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Vendas em polos de moda na Capital despencam devido à pandemia

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Os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus têm se alastrado pelos mais diversos setores da sociedade e chegou aos polos de moda de Fortaleza. Alguns pequenos e médios empreendedores do setor já preveem a falência após mais de duas semanas de quarentena, medida imposta para reduzir a disseminação do vírus no Estado.

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Lojistas e permissionários de grandes centros de moda da Capital amarguram, em média, prejuízos de 80%, com vendas despencando, mas esse número pode chegar até a 100% em alguns casos.

O Governo do Estado prorrogou, no último sábado (28), decreto que suspende o funcionamento de estabelecimentos comerciais até o dia 5 de abril, com exceção de serviços essenciais e alguns segmentos, a exemplo de oficinas automobilísticas e centros de distribuição. Com isso, esses pequenos negócios de moda não podem abrir e estão com mercadorias paradas.

Beatrice Rodrigues, de 21 anos, mantém uma loja do segmento de moda feminina há um ano em boxes do Centro Fashion e viu o número de vendas despencar nas duas últimas semanas. “Eu não estou lucrando nada. Se não fosse pelo meu marido, que tem um depósito de bebidas, estaríamos sem dinheiro”, conta ela, cuja renda inteira é proveniente da loja de roupas.

Mesmo antes da quarentena, Beatrice conta que metade das vendas eram feitas pela internet, mas, com a situação, a procura diminuiu. “A gente está tentando vender online, fazemos a divulgação, mas não tem procura. No meio desse transtorno, as pessoas estão se preocupando com as contas para pagar e com a compra de alimento”, pontua.

Realidade parecida vive Antônio Lucas Gomes, proprietário de uma marca de moda íntima feminina desde novembro de 2018. O jovem, de 22 anos, conta que antes do início da quarentena fez um planejamento mais ‘humilde’ para março, já que as vendas no começo de ano costumam ser menores, e mesmo assim não conseguiu bater a meta.

Apesar de não conseguir mais comercializar no ponto físico no Centro Fashion, Antônio Lucas ainda fecha vendas virtualmente. “Tivemos que diminuir muito a margem de lucro do produto e fizemos uma promoção de frete grátis. Eu vendo cintas pós-cirúrgicas e sutiãs de amamentação, é um mercado que não tem época, pois os bebês continuam nascendo”, analisa.

Prejuízos

No caso de Ana Raquel Cordeiro, os salários de 20 funcionários que emprega estão comprometidos com a queda de quase 100% das vendas. A empreendedora trabalha desde 2006 com o segmento de roupas feminina e, atualmente, mantém quatro lojas em diferentes polos do Centro de Fortaleza, além de uma fábrica em Maranguape.

Ela conta que nunca viveu algo parecido e que sua situação é ainda mais grave, já que quase todas as vendas são feitas para outros estados. “Nosso cliente compra atacado, não é daqui de Fortaleza, é de Pernambuco, do Maranhão. Não tem como mandar mercadoria para eles, porque não tem transporte”.

Uma alternativa foi comercializar virtualmente uma quantidade mínima de 10 peças pela metade do preço, a ser enviada quando os serviços de entrega estiverem disponíveis. “É complicado. Não tive coragem ainda de calcular o prejuízo”.

A falta de transportes intermunicipais também causou prejuízos para o negócio de Maria das Dores Pereira, de 53 anos. Para alavancar as vendas, a autônoma costuma viajar para o interior do Ceará e participar de feiras. Ela conta que, no momento, não consegue pensar em alternativas para superar a situação. “A gente nem tenta vender pela internet, porque não tem como, pessoal não tem dinheiro para comprar. Estamos sem saber o que fazer”, relata.

Maria das Dores atua há mais de 20 anos com a venda de jeans adquiridos com fornecedores, cujo pagamento está atrasado. “A gente compra a mercadoria, vende e tem que pagá-los. Os cheques estão entrando e voltando, pois não tem dinheiro. Já tentamos negociar para prorrogar, mas não dá, porque eles também estão passando pela mesma situação”, explica.

Efeito dominó

O outro lado da cadeia produtiva da moda também sofre com a falta de mercado, como é o caso das facções têxteis, responsáveis pelo fornecimento de mão de obra para a produção das peças de roupa. Verônica Sobreira, de 54 anos, calcula um prejuízo em torno de R$ 30 mil em duas semanas sem funcionar, e se vê obrigada a fechar as portas.

Há 22 anos no ramo, Verônica terá de dispensar os 16 funcionários que emprega direta e indiretamente. Mas, para ela, os problemas financeiros começaram antes. “A gente já vem arquejando há algum tempo, desde 2015 estamos só sobrevivendo. O preço de tudo aumentou, da energia, dos materiais”.

Outros gastos

Os permissionários precisam arcar ainda com os custos dos locais em que mantêm os negócios, o que é motivo de indignação para muitos deles. O Centro Fashion, por exemplo, cedeu desconto de 50% no valor da taxa de manutenção, a qual varia de acordo com o setor ocupado pelo box.

Mas o valor ainda é questionado pela classe. De acordo com o presidente da Associação de Permissionários, Boxistas e Lojistas do Centro Fashion Fortaleza, Rodrigo Alves, não foi fechado um acordo. “A maioria dos permissionários não tem condição de arcar com qualquer despesa, pois não estão conseguindo gerar renda. A proposta é que alguns sejam isentos”.

Em nota, o centro comercial apontou que a cobrança do aluguel para os permissionários foi suspensa, mas que a taxa cobrada é destinada para manutenção básica do prédio. “É uma taxa mínima referente aos custos de manutenção do equipamento fechado, como o reforço da segurança, a fim de garantir a integridade de toda a mercadoria lá guardada”.

Diário do Nordeste

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