Equipe Focus
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Em entrevista na revista Época, concedida ao jornalista Luis Lima, Ciro Gomes (PDT) volta a criticar a sentença que decretou a prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer (MDB). “Minha consciência de cidadão e minha formação jurídica me obrigam a afirmar que esta prisão, feita como foi, viola a Constituição, porque a regra é a liberdade. O Brasil não pode comemorar a violação da lei, mesmo que seja para fazer aquilo que se alega ser justiça. O nome disso é justiçamento. Isso não se sustenta”.
Além do caso Temer, Ciro aborda outras questões relacionadas à política. O PT, o presidente Jair Bolsonaro e a possível candidatura em 2022 também são alvos de sua avaliação.
Vejam alguns pontos.
Prisão de Temer
Se tem um brasileiro que acha que o Michel Temer merecia estar condenado e preso, sou eu. Não quero diminuir a militância de ninguém, mas, de fato, eu denuncio. Fui processado por ele e fui condenado, por essa fração estranha do Judiciário brasileiro, a indenizá-lo. Fui processado pelo Eduardo Cunha, que era parceiro e sócio dele. Estou cansado de saber desde o caso do porto de Santos que Temer é um corrupto sistemático. Virou presidente do PMDB [atual MDB]porque topou o serviço sujo de juntar dinheiro para pagar as contas dos colegas e tirar um pedaço para ele. Eu poderia estar comemorando essa prisão. Entretanto, minha consciência de cidadão e minha formação jurídica me obrigam a afirmar que esta prisão, feita como foi, viola a Constituição, porque a regra é a liberdade. O Brasil não pode comemorar a violação da lei, mesmo que seja para fazer aquilo que se alega ser justiça. O nome disso é justiçamento. Isso não se sustenta.
“A Lava Jato perdeu o sentido”
Fica a “petezada” desfazendo a Lava Jato e esquece que o Eduardo Cunha está preso. O PT botou o Temer, e todos nós sabíamos [dos problemas]. Agora a Lava Jato, a pretexto de fazer a coisa na direção correta, comete erros muito graves. O Lula foi condenado em duas instâncias, e, ainda que seja estranho em um país com quatro graus de Jurisdição determinar a execução da pena na segunda instância, definitivamente não é o caso do Temer. Ele não foi condenado ainda, como deveria ter sido há 20 anos, em nenhuma instância. É muito constrangedor. A Lava Jato perdeu completamente o sentido.
“Bolsonaro catatônico”
[A operação que prendeu Temer e Moreira Franco] Parece ser muito mais uma confrontação com o Supremo Tribunal Federal. O Deltan Dellagnol [procurador]já está falando mal do STF sem muito pudor ou cuidado. De qualquer forma, o brasileiro médio, como eu, fica apavorado. É a barbárie. Estamos no meio de uma briga de foice no escuro entre as instituições que têm a responsabilidade de dar segurança jurídica para a gente viver. É o esfacelamento da República. E isso porque não temos liderança. O Bolsonaro assiste a tudo, catatônico.
“Filhos patéticos” e mais Olavo de Carvalho X Hamilton Mourão
Atrapalha de forma completa a governabilidade. Revela o despreparo do Bolsonaro, a incapacidade absoluta de coordenar seu próprio governo, de manter a orquestra sob regência. Que o Mourão está de olho na cadeira presidencial. Só um pato não vê. De outra forma, o Bolsonaro confraternizar com Olavo nos Estados Unidos, com o [Stephen] Bannon, esses filhos ridículos, patéticos, é um sinal de confusão, de desgoverno.
“Não aceito mais conviver com o lado bandido do PT”
Não tem perdão nem mágoa [com Lula e o PT]. Eu não falei que o PT estava fazendo isso comigo [inviabilizar a candidatura]por mágoa, inveja, coisa nenhuma. Via que estavam fazendo política sem escrúpulos, pura e simples. Isso é política. Não tem essa história de mimimi, queixa ou mágoa. Agora, entendam: eu também estou fazendo política. Eu não aceito mais conviver com o lado bandido do PT.
Vem muita confusão com poder de combustão monstruoso
É uma ideia lisonjeira [ser candidato em 2022]. O partido me pediu permissão, mas, evidentemente, vou ter de pensar 100, 1.000 vezes… Vem muita confusão por aí, e essa confusão tem um poder de combustão monstruoso. Espero que ela possa produzir coisas novas e boas para o país. Não sou reativo, porque eu gostaria de ser presidente do Brasil. Eu gostaria muito. Mas já fui preterido três vezes. Tenho modéstia… É muito estimulante. Mas daí a ser candidato novamente, depende da condição prática que teremos lá na frente. Continuarei estudando, me atualizando e trabalhando.