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Empresário lavou dinheiro para Cabral com boliche e curso de inglês

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O empresário John O’Donnel reconheceu à Polícia Federal ter emitido notas frias em nome da empresa de Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador da propina do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB).

Ele entregou à PF uma tabela em que descreve a emissão de comprovantes que somam R$ 1 milhão entre maio de 2011 e fevereiro de 2015.

A maior parte das empresas usadas na operação são de franquias do curso de inglês Brasas, administradas à época por O’Donnel.

De acordo com o Ministério Público Federal, Bezerra usou sua empresa, a CSMB Serviços de Informática, para lavar o dinheiro da propina arrecadada junto a empreiteiras contratadas para obras públicas.

Bezerra está preso no Complexo Penitenciário de Bangu e é réu junto com Cabral no processo da Operação Calicute, da Justiça Federal.

Ele é apontado como o contador informal do grupo ligado ao ex-governador, bem como o responsável por distribuir o dinheiro entre os membros da quadrilha e parentes do peemedebista.

O’Donnel afirmou à PF que foi procurado pelo ex-assessor de Cabral em 2011, que relatou “problemas com o fisco devido à sua movimentação financeira”.

“[Bezerra] Relatou que não tinha uma comprovação de renda [] e solicitou a ajuda para que emitisse notas fiscais em seu favor de forma a gerar uma movimentação financeira”, disse o empresário em seu depoimento à PF.

Os dois são amigos desde a adolescência. O empresário disse à polícia que “desconhecia eventual origem desses como ilícitos ou advindos de propina”.

“Achava inclusive que tais valores fossem uma retribuição pelos serviços que Bezerra prestava a Sérgio Cabral”, declarou aos agentes.

ÔMEGA 3

O relato aponta que Bezerra era o responsável por informar os valores a serem faturados mensalmente.

Emitida a nota fiscal em nome de CSMB, o pagamento era feito por meio de uma transferência, e o ex-assessor de Sérgio Cabral devolvia o valor em espécie, descontados os tributos.

O’Donnel afirma que seu filho notou irregularidades na emissão das notas após assumir as franquias do curso de inglês, em 2015. O empresário disse à PF que “a interrupção [de emissão das notas]gerou uma discussão familiar”.

“Bezerra pediu para que permanecesse mais algum tempo para poder se estruturar diante da falta de notas fiscais”, disse o empresário.

A saída encontrada foi emiti-las por meio de outra empresa da família, a Stricker Bar Serviços de Entretenimento, que funciona nos boliches do Barra Shopping e Norte Shopping. A prática foi suspensa no ano passado, segundo o depoimento. A mudança gerou contratempos na empresa.

Uma funcionária responsável pela administração financeira da Stricker chegou a questionar Bezerra sobre o serviço que estava sendo prestado para a emissão da nota. Ele em seguida enviou um e-mail em tom indignado para que O’Donnel solucionasse a questão.

“Essa moça não foi informada da situação???? Aposto minhas fichas que não… Toma ‘Ômega 3’, maluco”, diz o e-mail de Bezerra para o empresário.

OUTRO LADO

O advogado do empresário John O’Donnel, Marcio Delambert, afirmou que não comentaria o depoimento dado pelo seu cliente à Polícia Federal por ainda estar sob sigilo.

Já o advogado Ranieri Mazzili Neto, que defende Luiz Carlos Bezerra, apontado como um dos principais operadores do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, disse que responderia à Justiça Federal.

O grupo Brasas declarou que os franqueados de suas escolas de inglês têm autonomia financeira sobre suas unidades.

“O Brasas está apurando internamente os fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa, e o gestor da unidade citada está afastado da administração”, diz nota enviada pelo grupo.

Ainda segundo a assessoria da empresa, “o Brasas está comprometido com o esclarecimento dos fatos e já está colaborando com os órgãos competentes”.

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