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“Pior seria se tivesse me omitido”, diz Roberto Cláudio sobre caso dos respiradores; veja entrevista

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O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), entra no último semestre de sua gestão com três questões desafiadoras a administrar: a pandemia do coronavírus, as obras na cidade, cujo prazo de entrega foi impactado, e a própria sucessão que tem se dividido em duas: a escolha do candidato no próprio partido e o fogo cruzado com a oposição.

Em entrevista, o prefeito relembra as medidas de isolamento social, faz balanço positivo do combate à Covid-19, se explica sobre a operação dos respiradores e eleva o tom contra o principal opositor, Capitão Wagner, afirmando que o maior desafio do grupo governista na eleição deste ano será enfrentar o “radicalismo”.

Essa pandemia trouxe aspectos atípicos para a gestão pública. A gente já pode dizer que a pandemia, em Fortaleza, está controlada?

Não. Ela está numa tendência estável e contínua em queda. Já estamos na 12ª semana após o pico. Após a 20ª semana que foi o nosso pior momento em Fortaleza, essa é a 12ª semana em queda. Entretanto, não podemos dizer que a pandemia está totalmente sob controle. Essa resposta positiva e favorável é resultado de um conjunto de fatores. Eu digo que o primeiro deles é uma ação rápida e integrada entre Governo (do Estado) e Prefeitura. A gente reconheceu que havia um problema, identificou no início da transmissão comunitária que era preciso agir coletivamente. Somamos esforços, reconhecemos que havia riscos importantes na Cidade e agimos.

O segundo foi que, a despeito de críticas e ainda incompreensões em relação ao isolamento social logo no começo, antes de vermos as pessoas adoecendo, a gente estabeleceu o isolamento social precoce, sustentou ao longo de várias semanas, inclusive, em algum momento de maior preocupação, a gente elevou o rigor, transformando em isolamento social rígido.

Um terceiro fator, antes do pior momento, que foi quando as pessoas mais se contaminaram, Prefeitura e Governo resolveram fazer uma grande ampliação de leitos e de profissionais. Praticamente criamos uma rede paralela para a Covid-19. Isso envolveu o hospital de campanha do PV, o Hospital Leonardo da Vinci, do Governo do Estado, muitos leitos novos ampliados, e acabou que, no pior momento, as pessoas foram acolhidas, assistidas no hospital.

Eu diria que o conjunto dessas coisas e esse plano de retomada progressivo, gradual, planejado e negociado – ao invés de abrir tudo de uma vez ou reabrir atividades que até têm impacto econômico, mas têm muito risco à saúde. Essa responsabilidade nos ajudou a assegurar essa queda que deve continuar acontecendo.

Como ficou o atendimento nas unidades de saúde após a reabertura?

A gente tem tido duplo benefício: tanto uma queda contínua e estável de casos e de óbitos como uma queda bastante significativa da demanda por leitos de UTI, de enfermaria e de internação. Essa média, hoje, é bastante baixa no hospital de campanha do PV, que chegou a ficar quase lotado. (…) Entretanto, respondendo à primeira pergunta, a gente não pode dizer que venceu a pandemia.

Há exemplos no mundo de quando se abriram as porteiras sem preocupação com um plano de retomada da economia progressivo, aconteceram casos de causar algum aumento, algum risco novo. A gente precisa manter a consistência das decisões do comitê que estuda a retomada das atividades.

O hospital de campanha do PV vai continuar em funcionamento?

A nossa ideia é desmobilizar tão logo a gente zere o hospital – muito possivelmente em alguns dias a gente deve zerar o atendimento no hospital de campanha do PV. A gente vai desmobilizar. Não adianta direcionar recursos públicos para pagar profissionais se não tem atendimento.

Têm hoje outras demandas de saúde acontecendo: internação clínica, demanda de cirurgia, de atendimento, de leito de UTI, de outras doenças. A gente vai ter que mobilizar pessoal, leitos e equipes para essas outras circunstâncias de saúde. Nós vamos deixá-lo montado até a gente ter a orientação das autoridades sanitárias.

