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Fiocruz é autorizada a divulgar estudo sobre uso de drogas que foi censurado pelo governo federal

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Advocacia Geral da União (AGU), o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entraram em acordo para liberar a divulgação de um estudo sobre uso de drogas por brasileiros que custou R$ 7 milhões e tinha sido censurado pelo governo federal.

A pesquisa, que agora está disponível na internet, aponta que não existe uma epidemia do uso de drogas no Brasil. O Governo Federal discorda deste resultado.

A divulgação do estudo desenvolvido pela Fiocruz havia sido proibida pelo governo federal em maio. Segundo o Ministério da Justiça, a metodologia utilizada na pesquisa não cumpriu todas as exigências do edital.

A Fiocruz não concorda e afirma que cumpriu todas as exigências propostas.

O acordo preliminar para a divulgação do estudo prevê que “os conteúdos do relatório final da pesquisa, do sumário executivo e dos suplementos produzidos pela Fiocruz sejam disponibilizados à sociedade”.

Segundo a nota divulgada pela AGU e pelo Ministério da Justiça, o objetivo da liberação é promover a transparência e acesso aos dados científicos da pesquisa. A nota informa também que novos debates serão travados para definir se a Fiocruz cumpriu ou não todas as exigências do edital.

O acordo prevê também que as partes envolvidas “concordaram em promover a divulgação do estudo sem tecer considerações, neste momento, sobre o mérito do cumprimento ou não dos termos do edital”.

Como foi feita a pesquisa

Financiada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão do Ministério da Justiça, a pesquisa ouviu mais de 16 mil pessoas. Ao todo, 500 profissionais de diferentes áreas – entrevistadores de campo, pesquisadores da área de epidemiologia e estatística – participaram do trabalho, realizado entre 2014 e 2017.

O orçamento para fazer o estudo, chamado “Terceiro levantamento nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira”, era de R$ 8 milhões. A Fiocruz informou que gastou R$ 7 milhões e devolveu ao governo R$ 1 milhão.

Segundo fontes ouvidas pela TV Globo, a pesquisa mostra que 9,9% dos brasileiros entre 12 e 75 anos experimentaram alguma droga ilícita na vida. O IBGE não tem o número exato da população nessa faixa etária.

A TV Globo apurou que a conclusão da pesquisa é de que não existe uma epidemia do uso de drogas no Brasil.

Governo censura pesquisa da Fiocruz sobre uso de drogas no Brasil
Jornal das Dez
Governo censura pesquisa da Fiocruz sobre uso de drogas no Brasil

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Ministros não concordam

O ministro da Cidadania, Osmar Terra, vem contestando os resultados do estudo, que deveriam ter sido divulgados em 2017. No início de maio, numa entrevista à GloboNews, ele colocou em xeque a credibilidade da Fiocruz.

“A Fiocruz tem viés de defender a liberação das drogas. A Fiocruz trabalha há muitos anos para provar que não é problema o consumo de drogas. E a Fiocruz tem um papel extraordinário nas pesquisas sobre vacinas, sobre medicamentos. Mas, infelizmente, na área de pesquisa sobre drogas é um grupo totalmente comprometido com a liberação, que quer mostrar que não tem epidemia”, disse.

O Ministério da Justiça de Sérgio Moro informou, em nota, que a metodologia usada na pesquisa impede a comparação dos resultados com o primeiro e o segundo levantamentos, como era exigido no edital.

Em um ofício enviado no dia 2 de abril à Fundação Oswaldo Cruz, o Ministério da Justiça afirmou que, por este motivo, a publicação das informações ali contidas “prescinde” – não depende – de autorização do Ministério, contanto observado que a pasta não seja citada e que o título do estudo seja editado.

Em nota, a Fiocruz rebateu o governo. Disse que todos os critérios solicitados (no edital) foram devidamente atendidos: “Que o levantamento que fez é mais amplo do que os anteriores. E usou o mesmo plano amostral adotado pelo IBGE para a realização da pesquisa nacional por amostra de domicílio, o que permite um cruzamento desses resultados com dados oficiais do país”.

A Fiocruz ponderou também que houve mudanças na demografia do país “desde as últimas pesquisas e nos critérios adotados para classificação de dependência”. Por isso, uma “comparação dos dados atuais com os anteriores não poderia ser feita de maneira simplista e direta, mas sim a partir de análises estatísticas específicas”. A Fiocruz disse que entregou “análises comparativas que utilizaram três abordagens diferentes”. A Fundação afirmou que continuará respeitando o edital e tornará público o relatório apenas após a “anuência” — autorização — do Ministério da Justiça.

G1

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