O governo dos Estados Unidos impôs nesta quarta-feira (11) uma série de restrições de viagem.
As medidas, que passam a valer nesta sexta-feira (13), incluem a proibição de entrada em território americano de todos os estrangeiros que estiveram nos 26 países europeus da chamada Zona Schengen — área de livre circulação de pessoas no continente.
Nesta quinta, vários estados americanos impuseram medidas restritivas duras. O estado de Nova York proibiu reuniões com mais de 500 pessoas. Com a regra, espetáculos da Broadway ficarão cancelados.
França incentivou trabalho à distância
Além de fechar escolas e universidades “até segunda ordem”, o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu a todas pediu a todas as pessoas com mais de 70 anos, doentes crônicos ou com problemas respiratórios que fiquem em casa o máximo possível.
Ele também pediu que empresas facilitem o trabalho à distância pelos próximos dias.
*Colaboraram Lara Pinheiro e Lucas Vidigal
G1