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Crise em 2016, volta por cima em 2017: G1 revisita brasileiros e mostra como foi 2018

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Por Marta Cavallini, G1


2016, 2017 e 2018: crise, recuperação e consolidação para Cláudia Barbosa (acima) e Roberto Leite (abaixo) — Foto: Marcelo Brandt, Caio Kenji, Flavio Moraes e Celso Tavares/G1 2016, 2017 e 2018: crise, recuperação e consolidação para Cláudia Barbosa (acima) e Roberto Leite (abaixo) — Foto: Marcelo Brandt, Caio Kenji, Flavio Moraes e Celso Tavares/G1

2016, 2017 e 2018: crise, recuperação e consolidação para Cláudia Barbosa (acima) e Roberto Leite (abaixo) — Foto: Marcelo Brandt, Caio Kenji, Flavio Moraes e Celso Tavares/G1

O ano de 2018 foi marcado pela recuperação, ainda que lenta, da economia. Mas como esse cenário afetou a vida dos brasileiros? O G1 voltou a entrevistar Roberto Leite e Cláudia Barbosa, que tiveram suas histórias de perda do padrão de vida e aperto de cintos contadas em 2016 – e que em 2017 relataram novas perspectivas nos negócios e a recuperação dos hábitos de consumo.

Para eles, 2018 trouxe a consolidação da retomada que foi iniciada no ano anterior. No entanto, apesar de acharem que o cenário econômico vai melhorar, ambos permanecem cautelosos para dar saltos maiores tanto na vida pessoal como em seus negócios.

O casal Mariana Sola e Eduardo Silva, que fez parte das retrospectivas de 2016 e 2017, não quis dar entrevista este ano.

Veja um resumo do que aconteceu com eles entre 2016 e 2018:

  • A empresária Cláudia Barbosa, de 48 anos, viu seu padrão de vida despencar e teve de mudar todos os hábitos de consumo em 2016. Ela se recuperou no ano seguinte e voltou a comprar em mercados de alto padrão e a fazer planos de viagens. Em 2018, ela comemora a expansão e saída da inadimplência de sua empresa, após 3 anos no vermelho, além da troca dos carros da casa e a viagem para o exterior em janeiro.
  • Roberto Leite, de 46 anos, atuava como professor em 2016 e, com a perda do emprego, se tornou motorista de Uber. Em 2017, ele vendeu o carro que usava para trabalhar e investiu o dinheiro no próprio negócio, em sociedade com a mulher, Zuleide, de 40 anos. Em um ano de funcionamento, Leite comemora aumento de 20% no faturamento e as contas no azul.

‘Ano da consolidação’

Cláudia Barbosa em sua empresa na Avenida Paulista em SP: empresária comemora a conquista de novos clientes, contratação de funcionários e novo fôlego financeiro — Foto: Marcelo Brandt/G1 Cláudia Barbosa em sua empresa na Avenida Paulista em SP: empresária comemora a conquista de novos clientes, contratação de funcionários e novo fôlego financeiro — Foto: Marcelo Brandt/G1

Cláudia Barbosa em sua empresa na Avenida Paulista em SP: empresária comemora a conquista de novos clientes, contratação de funcionários e novo fôlego financeiro — Foto: Marcelo Brandt/G1

Se 2015 e 2016 foram os piores anos da vida profissional de Cláudia Barbosa, 2018 foi o ano da consolidação da reconstrução iniciada em 2017. A sua consultoria de seguros e benefícios, há 13 anos no mercado, chegou ao fundo do poço na recessão e amargou três anos seguidos de contas no vermelho. Mas neste ano Cláudia comemora a conquista de novos clientes e a contratação de funcionários – ela quase dobrou o quadro da empresa, situação bem diferente de 2016, quando ela mandou embora quase 90% dos empregados.

Com a melhora dos negócios, Cláudia não foi mais ao atacarejo fazer suas compras. Em 2016, ela teve que ajustar seu padrão de vida aos tempos de recessão e passou a frequentar o estabelecimento que mistura atacado e o varejo no mesmo lugar para manter o poder de compra.

