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PSB expulsa deputado Átila Lira por votar a favor da reforma da Previdência e pune outros 9

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O Diretório Nacional do PSB decidiu nesta sexta-feira (30), por 82 votos a 4, expulsar o deputado federal Átila Lira (PI) por votar a favor da reforma da Previdência, contrariando a posição do partido.

O texto foi aprovado em primeiro turnoem julho. Depois, em agosto, a proposta foi aprovada em segundo turno e enviada ao Senado. Átila Lira votou a favor da reforma nos dois turnos.

Ao analisar o caso de Átila Lira nesta sexta-feira, a sigla resolveu expulsar o deputado por considerá-lo reincidente no descumprimento de decisões da legenda.

Em abril de 2017, por exemplo, Lira votou a favor da reforma do então presidente Michel Temer que alterou a legislação trabalhista.

Com a expulsão de Lira, a bancada do PSB na Câmara passará de 32 para 31 deputados.

G1 procurou o deputado e o gabinete dele, mas, até a última atualização desta reportagem, não conseguiu contato.

O partido definiu ainda a situação de outros nove parlamentares também alvos de processo ético. O PSB decidiu mantê-los na legenda, mas determinou a suspensão, por 12 meses, de suas prerrogativas parlamentares e partidárias.

A punição será revista dentro de seis meses. Caso os deputados tenham se realinhado às decisões partidárias, a suspensão poderá ser interrompida.

Por um placar de 84 votos, foram punidos os seguintes deputados:

  • Emidinho Madeira (MG);
  • Felipe Carreras (PE);
  • Felipe Rigoni (ES)
  • Jefferson Campos (SP);
  • Liziane Bayer (RS);
  • Rodrigo Agostinho (SP);
  • Rodrigo Coelho (SC);
  • Rosana Valle (SP);
  • Ted Conti (ES).

Houve ainda 7 votos contrários (alguns defendiam a expulsão) e uma abstenção.

Defesa

Átila Lira não compareceu à reunião do Diretório Nacional do PSB e entregou a defesa por escrito.

No documento, o deputado justificou o voto favorável à reforma da Previdência afirmando que o texto final foi mais equilibrado do que o proposto pelo governo federal.

O deputado argumentou, ainda, que os pontos modificados durante a tramitação na Câmara tornaram “seu efeito mais brando e justo aos trabalhadores”.

Em nota, a deputada Rosana Valle diz que continuará votando conforme a sua consciência. “O tempo dos coronéis acabou! Vou continuar votando com a minha consciência, permanecendo fiel aos meus ideais e aos meus eleitores. Meu compromisso é com a Baixada Santista, o Litoral e o Vale do Ribeira. E não com partidos ou ideologias extremadas”, diz a íntegra da nota.

Também em nota, Jefferson Campos afirmou estar “tranquilo em ter votado a favor do país”. “Lamento que o partido esteja tomando decisões contrárias a sua própria história política. Em 2003, quando votamos a Reforma da Previdência, os líderes do PSB, como Miguel Arraes, meu amigo Eduardo Campos e outros, votaram favoráveis a uma Reforma da Previdência necessária e talvez mais rígida que a atual”, afirmou.

O parlamentar argumentou ainda que manteve a “mesma coerência do passado” e acrescentou que estudará medidas cabíveis por entender que “o parlamentar constitucionalmente tem liberdade de opinião, palavra e voto, o que não está sendo respeitado pelo partido”.

Rodrigo Coelho disse, por meio de nota, que recebe a punição “com tranquilidade e sem qualquer arrependimento por ter votado a favor da Reforma da Previdência”. Ele afirmou que que “nunca escondeu a postura independente e o compromisso com os anseios da população e dos eleitores”. O deputado considerou “lamentável a decisão da sigla” e informou que recorrerá à Justiça.

Ted Conti também afirmou estar “tranquilo” em relação à decisão do partido e que a recebe “de cabeça erguida”. “Eu já esperava que teria algum tipo de punição, uma vez que a gente tem a responsabilidade sobre o voto que a gente dá no plenário”, disse. Conti ponderou que considera que o “partido agiu como deveria”, mas que ele tem “a consciência” de que votou conforme as suas convicções.

Para Felipe Rigoni, o partido conseguiu tomar a “pior” decisão, classificada por ele como “antidemocrática”. “Só mostrou que o PSB não tem espaço para a diversidade de pensamento”, criticou. Ele afirmou ser liberal na economia e que continuará seguindo as suas convicções. Rigoni disse ainda não saber se cabe recurso contra a punição, mas que avaliará as possibilidades.

Rodrigo Agostinho informou que, por enquanto, não irá se manifestar.

G1 tenta contato com os demais deputados punidos pelo PSB nesta sexta.

Voto do relator

Relator do caso, o ex-deputado Domingos Leonelli considerou a situação de Lira como grave e votou pela expulsão.

Leonelli ressaltou que o PSB não era contra qualquer reforma da Previdência, mas contra a reforma proposta.

O relator afirmou haver “constante desalinhamento” de Átila Lira em relação às atividades partidárias, votando de forma contrária ao posicionamento do partido, segundo ele, em “inaceitáveis 71% das deliberações” na Câmara.

Pedido do líder

Líder da bancada na Câmara, o deputado Tadeu Alencar (PSB-PE) chegou a defender que não houvesse expulsão, mas ao mesmo tempo, disse ser preciso respeitar as decisões partidárias.

O presidente da legenda, Carlos Siqueira, pediu aos deputados que votaram contra a Previdência se levantassem e puxou uma salva de palmas do auditório.

Bastidores

Nos bastidores, Átila Lira tem negociado com o DEM e a expectativa é a de que ele migre para esse partido.

Os demais nove deputados punidos com a suspensão das prerrogativas parlamentares perderão, por exemplo, as vagas que ocupam nas comissões, deixarão de ser indicados pelo partido para a relatoria de projetos e não poderão usar tempo de liderança do PSB para discursar no plenário.

Não há, porém, consenso se os deputados que hoje ocupam a presidência ou a vice de algum colegiado perderão o cargo também. Há quem argumente que, por terem sido eleitos pela comissão, ele deve manter o cargo.

É o caso do Rodrigo Agostinho, que preside a Comissão de Meio Ambiente.

O presidente do partido, Carlos Siqueira, reconheceu que se tratam de “penalidades rigorosíssimas” e que, portanto, os deputados deveriam ter o direito de ser reavaliados em seis meses. Ele ressaltou que os deputados permanecerão em pleno exercício de seus mandatos.

Em relação às funções partidárias, eles perderão o direito a voto nas instâncias do partido.

Nos bastidores, vários deputados punidos têm dito que preferiam ser expulsos do PSB e, assim, poder seguir para outros partidos sem risco de perder o mandato.

Isso porque, pela legislação eleitoral, a mudança de legenda sem perda de mandato só é autorizada em caso de criação ou fusão de partido, mudança substancial do programa partidário e grave discriminação pessoal.

Dos nove deputados punidos, dois deles compareceram à reunião (Ted Conti e Liziane Bayer) do Diretório, que se estendeu pelo dia todo. No entanto, nenhum deles se manifestou no momento em que os processos eram analisados.

G1

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