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‘Lula quase destruiu o Brasil’, diz Doria em entrevista ao Correio

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Mantidas as condições atuais, em que os principais nomes do PSDB se encontram com algo a explicar perante o eleitorado, resta ao partido apostar na projeção da sua maior novidade, o prefeito de São Paulo, João Dória. E ele, por sua vez, encontra-se à vontade nesse papel, haja vista a disposição de participar em qualquer evento onde possa passar o seu recado a um público distante do paulistano. Na última semana, por exemplo, fez isso no V Seminário Luso-Brasileiro de Direito, comandado pelo Instituto de Direito Público (IDP), do ministro Gilmar Mendes, e pelo professor Carlos Blanco, da Faculdade de Direito de Lisboa. O tema do seminário era Constituição e governança nos seus mais diversos aspectos.

A palestra de Dória deveria versar sobre governança em saúde. Ele citou os programas que empreende nesse setor, mas não deixou de inserir pílulas de críticas ao PT e avisos de que não concorrerá a mais um mandato de prefeito. Para completar, deixou a muitos a sensação de que começa a construir um discurso para fazer quatro anos em dois. “Acordo cedo, durmo tarde, trabalho muito. É possível fazer oito anos em quatro”, disse na palestra. Para muitos, está dada a senha para dizer mais à frente que fará quatro anos em dois.
 