Neste ano, a empresária conseguiu colocar em prática seu projeto de fazer parceria com um grande banco para venda de seguros aos clientes corporativos. Outra conquista foi trocar os carros dela e da filha. Os planos de viagem foram adiados do meio deste ano para janeiro de 2019, quando ela viaja com a filha para a Europa por cerca de 20 dias.

“Eu tive que me reinventar em 2017. O primeiro semestre foi apagado, no segundo eu mudei o escritório de endereço e vislumbrei uma possibilidade de buscar uma abertura de negócios”, diz.

2017: Cláudia em dezembro de 2017, vislumbrando melhora dos negócios após perda de clientes — Foto: Marcelo Brandt/G1 2017: Cláudia em dezembro de 2017, vislumbrando melhora dos negócios após perda de clientes — Foto: Marcelo Brandt/G1

2017: Cláudia em dezembro de 2017, vislumbrando melhora dos negócios após perda de clientes — Foto: Marcelo Brandt/G1

A estratégia de Cláudia neste ano foi oferecer às empresas benefícios com custo mais baixo, fazer parceria com sindicatos e entidades representativas de empresas para ter acesso a novos clientes e ampliar a atuação com pequenas empresas da região metropolitana de São Paulo. Assim, ela começou a colher os resultados no segundo semestre deste ano. Ela comemora que neste final de ano conseguirá dar presentes para seus clientes. “Desde 2015 eu não dava uma caneta para eles”, diz. E é a primeira vez em quatro anos que não teve que pedir empréstimo ao banco para pagar o 13º salário dos funcionários.

Cláudia credita a melhora significativa em seus negócios à retomada da economia e também aos ajustes que fez em sua empresa. Para ela, 2019 será o ano da “consolidação das finalizações”. Cláudia pretende manter a parceria com as pequenas empresas e as entidades que representam funcionários e empresários. E passará a atuar com um cliente de Minas Gerais que está expandindo os negócios para Rondônia e Mato Grosso. “É a primeira vez que vou atuar fora do eixo Rio-São Paulo”, comemora.

Ter passado pela recessão fez Cláudia aprender a importância de guardar dinheiro para a hora que precisar. “Quando veio a crise eu tinha bens, como carro, apartamento e joias, mas não tinha uma reserva em liquidez. Agora aprendi a lição”, comenta.

2016 e 2017: Na crise, a empresária Cláudia Barbosa passou a comprar no atacarejo em 2016 (à esquerda); um ano depois, seu negócio foi bem e ela recuperou hábitos de consumo antigos (à direita) — Foto: Flávio Moraes e Celso Tavares/G1 2016 e 2017: Na crise, a empresária Cláudia Barbosa passou a comprar no atacarejo em 2016 (à esquerda); um ano depois, seu negócio foi bem e ela recuperou hábitos de consumo antigos (à direita) — Foto: Flávio Moraes e Celso Tavares/G1

2016 e 2017: Na crise, a empresária Cláudia Barbosa passou a comprar no atacarejo em 2016 (à esquerda); um ano depois, seu negócio foi bem e ela recuperou hábitos de consumo antigos (à direita) — Foto: Flávio Moraes e Celso Tavares/G1

A empresária diz que agora pensa antes de gastar. “Antes já teria reformado meu apartamento. Caía o dinheiro, eu já gastava. Agora penso primeiro na empresa, não a deixo mais sem fluxo de capital”, diz.

Cláudia conta que fez empréstimo para dois funcionários darem entrada na casa própria este ano – o dinheiro será pago por meio de descontos mensais nos salários. A empresária ainda voltou a pagar o seguro saúde, suspenso desde 2016, e a contribuir com parte da previdência privada dos funcionários. “Todos os dias nos reinventamos, estamos cautelosos e esperançosos”, resume.

