O desabamento do Edifício Andrea deixou 9 pessoas mortas e 7 pessoas resgatadas com vida — Foto: Thiago Gadelha/SVM
Uma das pessoas afetadas pelo desabamento do Edifício Andrea, que aconteceu na terça (15), o comerciante João André Uchôa Gomes tem recebido ajuda de voluntários para retomar a vida após os acontecimentos da última semana. Ele trabalhava há cinco anos no Mercadinho Bom Jesus, que foi atingido pelos destroços do desabamento, e a partir desta segunda-feira (21), vai reiniciar as atividades comerciais em um prédio na mesma rua, cedido gratuitamente por um mês, até que ele consiga se organizar financeiramente.
O desabamento do Edifício Andrea deixou 9 pessoas mortas. Outras 7 pessoas foram resgatadas com vida. No sábado (19), o Corpo de Bombeiros encerrou as buscas por sobreviventes, quando foi resgatado o último corpo que estava nos escombros, o da síndica Maria das Graças Rodrigues, 70 anos. Após o fim dos trabalhos, os socorristas do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Samu prestaram uma homenagem aos mortos na tragédia.
“Antes de eu começar a trabalhar ali, eu já tinha contato com essa pessoa que vai me ajudar agora com esse ponto, porque eu cogitei abrir o meu negócio lá. Aí depois que isso aconteceu, eu fui atrás e ela disse que ia me ajudar”, conta André. Além do aluguel abonado, o comerciante também recebeu doações de água e demais materiais de consumo com os quais já tra
O funcionário público Daniel Serpa, um dos voluntários que está desde terça-feira (15) auxiliando nesse processo, afirma que 50% das doações da sociedade recebidas no ponto de apoio montado próximo ao desabamento foram direcionadas para André. “Os outros 50% nós estamos vendo com as demais famílias afetadas. Algumas querem, outras não”, explica ele.
Documentos recuperados
Na manhã deste domingo (20), o comerciante chegou a entrar no perímetro isolado para retirada dos escombros, e, acompanhado pela esposa e por alguns trabalhadores da Defesa Civil, conseguiu recuperar parte dos documentos que ficaram no Mercadinho Bom Jesus. “Peguei duas carteiras de trabalho, identidade, CPF, documento da moto e umas roupas. Mas tá tudo quebrado, tem só a parede de cima, que pode ‘arriar’ a qualquer hora”, observa.
O comerciante chegou a entrar no perímetro isolado para retirar os documentos dos escombros — Foto: Thiago Gadelha/SVM
André ficou por cerca de 30 minutos no local. “Tava correndo risco, por isso não deixaram a gente ficar muito tempo”, revela. Um representante da Defesa Civil que estava no ambiente no momento da retirada afirma, porém, que o comerciante e a esposa “estavam seguros”, apenas orientando o motorista da retroescavadeira a trazer os documentos junto aos escombros.
No dia da tragédia, ele viu o “prédio quebrando ao meio”. “Tava dentro do mercadinho. Aí quando eu vi, escapei por cima, por uma janela, e saí pelas telhas aqui na outra rua do lado. Foi muito rápido, Deus que me deu força pra subir para o segundo andar do comércio e sair por cima, pela janelinha que eu fiz. A minha sorte foi isso, se não, não tinha como escapar”, recorda.
Visivelmente abalado com a situação, André encontra na solidariedade de amigos e desconhecidos forças para continuar. “Agora é pagar essas contas, que todo mundo têm todos os meses, e continuar a vida, se Deus quiser”, conclui o comerciante.
Vídeo mostra primeiros momentos do desabamento em Fortaleza
O que se sabe até agora
- Edifício Andrea desabou às 10h28 do dia 15 de outubro
- Nove pessoas morreram e sete foram resgatadas com vida
- O prédio ficava no cruzamento na Rua Tibúrcio Cavalcante com Rua Tomás Acioli, a cerca de três quilômetros da Praia de Iracema, região turística da capital cearense
- A prefeitura disse que a construção do prédio foi feita de maneira irregular e ele não existia oficialmente, mas o G1 localizou o registro do imóvel em um cartório da capital: a existência do edifício é conhecida desde 1982
- Testemunhas contaram que o edifício estava em obras
- Vídeo mostra que as colunas de sustentação estavam com situação precária
- Ruas no entorno do edifício foram bloqueadas e sete imóveis próximos ao local do desabamento foram interditados
- O engenheiro técnico apontado como responsável por reforma no edifício esclareceu à polícia que começaria as obras no prédio no último dia 15 de outubro, data em que a edificação desabou.
Falhas na estrutura
A síndica do edifício solicitou, um mês antes do desabamento, um orçamento para recuperação estrutural. No dia de 19 de setembro, a vistoria técnica da empresa detectou pelo menos 135 pontos com falhas estruturais na área do pilotis.
O orçamento pedido pela síndica foi entregue no último dia 30, mas a proposta foi recusada dois dias depois, porque uma concorrente ofereceu o serviço com menor custo.
Durante a visita técnica, eles diagnosticaram rachaduras nos pilares, concreto soltando da armação e ferros soltos. Na casa de bomba, onde é feito o transporte da água da cisterna para a caixa, Alberto Cunha revela que o ambiente concentrava a maior parte das falhas.
Arte mostra onde estava cada vítima de desabamento de prédio em Fortaleza — Foto: Arte G1