As tropas do Exército Brasileiro começaram a utilizar tanques e veículos blindados para patrulhar as ruas de Fortaleza, durante a paralisação de parte da Polícia Militar do Ceará. Pelo menos quatro bairros da capital tiveram a segurança realizada por homens das Forças Armadas com uso dos veículos neste domingo (23).
Conforme o comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, o Exército começou a exercer o poder de polícia nas ruas neste domingo. Além disso, o Comando do Nordeste enviou novas tropas, de quatro estados, pra dar um volume de tropa adequado para missão.
“Os blindados serão utilizados para garantir a segurança de quem está dentro. Será um reforço no patrulhamento”, explicou o comandante do Exército no Ceará.
Blindados fazem patrulhamento ostensivo nas ruas de Fortaleza — Foto: Thiago Gadelha/SVM
A atuação do Exército nas ruas é realizada durante o motim dos PMs no estado, que teve início na tarde de terça-feira e ganhou corpo a partir de quarta. Homens encapuzados que se identificam como agentes de segurança do Ceará têm invadido quarteis, impedindo o seu funcionamento, e esvaziado pneus de veículos oficiais.
Os amotinados reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana (PT).
Durante a paralisação da categoria, a Secretaria da Segurança Pública contabilizou 122 mortes violentas, entre quarta e sábado. Neste domingo, o G1 contabilizou outros três assassinatos, com base em delegacias e policiais que atenderam às ocorrências.
Os soldados se dividem em equipes e realizam o patrulhamento nas ruas com veículos blindados, principalmente em áreas de intensa movimentação de pessoas, como Avenida Beira-Mar e Praia do Futuro.
Um agente do Exército que participa da operação contou ao G1 que os soldados estão atuando com os veículos do tipo “EE-9 Cascavel’, que é um blindado brasileiro de seis rodas; e “EE-11 Urutu”, veículo blindado de transporte de pessoal.
Soldados do Exército fazem patrulha nas ruas de Fortaleza com o motim de policiais militares — Foto: José Leomar/SVM
Por conta da crise, o estado recebeu reforço de tropas da Força Nacional e do Exército Brasileiro. Atualmente, a segurança no estado é realizada por 2,5 mil soldados do Exército, 150 agentes da Força Nacional, 212 policiais rodoviários federais, policiais civis PMs de batalhões que não aderiram à paralisação.
Contudo, o comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, afirmou que o estado ainda receberá mais tropas para reforçar a segurança. Mattos disse que o número de soldados foi “inicialmente insuficiente”. O número de soldados, porém, não foi informado pelo comandante. Por conta da crise, o estado recebeu reforço de tropas da Força Nacional e do Exército Brasileiro.
Resumo:
- 5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
- 31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
- 6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
- 13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
- 14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
- 17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
- 18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
- 19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
- 20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
- 21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.
- 22 de fevereiro: Ceará soma 122 homicídios desde o início do motim. Antes do movimento dos policiais, a média era de seis assassinatos por dia. O Exército anunciou um reforço na segurança.
- 23 de fevereiro: Senador Cid Gomes recebe alta hospitalar após cinco dias de internação.
Exército vai manda mais homens para reforçar a segurança no Ceará
Policiais punidos
O governo do Ceará afastou 167 policiais militares que participam dessa paralisação. O afastamento dos envolvidos no motim deve durar 120 dias e os agentes já serão retirados da folha de pagamento do governo a partir deste mês.
A abertura de processos disciplinares contra os militares afastados ocorrerá de duas formas. A primeira envolve os inquéritos militares, cujo julgamento acontecerá na Justiça Militar. O segundo consiste no procedimento administrativo disciplinar realizado pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD).
Além disso, a Polícia Militar do Ceará classificou 77 policiais militares como “desertores”. Eles faltaram a uma convocação para trabalhar na segurança de festas de carnaval no interior do estado.
Reivindicação dos policiais
Policiais do Ceará se reuniram com senadores para ouvir propostas do governo estadual. — Foto: Kid Junior/SVM
Os PMs têm feitos os motins para pressionar o governo por aumento salarial. A proposta da gestão é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022.
O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano, de forma integral.
Na noite de quinta-feira (20), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. No entanto, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou que o perdão é inegociável.
G1 CE