‘Estamos melhor que imaginávamos’

2018: Roberto Leite e Zuleide Valeriana da Luz na loja aberta há um ano em Mogi das Cruzes: casal celebra mudança para o interior e movimento acima do esperado  — Foto: Marcelo Brandt/G1 2018: Roberto Leite e Zuleide Valeriana da Luz na loja aberta há um ano em Mogi das Cruzes: casal celebra mudança para o interior e movimento acima do esperado  — Foto: Marcelo Brandt/G1

2018: Roberto Leite e Zuleide Valeriana da Luz na loja aberta há um ano em Mogi das Cruzes: casal celebra mudança para o interior e movimento acima do esperado — Foto: Marcelo Brandt/G1

Quando deixou de ser motorista do Uber para se tornar empreendedor, Roberto Leite previa que a loja de produtos naturais que ele abriu em Mogi das Cruzes (SP) com sua mulher Zuleide Valeriana da Luz em dezembro do ano passado poderia demorar até um ano para decolar. No entanto, as vendas e o faturamento cresceram 20% nos últimos seis meses. E o estabelecimento praticamente dobrou o número de itens vendidos no estabelecimento no período. “Estamos indo melhor do que imaginávamos”, comemora.

Leite não credita a expansão do seu negócio à melhora da economia, mas ao acerto em abrir a loja em um bairro que tinha a demanda pelos produtos, à preocupação em renovar o estoque toda semana e ao rigoroso controle do que é vendido e do que sobra para evitar prejuízos.

Como abriram o negócio com o dinheiro da venda do carro que Leite usou para trabalhar como motorista por oito meses em 2016 e da rescisão do último emprego de Zuleide como gerente de riscos corporativos, eles não precisaram fazer financiamento nem contrair dívidas. E a meta de Leite de não precisar de empréstimo pelo menos no primeiro ano do negócio se concretizou. O dinheiro do investimento – R$ 100 mil – foi usado para renovar o estoque durante todo o ano, comprar equipamentos e fazer obras na loja.

“O que entra é o que paga as despesas e temos uma reserva que só pretendemos mexer em último caso, no desespero mesmo. Não fazemos dívida sem saber se podemos pagar”, afirma Leite.

2017: Roberto e Zuleide em dezembro do ano passado antes da abertura da loja em Mogi  — Foto: Marcelo Brandt/G1 2017: Roberto e Zuleide em dezembro do ano passado antes da abertura da loja em Mogi  — Foto: Marcelo Brandt/G1

2017: Roberto e Zuleide em dezembro do ano passado antes da abertura da loja em Mogi — Foto: Marcelo Brandt/G1

O casal conta que enfrentou dificuldades nos três primeiros meses para levar clientes para a loja. A solução encontrada foi a entrega de folhetos por lojas e casas do bairro. Pouco a pouco, a clientela foi chegando. Leite afirma que teve de criar uma estratégia para competir com o mercado municipal que vende os mesmos produtos. Ele adaptou os preços de sua loja e muitos moradores que iam ao mercadão passaram a comprar deles. O movimento dobrou – nos primeiros três meses entravam na loja cerca de 15 pessoas por dia; hoje são de 30 a 40 clientes.

Zuleide pretendia passar de microempreendedora individual (MEI) para microempresária, mas este ano não foi possível – seria necessário ter faturamento acima de R$ 81 mil. Esse plano ficou para 2019, assim como a contratação de um funcionário.

“A gente continua receoso, não contratamos por causa da incerteza para investir. Mas temos fé que a economia vai melhorar”, diz Zuleide. “O pior já passou, as pessoas estão mais confiantes, entram aqui mais animadas”, afirma Leite.

A vida pessoal do casal também melhorou. Após a contenção de gastos em 2016 e 2017, eles conseguiram passar do celular pré-pago para o pós, comem fora com alguma frequência, compraram o carro da irmã de Zuleide para poder ir para São Paulo encomendar os produtos para a loja, mas mantiveram apenas um cartão de crédito para os dois. Zuleide conseguiu adquirir plano de saúde para os dois e seguro patrimonial para a loja este ano. Além disso, passou a investir em Tesouro Direto.