A passagem por Lisboa foi meteórica, tempo de falar para a seleta plateia de advogados, juristas e alunos de direito da universidade que acompanhavam o seminário, em sua maioria brasileiros. Foi aplaudido quatro vezes durante sua fala, que durou os exatos 20 minutos previstos. A caminho do aeroporto, concedeu entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, quando defendeu o financiamento empresarial de campanha e se mostrou disposto a percorrer o país, no próximo ano, para evitar que Lula volte à presidência. “É inadmissível que um homem que quase destruiu a Nação queira vir agora ser candidato sob a alegação de salvar o Brasil. Salvar o quê?”, questiona ele. Para quem diz que não é candidato a presidente, nem político, o prefeito de São Paulo parece seguir no caminho inverso.
O senhor disse que não pretende ser candidato a presidente da República. Mas, reza a lenda, candidatura presidencial não depende apenas de vontade pessoal. Se o partido disser que o nome é o senhor, como fazer?
O partido ainda não disse, então, não posso me manifestar sobre algo que não ocorreu. 2018 está distante ainda, a minha responsabilidade é ser administrador, gestor, fazer aquilo que devo fazer. Fui eleito prefeito da cidade de São Paulo, temos muitos problemas, muitas tarefas a serem cumpridas e muitas respostas a oferecer à população. É o que eu tenho feito. Trabalhado duramente. E fico feliz de ter uma boa avaliação evidentemente nesses primeiros 110 dias como prefeito da maior cidade brasileira, mas a maior contribuição que posso dar à democracia do meu país é continuar sendo um bom prefeito, trabalhar cada vez mais, com mais eficiência, mais transparência.
O senhor também disse que, se pudesse influenciar no Congresso, reduziria os impostos na área de medicamentos. Há quem diga que foi um ato falho de candidato a presidente da República, não é?
(Risos… ) Não, é um ato consciente, de um prefeito. Diante das doações que conseguimos de medicamentos, de laboratórios brasileiros e multinacionais, me vi diante de uma questão, 19% de imposto. Diante de uma doação obtida de R$ 126 milhões, como eu posso imaginar que esses laboratórios têm que pagar mais de R$ 20 milhões de imposto sobre medicamentos que estão doando para a população pobre e necessitada da cidade? Evidente que é um critério injusto. Não é correto que se cobre imposto sobre doação de medicamentos. E, a meu ver também, 19% sobre medicamentos é um acumulativo de impostos muito elevado. Medicamento é um bem necessário, ninguém toma medicamento pelo prazer de tomar. Toma porque precisa tomar. Entendo que a redução gradual sobre impostos aplicados a medicamentos devesse ser algo a ser estudado pelo Congresso e pelo governo.
Entrando na questão da Lava-Jato, vários personagens do PSDB foram citados na delação da Odebrecht e responderão a processo. Como o senhor avalia essas citações?
Citação não é condenação. Todos aqueles que citados foram devem ser investigados e ter direito à plena e ampla defesa. Essa é a forma correta, seja qual for o partido, a posição, o cargo, a idade ou o sexo. Deve responder e deve ter direito à ampla dessa. E aqueles que tiverem por circunstância a condenação da Justiça devem cumprir. A Justiça é feita para todos, não para alguns.
O governador Geraldo Alckmin, que o senhor já anunciou como seu candidato a presidente da República, também está citado. Se não der tempo de o julgamento ser concluído antes da eleição, o senhor acha que ele deve concorrer, ainda que seja com essa espada sobre a cabeça?
O governador Geraldo Alckmin é um homem de bem. Antes de tudo, correto, descente, com uma bonita trajetória construída em sua carreira política e também como cidadão. Eu o conheço há 37 anos. Nunca vi um gesto, uma atitude, uma manifestação, uma palavra que pudesse desaboná-lo. Continuo tendo plena confiança no seu histórico como político, como homem público. Continua sendo o meu candidato à Presidência da República e espero que ele tenha toda a oportunidade de formular a sua defesa e provar a plena inocência.
Tucanos já disseram em Brasília que, no caso de Lula ser candidato, o senhor é o nome para concorrer com ele, porque tem feito um enfrentamento direto desde já. Nesse caso, o senhor abriria aí uma exceção nesse “não sou candidato”?
Muito bem formulada a sua pergunta. Muito habilidosa também. Mas não sou candidato. Sou prefeito. Além disso, como cidadão brasileiro, serei sempre opositor ao ex-presidente Lula. O ex-presidente Lula quase destruiu o Brasil. Então, é inadmissível um homem que quase destruiu a nação, que impôs o maior assalto ao dinheiro público jamais visto na história da humanidade, que ofereceu três anos de recessão, 13 milhões de desempregados, queira agora voltar a ser candidato e disputar sob a alegação de que é o salvador do Brasil. Salvar o quê? Salvar o Brasil daquilo que ele e o seu partido, o PT, na sua maioria, indignaram a nação, a população e a imagem do Brasil? Ora, que tenha o mínimo de consciência do mal que fez e do mal que vai responder. Nesse sentido, serei mais do que tudo um cidadão, um brasileiro. E vou usar toda a força da minha voz. Mesmo não sendo candidato, como não sou, não deixarei de usar a minha voz, a minha força, a minha credibilidade para impedir que isso volte a ocorrer e esse mal retorne ao Brasil.
Mesmo se não for candidato, o senhor se dispõe a correr o país numa cruzada anti-PT ou anti-Lula?
Ao lado de quem merecer a indicação, seja pelo PSDB ou por um conjunto de partidos que possam impedir que esse mal volte a ocorrer no Brasil, eu estarei disposto a qualquer sacrifício.
E em relação ao caixa dois de campanha, um assunto que está em voga? O senhor é a favor da anistia?
Todo crime é crime. Não há crime para uns que não seja para outros. O que eu entendo é que o Tribunal Superior Eleitoral deve mudar o sistema. O sistema como está neste momento, não é bom, não é adequado, embora a intenção tenha sido boa, sobretudo na última mudança, até com ganhos qualitativos, mas não o suficiente para impedir a utilização do caixa dois em campanhas. Eu não usei como candidato a prefeito de São Paulo. Financiei a maior parte da minha própria campanha, mas entendo que isso também não é justo, não é correto. Eu pude, tinha e tenho recursos suficientes para fazê-lo. E quem não tem? Não terá direito a disputar e a concorrer ou terá que usar o caixa dois para exercer esse direito? Já manifestei inclusive isso ao ministro Gilmar Mendes, o TSE deveria estudar uma fórmula para permitir doações de empresa privadas a campanhas políticas com limites de valores e com mecanismos de controle que, hoje, graças à internet, à maior eficiência da Receita Federal, do sistema bancário e dos controles do Banco Central, é perfeitamente possível de se fazer. Até o dia em que o Brasil, em condições financeiras adequadas, o governo, o poder público, possam financiar integralmente campanhas. Hoje, é impossível você imaginar, a cada dois anos, a sangria de recursos para campanhas políticas de um país que deve para a educação, para a saúde, para a habitação popular, para o transporte, para a assistência social.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propôs a criação do financiamento privado mediante fundo que seria distribuído aos partidos para custear as campanhas. O senhor considera uma boa saída?
Considero nobre a sugestão, mas inviável na prática. Evidentemente que empresas e pessoas desejarão contribuir com aqueles candidatos que têm mais proximidade com seus ideais, com seus princípios e suas próprias defesas, isso é muito natural. Embora nobre, a proposta, ainda mais vindo de alguém com a grandeza do ex-presidente Ferrando Henrique, não vai funcionar. Seria melhor que isso pudesse ser revisado. Nada contra a existência de um fundo, mas ele pode ter a destinação de recursos orientada por aqueles que querem fazer as suas próprias opções. Seria o mesmo que você imaginar que teríamos contribuições pessoais, você, eu, qualquer leitor do Correio Braziliense, só que destina para um fundo e não para um candidato. Ora, você vai alijar o seu direito de fazer a opção pelo candidato ou pela candidata que você deseja ver no Legislativo ou no Executivo? Evidentemente que não.
O senhor diz que não é político, mas faz todo um discurso político e obtém sucesso. A que o senhor atribui esse sucesso, uma vez que seu discurso parece ser o mais político dos políticos. Como é que é isso?
Respondendo à primeira parte da pergunta, sendo gestor, administrador. O que fiz nesses 110 dias foi administrar a prefeitura de São Paulo sem recursos, com um rombo de R$ 7,5 bilhões e mesmo assim fiz. Realizei. Em vez de lançar a culpa sobre o meu antecessor, reclamar, chorar e dizer que, pela falta de recursos, nada podemos fazer, arregacei as mangas, montei uma boa equipe, um bom time, estabelecemos metas, princípios de trabalho, fomos buscar recursos no setor privado e, de forma eficiente, iniciamos uma gestão inovadora na cidade de São Paulo. Isso projetou nacionalmente. Ficou feliz pela projeção, pela aceitação e até pelo resultado das pesquisas, mesmo para alguém que, como eu, não é candidato, exceto a continuar sendo prefeito de São Paulo.
O senhor também mencionou que não é candidato à reeleição. Vai sugerir que acabe?
Quem tem que sugerir isso é o meu partido. Essa é a minha posição. Creio que não é a do meu partido, mas sou contra a reeleição. Sou a favor de um mandato de cinco anos sem direito à reeleição.
E o que deveria ser ser aprovado hoje?
Reforma política. Essa é a mãe de todas as reformas.
E a lista fechada?
Não sou a favor, porque ela não é representativa.
Correio Brasiliense
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