Por Jornal Nacional
Sistema de saúde de SP enfrenta as consequências das aglomerações de festas no fim de ano
A lotação dos hospitais de São Paulo e a taxa de mortes no estado começam a refletir os efeitos das festas de fim de ano.
A festa registrada em vídeo era de uma dupla comemoração. É que a Dona Maria Inês completou 64 anos no dia de Natal. Por causa da pandemia, ela decidiu reunir só os parentes mais próximos para comemorar o aniversário e aproveitar as festas de fim de ano. Até que uma sobrinha dela começou a apresentar os sintomas da Covid-19.
“Isso foi no domingo após o Natal. Quando foi na segunda-feira, ela estava sentindo sintomas. Ela foi até a cidade fazer o teste e foi detectada. Aí depois disso todo mundo ficou em estado de alerta”, conta Dona Maria Inês.
Das 20 pessoas que estavam no sítio da Dona Maria Inês, no interior de São Paulo, dez se contaminaram. Todos tiveram sintomas. Felizmente, ninguém precisou ser internado.
“É lógico que as festas de final de ano, por mais que se tenha falado para evitar aglomeração, a gente sabe que muita gente se encontrou, núcleos familiares. A gente tem visto pacientes que famílias inteiras pegaram a Covid-19. Pessoas que me relatam que foram para uma festa com 50 pessoas e a gente acompanha 35 doentes que foram numa festa com 50 pessoas. Então, assim, não é surpresa esse número de casos ter aumentado cerca de 15 dias depois das festas”, diz o infectologista Ivan França.
Os números confirmam o que o médico tem vivido dentro dos hospitais. No dia 9 de janeiro, 16 dias depois do Natal, a média móvel de mortes no estado de São Paulo passou de 200 e tem se mantido nesse patamar. Uma situação que não se via desde o dia 15 de setembro.
A taxa média de ocupação de leitos de UTI para Covid no estado de Grande São Paulo não para de subir. Era de pouco mais de 39% em novembro, e agora já se aproxima dos 70%. Diante da alta dos números, o governo do estado decidiu antecipar de fevereiro para sexta-feira (15) a reunião que vai decidir se algumas regiões terão que cumprir uma quarentena mais rigorosa.
O infectologista Julio Croda diz que as autoridades precisam agir rápido: “Nós temos que urgentemente aumentar as medidas restritivas. Nesse momento, a segunda onda pode ser pior do que a primeira onda porque a população está menos envolvida na mobilização e na adoção de medidas restritivas. Os serviços de saúde também estão desmobilizados, diversos serviços de saúde do estado de São Paulo já não conseguem ampliar o número de leitos porque não tem mais equipe para contratação, para ampliar esse número de leitos. Então é um momento muito crítico”, afirma.
“A gente tem que levar isso muito a sério, a gente tem que continuar levando a sério porque esse vírus não é brincadeira. Nós não tivemos consciência disso tentando fazer uma reunião de família. Mas por amor, por carinho, por afeto que a gente tem um com o outro, a gente acaba relaxando. Infelizmente é assim é o que acontece com a maioria das pessoas. A gente só acredita quando isso bate na gente, quando está na nossa pele”, diz Dona Maria Inês.