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Sono e cansaço podem ser fatais no trânsito

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Antes de assumir o volante é importante que o motorista esteja com o sono em dia e o corpo descansado. “A população deve compreender que o sono é um fenômeno indispensável à saúde”, diz Montal, presidente da Abramet
00:00 · 18.03.2017 / atualizado às 00:34
Sonolência e cansaço são responsáveis por cerca de 20% dos acidentes de trânsito no mundo. Tido como problema de saúde pública, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) vem tentando enfrentá-lo por meio de uma campanha nacional iniciada esta semana.

“Precisamos alertar para os riscos da sonolência excessiva diurna, uma importante consequência da apneia obstrutiva do sono”, justifica o Dr. Gilmar Fernandes do Prado, presidente da entidade. A ação conta com o apoio da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Segundo a American Automobile Association (AAA), que estudou recentemente a prevalência e o impacto da sonolência ao volante, motoristas sonolentos estão envolvidos em 16,5% dos acidentes fatais nos Estados Unidos. Na há estatísticas nacionais, mas acredita-se que os índices sejam similares.

Cada organismo responde de maneira distinta sobre quanto é o suficiente para estar alerta e bem disposto após uma noite de sono. Mas é recomendável um período de sete a nove horas de sono. Criar uma rotina é fundamental para preservar a qualidade na hora de dormir e também para evitar que problemas relacionados à sonolência diurna se evidenciem.

O grande número de indivíduos que não descansa o necessário para o pleno funcionamento do sistema neurológico, combinado com a rotina estressante das grandes cidades, coloca o cidadão em risco iminente de causar e sofrer um acidente. Os condutores que dormem entre 4 e 5 horas diárias apresentam taxas quatro vezes maiores de envolvimento em acidentes.

Conscientização

A constatação de que o foco das autoridades públicas está somente em outras causas de acidentes, como bebidas alcoólicas e uso de celular, fez com que a campanha surgisse.

Gilmar Fernandes do Prado esclarece que é preciso chamar a atenção não apenas do motorista, mas, também dos órgãos reguladores. “A distração causada pelos smartphones desvia o foco da mesma forma que a sonolência. Ou seja, condução do veículo, trajeto, velocidade e estrada são então relegadas ao segundo plano”.

Normalmente, a resposta a um estímulo acontece por volta de 100 a 250 milisegundos. Em caso de sonolência, varia para 150 a 500 milisegundos. Quando em velocidades mais altas, essa diminuição de reflexo eleva o risco de acidentes fatais.

José Heverardo da Costa Montal, presidente da Abramet, pontua que o sono ao volante deve ser encarado como um vilão. “Se o indivíduo é privado de sono ou é portador de um distúrbio, tem chance muito maior de causar um acidente, próximo ao que acontece com o álcool”, alerta.

Diferentemente do que ocorre com os distúrbios relacionados ao sono, o discurso contra o uso de celular na direção e a ingestão de bebida alcoólica já está consolidado. A ABN deseja, por meio da Campanha, incluir a discussão sobre o sono nesse espectro. Montal ressalta, ainda, que a união das instituições ligadas ao tráfego e à neurologia será capaz de promover a conscientização de maneira efetiva e enfática, abordando as diferentes esferas do problema.

A Abramet, aliás, já ajudou a construir uma legislação de trânsito que contemple alguns desses pontos. “Colaboramos com a elaboração de uma norma que torna necessário o diagnóstico de possíveis distúrbios de sono. Existindo sinais de que o indivíduo possa ter alguma doença desse tipo, há encaminhamentos obrigatórios por lei”. Dessa maneira, busca-se uma mudança que extrapole a postura individual, alcançando o âmbito cultural, como ocorreu em passado com a conscientização do uso de cinto de segurança.

“A população deve compreender que o sono é um fenômeno indispensável à saúde humana. Logo, se você está programando uma viagem, é preciso separar um tempo para descansar e recuperar a energia”, argumenta Montal.

Apneia

Resultado da maior resistência nas vias aéreas, a Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) dificulta a passagem de ar durante a hora de dormir, acarretando maior incidência de hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e alterações metabólicas e hormonais. Causa ainda sonolência diurna, irritabilidade e cansaço.

Reconhecer e tratar a AOS é importante, pois indivíduos com o problema apresentam risco de acidentes de trânsito de duas a sete vezes maior. E tais acidentes ocasionados pelo distúrbio não são reconhecidos, uma vez que seus principais sintomas, como ronco e sonolência diurna, são mascarados pelos pacientes.

Segundo o presidente da ABN, no Brasilo desconhecimento é uma barreira no combate ao problema. “Isso provoca dificuldade de patrocínio para ações que visem à conscientização. Ou seja, a gravidade da apneia não é reconhecida pela sociedade, impactando na prevenção, no diagnóstico e no tratamento”.

“Não há um medidor de sono que qualifique a apneia, como o bafômetro indica o nível do álcool. Já existem alguns aparelhos que funcionam como marcadores de sonolência, porém, inacessíveis à Polícia Federal. A alternativa seria criar um marcador que identifique a quantidade de amilase presente na saliva, uma vez que a sonolência eleva a presença dessa enzima.

Porém, concomitantemente precisaria ser feita uma escala para contar essa quantidade em distúrbios de sono, pois seu aumento pode ser decorrente de outros fatores”, diz Gilmar Fernandes do Prado.

Legislação

A Resolução nº 452/2012 do Departamento Nacional de Transito (Denatran), deixou o exame médico para emissão e renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) mais rígido. Todos os candidatos precisam passar por testes específicos para detectar possíveis distúrbios de sono. Eles também passam por avaliações cardiológica, neurológica, oftalmológica e auditiva.

Na consulta, são avaliados alguns fatores de risco, como o grau de sonolência diurna através da escala de sonolência de Epworth. Se identificados indícios de apneia de sono, o médico de tráfego pode encaminhar ao especialista, que indicará a polissonografia para confirmação diagnóstica e planejamento terapêutico.

Número

7 a 9

Horas de sono é o tempo recomendável para o indivíduo renovar a sua energia, caso contrário, estará predisposto à ocorrência de acidentes graves

Fique por dentro

Diagnóstico e tratamento reduzem gastos

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificou, por meio de pesquisa, uma empresa de ônibus que incentivou o diagnóstico e tratamento médico aos motoristas que apresentaram distúrbios de sono.

O resultado da iniciativa foi uma redução de 80% no gasto mensal com reparos após acidentes, além de um número incalculável de vidas preservadas. Motoristas profissionais são, inclusive, os principais alvos da campanha da ABN, por viverem expostos a longas horas de direção e, não raramente, privarem-se do descanso para cumprir prazos.

O sono aparece normalmente em intervalos de 12 horas, por meio de vários mecanismos biológicos, como a produção do hormônio melatonina. O organismo dá alguns sinais de sonolência, por exemplo: bocejos e piscadas frequentes; dificuldades para ficar de olhos abertos; e não conseguir focar objetos à distância.

Ao dirigir, situações como variações de velocidade e freadas bruscas, perder saídas, não enxergar sinais de trânsito, escorregar o carro para o acostamento e sair da pista são indícios claros de que é hora de estacionar e recuperar as energias

VIDA/DN

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