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Formigas lava-pés são mais um risco nas ruas inundadas de Houston

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Formigas lava-pés são mais um risco nas ruas inundadas de Houston

Andrew Burton – 29.ago.2017/The New York Times
FILE-- A ball of fire ants is seen floating through a neighborhood after the area became flooded in Houston, Aug. 29, 2017. The streets in Texas flooded by Hurricane Harvey brought upheaval to nature?s earthbound creatures, but certainly among the creepiest images to emerge were the rust-colored mounds formed by colonies of fire ants, when disturbed, become aggressive and bite. (Andrew Burton/The New York Times)
Formigas lava-pés, que são “repelentes”, flutuam nas águas de uma enchente em Houston, Texas

CHRISTINE HAUSER
DO “NEW YORK TIMES”

A inundação de ruas do Texas pela tempestade Harvey causou perturbações para as criaturas terrestres, tirando-as de seu habitat natural e levando-as a um mundo tomado pela água.

Pessoas caminhavam com água até o peito, carregando crianças. Crocodilos flutuavam semiocultos em quintais. Um homem encontrou um peixe em sua casa. Morcegos tiveram de ser removidos de pontes. Cabeças de gado caminhavam penosamente pelas ruas.

Mas uma das imagens mais perturbadoras a emergir do desastre foi certamente a das pilhas de formigas lava-pés, uma consequência assustadora da tempestade que atingiu o território norte-americano inicialmente na semana passada e despejou nível recorde de chuva sobre o sul do Texas.

Pouco depois de as águas subirem, o espírito empreendedor e de autopreservação comunitária dos insetos se manifestou. Eles deixaram seus sistemas de túneis subterrâneos e, agarrados uns aos outros em forma de grandes balsas ou bolas flutuantes, se deixaram arrastar pela corrente.

As formigas, que têm seus corpos blindados revestidos por uma substância que repele água, se tornaram um subtexto “repulsivo” para as histórias de dor e de resgate nas ruas inundadas de Houston, criando “um rio repleto de pesadelos”, nas palavras do jornal “Houston Chronicle”.

Mike Hixenbaugh, repórter médico do “Houston Chronicle”, gravou um vídeo mostrando uma dessas aglomerações de formigas enquanto trabalhava em uma reportagem sobre a inundação em Cypress Creek, segunda-feira. Ele afirmou via e-mail, mais tarde naquele dia, que havia pisado em outro aglomerado de formigas lava-pés, e como resultado havia “rasgado meu tornozelo/pé”.

“As mordidas coçam por dias”, ele afirmou.

Online, o vídeo inspirou reportagens sobre as formigas em revistas como a “Wired” e sites como o “The Verge”, e em outros veículos.

As pessoas recorreram ao Twitter para compartilhar histórias sobre as minúsculas criaturas.

“Um grupo do tamanho de uma bola de golfe foi arrastado pelas águas e terminou parando no meu pé, na inundação perto de Austin”, escreveu uma dessas pessoas, acrescentando que ele “gritou” e “correu para casa para tomar um monte de Benadryl” [remédio anti-histamínico].

“Nunca li a Bíblia mas, pelo que ouvi, essa história parece o que o livro do Apocalipse descreve”, escreveu outra pessoa em resposta a um dos tuítes de Hixenbaugh.

As formigas lava-pés são naturais da América do Sul e se adaptaram para sobreviver a inundações nas terras alagadas brasileiras. Nos Estados Unidos, elas se concentram principalmente na região sudeste, mas também existem populações menores no Novo México, Arizona e Califórnia.

Se perturbadas, elas se tornam agressivas e mordem, se agarrando às vítimas com suas mandíbulas e injetando um veneno ardido que queima e causa pústulas repletas de fluido. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, o tratamento inclui injeções de epinefrina ou anti-histamínicos. As alergias causadas por mordidas de insetos podem ser fatais.

Os cientistas estudam as formigas por sua capacidade incomum de se manterem agarradas umas às outras. Em julho, o site Vox fez um vídeo sobre as formigas mostrando que se mantinham unidas com tamanha força que podiam ser carregadas em massa e transferidas de superfície a superfície. Quando um desses aglomerados é cutucado, a superfície se contrai e volta a se expandir.

Se sujeitos a períodos mais longos de perturbação, os aglomerados de formigas funcionam como um fluido. Quando uma moeda é lançada sobre um agregado de insetos, o grupo se reforma lentamente em torno do objeto.

Cientistas da Universidade Georgia Tech vêm estudando a física e o comportamento dos aglomerados de formigas lava-pés, cuja consistência, segundo eles, pode ser semelhante à da gelatina ou ter um fluxo parecido com o do ketchup.

Isso acontece porque as formigas se unem pelas pernas –100 formigas significam 600 pernas–, criando uma rede flexível que repele líquidos devido ao revestimento de seus corpos. “Elas formam um tecido à prova de água”, disse David Hu, que estuda as formigas lava-pés na Georgia Tech.

As formigas vivem em sociedades organizadas conhecidas como colônias, que podem ter dezenas de milhares de membros. Elas recolhem comidas e se se reproduzem. São lideradas por uma rainha –o único membro capaz de reprodução, de acordo com Lawrence Gilbert, diretor do laboratório de espécies invasivas na Universidade do Texas em Austin.

As formigas lava-pés costumam subir à superfície durante tempestades tropicais e furacões. Se a água varre seus túneis –alguns dos quais atingem, profundidade de até 120 centímetros–, elas tentam escapar carregando suas larvas, pupas e alimentos.

“Imagine-se como formiga em uma mina com túneis verticais”, disse Gilbert. “Você tem de apanhar seus bebês e correr túnel acima. Elas se movem em massa para o topo, como pessoas buscando refúgio no topo de um edifício”.

Aquelas que ficam por baixo da pilha trocam de lugar com as do topo, mais tarde, e a massa gira interminavelmente em torno dos filhotes e da rainha da colônia. “Elas provavelmente precisam se movimentar para evitar afogamento”, ele disse.

Elas são capazes de flutuar por dias, até encontrarem um tronco ou margem. Se uma colônia se choca com outra, as duas disputam território.

As formigas podem ser agressivas e sorrateiras. Gilbert diz que as formigas lava-pés podem subir pelas pernas da calça de uma pessoa que esteja parada sobre um formigueiro sem saber. “A pessoa não sente coisa alguma, por um minuto”, ele disse. “Elas estão reunindo forças”.

As formigas estão em busca de pelos aos quais se agarrar, afirmou.

“A pessoa pode sentir cócegas, mas de repente elas encontram apoio e podem cravar seus ferrões”, ele disse. “E quando uma delas pica, isso libera um feromônio que leva todas as formigas a picarem juntas. A sensação é como a de ter pisado em fogo”

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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