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Maternidade-Escola realiza pela primeira vez no Ceará cirurgia em bebê ainda no útero da mãe

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A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizou no último domingo (26) a primeira cirurgia feita no estado do Ceará para corrigir uma má-formação congênita de um feto ainda dentro do útero da mãe.

No procedimento, a principal inovação na técnica utilizada é que ela é feita “a céu aberto”, ou seja, os médicos colocam o útero da paciente para fora e fazem uma pequena incisão no órgão, através da qual operam a coluna do feto. Em seguida, fecham as incisões e o útero é inserido novamente no abdômen da mãe. A duração foi de 3 horas e 30 minutos. A gestação segue normalmente até o nascimento do bebê, geralmente prematuro.

A cirurgia foi coordenada pelos professores Edson Lucena e Herlânio Costa, da Faculdade de Medicina da UFC, e viabilizada com a vinda de quatro médicos de São Paulo: os neurocirurgiões Sérgio Cavalheiro e Italo Suriano, e os obstetras fetólogos Antonio Fernandes Moron e Maurício Barbosa.

Além deles, participaram também o neurocirurgião pediátrico Eduardo Jucá e a anestesiologista Fernanda Castro e equipe com mais de 20 profissionais.

Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto: Divulgação/UFCOs médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto: Divulgação/UFC

Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlânio Costa, do Complexo Hospitalar da UFC comemoraram o sucesso da cirurgia. — Foto: Divulgação/UFC

Mais chances de sucesso

“O procedimento melhora o prognóstico dessas crianças no sentido motor, neurológico e no desenvolvimento em toda a sua vida, com menor taxa de hidrocefalia. Já há evidências científicas consistentes de que quando a cirurgia é realizada intra-útero o resultado neurológico é melhor do que a cirurgia pós-natal”, explica o Professor Edson Lucena.

O professor Herlânio Costa ressalta a importância do diagnóstico precoce. Segundo ele, a cirurgia “a céu aberto”, deve ser feita entre a 24ª e a 26ª semanas de gravidez “para que haja tempo de orientação adequada e preparo da paciente e a família possa tomar sua decisão”. A mielomeningocele já pode ser cogitada no ultrassom morfológico de 1º trimestre, entre 11 e 14 semanas de gestação, e confirmada a partir da 15ª semana, em geral, no morfológico de 2º trimestre, de 18 a 24 semanas, conforme aponta o especialista.

Busca pelo tratamento

A enfermeira Fernando Oliveira veio de Russas e se recupera bem do procedimento cirúrgico — Foto: Divulgação/UFCA enfermeira Fernando Oliveira veio de Russas e se recupera bem do procedimento cirúrgico — Foto: Divulgação/UFC

A enfermeira Fernando Oliveira veio de Russas e se recupera bem do procedimento cirúrgico — Foto: Divulgação/UFC

A enfermeira Fernanda Oliveira, que mora em Russas, a 150 km de Fortaleza, já é mãe de uma menina de cinco anos que também tem mielomeningocele. As limitações no desenvolvimento da primogênita foram a principal motivação para que a família buscasse um tratamento precoce para a bebê que está sendo gerada.

“Busquei informação em todo o país, mas a cirurgia particular era impossível para nós. Foi um especialista de Curitiba quem me indicou o Dr. Herlânio, aqui da MEAC”, contou. A partir da primeira consulta na Maternidade-Escola, a família e o hospital se organizaram rapidamente para a cirurgia. Três dias após o procedimento, Fernanda segue se recuperando muito bem, conseguindo andar, estando medicada e sem dor.

O marido e a mãe também estão dando todo o suporte. “É uma vitória de toda a família. A saúde da Giovana vai ser importante até mesmo para a qualidade de vida da Beatriz, que demanda muito nossa atenção. Não temos palavras para agradecer a Deus e a todos os profissionais envolvidos”, conclui a paciente.

Balanço e perspectivas

Em entrevista ao G1, o Dr. Herlânio Costa, Médico Obstetra da MEAC, disse que a escolha da paciente para esta primeira cirurgia foi a partir de uma ligação que ele recebeu de Curitiba informando que havia uma gestante do Ceará querendo ser operada por lá. “Prontamente ele (médico de Curitiba) me pôs em contato com ela. Após avaliação ultrassonográfica e por ressonância magnética confirmamos os critérios de elegibilidade e agendamos para o melhor período.

Segundo Herlânio, a equipe completa com médicos especialistas em medicina fetal e neurocirurgiões, já estava preparada e treinada por profissionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para realizar o procedimento.

Conforme o especialista, a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC) é um dos poucos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a realizar cirurgias desse tipo. A estimativa é de que passem a ser feitas cerca de três a quatro por ano, mas essa demanda deve aumentar. O procedimento ficará acessível a toda a população.

O procedimento realizado no bebê de Fernanda foi considerado um sucesso pelos médicos e contou integralmente com a participação da equipe de profissionais da maternidade. “É uma cirurgia de alta complexidade e contamos com uma ampla equipe para o resultado satisfatório. A gestão, especialmente na pessoa do Dr. Carlos Augusto, deu total apoio na condução desse processo. Tornou um sonho realidade. Agora iremos beneficiar muitas outras pacientes, que não precisarão mais se deslocar para outros centros”, concluiu Herlândio Costa.

Mielomeningocele

Também conhecida como espinha bífida aberta, a mielomeningocele é uma má-formação congênita da coluna vertebral do bebê em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas. O defeito surge antes da 8ª semana de gestação. Se não for corrigido, traz graves sequelas no desenvolvimento neurológico da criança. As causas são multifatoriais, podendo ser genéticas ou ambientais.

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia estima que, a cada 1.000 nascimentos, um a dez bebês podem ter essa condição. Por isso, a medicina fetal tem concentrado esforços para tentar corrigir com o máximo de precocidade, evitando danos mais severos. A técnica mais comum é uma neurocirurgia nos primeiros dias após o nascimento. Mas nos últimos anos, a cirurgia no bebê ainda no útero da mãe tem sido a opção mais eficaz.

G1 CE

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