2016 e 2017: O pedagogo Roberto Leite era motorista de Uber em 2016 (à esquerda); um ano depois, ele começou um negócio próprio (direita)  — Foto: Caio Kenji e Marcelo Brandt/G1 2016 e 2017: O pedagogo Roberto Leite era motorista de Uber em 2016 (à esquerda); um ano depois, ele começou um negócio próprio (direita)  — Foto: Caio Kenji e Marcelo Brandt/G1

2016 e 2017: O pedagogo Roberto Leite era motorista de Uber em 2016 (à esquerda); um ano depois, ele começou um negócio próprio (direita) — Foto: Caio Kenji e Marcelo Brandt/G1

E após 4 meses viajando todos os dias de trem de São Paulo a Mogi das Cruzes, eles conseguiram alugar uma casa na cidade com o dinheiro do aluguel do imóvel em São Paulo. Agora eles moram a uma quadra da loja e já fazem planos de vender o imóvel em São Paulo para comprar uma casa em Mogi das Cruzes.

Sobre abrir outra unidade, Zuleide mantém os pés no chão. “Não pensamos em uma segunda loja, queremos bombar essa primeiro”, afirma. “A gente teve um ato de coragem, mas para ele dar certo tem que andar com cautela”, finaliza.

Avanço lento

A economia brasileira, que entrou em um ritmo de recuperação em 2017 após dois anos de retração, ainda mostra um avanço lento, apesar das três altas trimestrais seguidas do Produto Interno Bruto (PIB). Economistas do mercado financeiro projetam que o ano feche com um crescimento ao redor de 1%.

Variação do PIB trimestre contra trimestre anterior — Foto: Karina Almeida/G1 Variação do PIB trimestre contra trimestre anterior — Foto: Karina Almeida/G1

Variação do PIB trimestre contra trimestre anterior — Foto: Karina Almeida/G1

Essa retomada gradual acabou frustrando as expectativas de que o ano de 2018 seria o da consolidação da recuperação iniciada no ano passado.

Apesar da disparada dos preços da gasolina e do diesel que pesaram no bolso do brasileiro e no custo dos transportes, a inflação permaneceu controlada.

Com isso, a taxa básica de juros, a Selic, se manteve no patamar de 6,5%. Assim, 2018 deve ter o primeiro crescimento do crédito ofertado pelos bancos, após dois anos de recuo, segundo estimativa do Banco Central. O crédito imobiliário também tem apresentado crescimento em relação ao ano passado.

No entanto, o fim da recessão não foi o suficiente para melhorar as finanças do brasileiro. Apesar de a leve recuperação da economia contribuir para o aumento do consumo das famílias, a inadimplência continua elevada entre os brasileiros. Último levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) mostrava mais de 63 milhões de inadimplentes – maior avanço para meses de novembro desde 2011.

Com a recuperação econômica lenta, não houve reflexo na melhora nos níveis de renda e nem em queda considerável do desemprego. O país ainda tem 12,4 milhões de brasileiros desempregados, além de 27,2 milhões de subutilizados, segundo o IBGE.

Apesar do elevado número de desempregados, a taxa de desemprego no Brasil caiu ao longo do ano e ficou em 11,7% no trimestre encerrado em outubro, último analisado pelo IBGE. Foram 7 quedas consecutivas, atingindo o menor percentual desde meados de 2016.

A recuperação no mercado de trabalho, no entanto, vem puxada pelo aumento do trabalho informal e por conta própria. Eram 11,6 milhões de empregados sem carteira assinada em novembro – o maior desde o início da pesquisa, em 2012. Já os trabalhadores por conta própria também bateram recorde, reunindo 23,6 milhões de pessoas.

Após o país perder 2,88 milhões empregos formais entre 2015 e 2017, o país gerou 57,7 mil vagas com carteira assinada no acumulado no ano até outubro, segundo último balanço do Ministério do Trabalho.

Desemprego em 2018 — Foto: Infográfico: Juliane Monteiro/G1 Desemprego em 2018 — Foto: Infográfico: Juliane Monteiro/G1

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