Durante a crise, houve episódios de saúde que viraram embates políticos, como o caso da operação (da Polícia Federal) dos respiradores. Aquele recurso empenhado vai ser ressarcido quando?

Já há uma decisão judicial da Prefeitura ganha na Justiça solicitando que esses recursos possam retornar aos cofres públicos. Inclusive, a Prefeitura solicitou a quebra de sigilo fiscal e bancário das empresas para que a Justiça possa justamente reaver integralmente esses valores ao Município de Fortaleza. Já temos duas decisões favoráveis nesse sentido e a gente espera que muito em breve a situação esteja completamente resolvida.

Neste episódio, não faltou um melhor controle interno (do recurso público) da Prefeitura para avaliar melhor a empresa, a capacidade de entregar esse produto que não foi entregue?

Esse problema aconteceu no mundo inteiro. Não teve ninguém que não passou um grande sufoco precisando comprar respiradores. Você imagina: era o bem de maior necessidade em uma pandemia de ordem global. Inclusive, em países mais ricos que o nosso, insumos médicos em geral, o preço da máscara, do álcool gel, de tudo que é material de saúde, foi lá para cima. A lei da oferta e da demanda. Os respiradores também aumentaram, não só aqui. No mundo todo.

Essa mesma empresa vendeu para o Ministério da Justiça no Brasil, quando o Sérgio Moro ainda era ministro. O Ministério fez aquisições dessa empresa e ela vendeu para outros estados, outros municípios. A grande questão aí era dificuldade de acesso ao bem. Por isso mesmo nós empreendemos todos os esforços no sentido de garantir o respirador.

Pior seria, muito mais grave seria o ato de omissão de qualquer governo de garantir o que fosse importante para salvar vidas. A gente não ir atrás de contratar profissional, de comprar respiradores, de fazer o que estivesse ao nosso alcance, isso sim seria um ato inconsequente e que geraria, em mim, hoje, uma crise de consciência. Então, fizemos o que estava ao nosso alcance para salvar vidas.

A crise trouxe um cenário de impacto fiscal…

A gente vai ter um ano de queda de receita. Mas pela primeira vez, fechando um ciclo de 20 anos, Fortaleza terminou o ano com superávit primário por dois anos consecutivos. Isso quer dizer que ao término de um ano, depois de pagar folha de pessoal, fornecedores ou de pagar todas as obras, ainda ficou dinheiro em caixa. Aconteceu isso em 2018 e em 2019.

É bom lembrar que, nesses oito anos da minha gestão, pelo menos cinco foram de recessão econômica e, mesmo durante anos que não foram de prosperidade para o Brasil, conseguimos fazer o ajuste fiscal da Prefeitura. Então, foi essa preocupação com o controle das despesas e uma eficiência fiscal maior que nos permitiu aqui em Fortaleza sobreviver a essa crise dando o aumento ao servidor, antecipando o 13º, pagando fornecedores em dia, o maior patamar de investimento público da história, pagando em dia todos os nossos bancos e financiamentos, pagando em dia a Previdência, chegando ao fim do ano (de 2020) deixando mais de R$ 800 milhões de reais em caixa para investimentos.

Começou a série de ‘lives’ com os pré-candidatos do PDT. No começo ficou uma ideia que era a decisão de escolher uma espécie de interlocutor e ele iria passar a ouvir os aliados. No meio do caminho, pré-candidatos de outros partidos passaram a entrar. O partido mudou de estratégia?

Antes de entrar no capítulo eleitoral, quero pedir permissão e perdão às pessoas que sofreram e continuam sofrendo com a Covid-19. A gente está no meio de uma pandemia, situação trágica do Brasil. Certamente, ao final disso, (será) a maior tragédia da saúde pública da história. Então, é muito delicado a gente falar de eleição num momento como esse.

Entretanto, estão chegando as convenções, está chegando a própria eleição, e o que está em jogo não é qualquer eleição, é o destino e o futuro de mais de 2 milhões e 600 mil pessoas. O destino e o futuro de prioridades: da escola em tempo integral, das creches, das UPAs, dos hospitais, da mobilidade urbana.

O que está em jogo é o dia a dia, a vida, as conquistas das pessoas. Apenas por isso que nós não antecipamos esse debate. Tem muita gente falando de eleição há mais de um ano, não deixou de falar durante a pandemia. Nós tivemos o recato, cuidado, e já chegamos para discutir o tema na “prorrogação” (referindo-se ao termo usado no futebol).

E começamos a falar porque isso interessa às pessoas da cidade também. Saber o que vai acontecer a partir de 2021. E o PDT lançou uma dinâmica: anunciamos que a gente iria convidar alguns pré-candidatos de partidos aliados para eventualmente participarem de alguns debates nossos. (…) A ideia tem duas naturezas: a primeira e principal é a gente discutir o futuro de Fortaleza, os assuntos que interessam à cidade. A segunda (é que) estamos utilizando estratégia diferente, ouvindo o partido, os aliados, aferindo conhecimentos científicos, como pesquisas quantitativas e qualitativas, ouvindo a população para a gente escolher um nome que represente o PDT.

Mas o que está por trás disso também é uma escolha: está se propondo o que para o futuro de Fortaleza?

O PDT quer discutir uma base aliada mais ampla possível, um projeto que trate de garantir continuidade de todas as boas políticas e programas que foram construídos. Se tem do outro lado alguém que só fala mal, só denuncia, na linguagem popular, que só esculhamba, é sinal de ter uma série de coisas que foram feitas e são bem avaliadas sob risco de não serem continuadas. (…) A população precisa saber quais são as garantias de que esses direitos e conquistas vão continuar. Mas não pode parar por aqui, tem que ter a capacidade de criticar, de olhar para dentro e entender aquilo que precisa avançar mais.

Quando o PDT resolve o nome do candidato?

A rigor, temos até 16 de setembro pelo prazo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Eu diria que o mais adequado é deixar esse debate maturar e começar a perceber em algum momento se há dois ou três nomes que passaram a ganhar maior tipo de apoio.

O nosso maior desafio será enfrentar os piores sentimentos que representam o ‘bolsonarismo’ radical aqui em Fortaleza. E tem um representante aqui, claramente, que é o deputado Capitão Wagner. E vamos lá, há um misto aí de inexperiência para governar, de despreparo e radicalismo.

Essa mistura tem causado para o Brasil muita tensão, instabilidade, receio, e é esse tipo de sentimento que o deputado Capitão Wagner e sua turma apresentam como risco para Fortaleza. Um exemplo prático e fácil: esse pessoal todo surgiu de um motim da Polícia Militar numa época eleitoral. Agora, pensaram e fizeram o segundo motim. Quem está pagando o preço é a sociedade cearense. É a intranquilidade, o medo, as vidas perdidas. É o resultado desse tipo de arma política que é utilizada. Fico imaginando se, em algum momento, esse grupo na Prefeitura criar um outro motim da Polícia Militar. A população será refém da chantagem do grupo usando a Prefeitura contra o Governo do Estado?

Nos bastidores

O prefeito Roberto Cláudio acusou os oposicionistas de produzirem “fake news” e destacou que não vai comentar “denúncias” das quais não conhece a origem e nem partem do Ministério Público.

Distante

Presidente municipal do PDT, ele destacou que o partido quer fazer uma aliança com o maior número de legendas possível. Sobre o PT, disse considerar que a legenda está com uma possibilidade de candidatura própria “bem avançada” e que respeita as questões internas.

Efeito Camilo

Mesmo com as questões internas do PT, o prefeito destacou que Camilo Santana é figura importante para a eleição deste ano na Capital e também para seguir uma parceria administrativa para o próximo gestor.

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INÁCIO AGUIAR/Diário do Nordeste
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