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‘Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro’, diz Bolsonaro sobre investigação envolvendo o filho Flávio

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Bolsonaro sobre reação agressiva contra jornalistas: "sim, eu erro"

Bolsonaro sobre reação agressiva contra jornalistas: “sim, eu erro”

O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado (21) que, se “não tiver a cabeça no lugar” ele “alopra”, ao se referir à exposição de sua família provocada pela divulgação de informações sobre a investigação do Ministério Público do Rio envolvendo um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).

Ele deu a declaração a jornalistas durante uma conversa de mais de duas horas no Palácio da Alvorada, em Brasília.

“O processo está em segredo de Justiça? Te respondo: está, né? Quem é que julga, é o MP ou o juiz? Os caras vazam e julgam? Paciência, pô. Qual é a intenção? Estardalhaço enorme. Será porque falta materialidade para ele e equivale ao desgaste agora? Quem está feliz por essa exposição absurda na mídia? Alguém está feliz. Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”, disse Bolsonaro.

Flávio é alvo de uma investigação que corre no Ministério Público do Rio sobre um suposto esquema no qual ele teria se apropriado de parte do salário de servidores do seu gabinete quando era deputado estadual no Rio.

Os promotores afirmam que Flávio Bolsonaro é o chefe de uma organização criminosa e identificaram pelo menos 13 assessores que repassaram parte de seus salários ao ex-assessor dele, Fabrício Queiroz.

O Ministério Público diz que “as provas permitem vislumbrar que existiu uma organização criminosa com alto grau de permanência e estabilidade, entre 2007 e 2018, destinada à prática de desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro”.

MP do RJ detalha suposto esquema de corrupção envolvendo então deputado Flávio Bolsonaro

MP do RJ detalha suposto esquema de corrupção envolvendo então deputado Flávio Bolsonaro

O presidente disse que há “abuso” do Ministério Público no caso envolvendo o filho e defendeu controle do MP.

“A questão do MP está sendo um abuso. Qualquer um nota. Qual a interferência minha? Zero” , afirmou o presidente.

“Todo poder tem que ter uma forma de sofrer um controle. Não é do Executivo, é um controle. Quando começa a perder o controle, busca pelo em ovo…Eu sou réu no Supremo, sofri muito processo, os mais variados possíveis”, completou ele.

Na entrevista, Bolsonaro também afirmou que:

  • não deveria ter dito que um repórter tinha ‘cara de homossexual’
  • o foco da economia em 2020 será a criação de empresas
  • o caso Marielle não está sendo bem conduzido pelo MP do Rio
  • a possibilidade de ele estar com câncer de pele foi afastada
  • ainda está discutindo eventuais vetos ao projeto anticrime
  • trabalhará pela instituição do voto impresso
  • é favorável a candidaturas avulsas

Declaração a jornalistas

O presidente também disse neste sábado que “erra” e que “não deveria” ter dito a um repórter que ele tinha “cara de homossexual terrível.”

Bolsonaro deu a declaração na sexta (20), durante entrevista a jornalistas na porta do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre o que deveria acontecer com o filho, Flávio Bolsonaro, se ele tivesse cometido algum deslize.

“Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, respondeu.

Entidades de jornalistas protestam contra postura de Bolsonaro com repórteres

Entidades de jornalistas protestam contra postura de Bolsonaro com repórteres

Perguntado se havia espaço para arrependimento nas declarações da sexta, Bolsonaro respondeu: “Sim, eu erro. Não deveria ter falado”.

Questionado se considerava a fala de ontem um erro, Bolsonaro respondeu:

“Para quem que eu falei que era terrivelmente homossexual? Não está aqui hoje? Manda um beijo para ele. É igual futebol: ali na frente, de vez em quando, você manda seu colega para a ponta da praia (base da Marinha que teria sido usada como local de tortura na ditadura militar). Depois vai tomar uma tubaína com ele”, declarou o presidente.

Protesto das entidades

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal repudiou o que chamou de mais um violento ataque do presidente Jair Bolsonaro a jornalistas.

O sindicato citou levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), segundo o qual, neste ano, o presidente dirigiu ao menos um ataque à imprensa a cada três dias.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), afirmou que o presidente assediou moralmente os repórteres e que teve atitude semelhante em mais de dez ocasiões neste ano.

A Abraji destacou ainda que apoiadores do presidente acentuam o clima de intimidação aos repórteres na porta do Alvorada. E a entidade ressaltou:

“Atacar jornalistas como forma de evitar prestar informações de interesse público e receber aplausos de apoiadores é ação incompatível com o respeito ao trabalho da imprensa, fundamental para a democracia.”

Balanço e economia

No balanço do ano, o presidente Jair Bolsonaro destacou a atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Disse que em 2020, o carro-chefe será a economia com foco na criação de empresas.

O presidente afirmou que a reforma tributária vai passar no Congresso porque é interesse da sociedade e que defende uma mudança agora na tabela de imposto de renda – aumento do limite de isenção, que hoje é de R$ 1.903,98, para R$ 3 mil.

Sobre uma nova versão da CPMF, o presidente disse que não é a favor, mas não deu mais detalhes. Disse que, nesse campo, se alinha a Paulo Guedes, e não Guedes a ele.

“Você está entrando em particularidades que eu não quero aqui falar algo que possa constranger o Paulo Guedes amanhã por desconhecimento da minha parte. Não tenho como saber de tudo que acontece no governo. Eu estava hoje de manhã ouvindo a entrevista do Paulo Guedes na GloboNews, cheguei na primeira hora, faltam 30 minutos. Devo ouvir de novo amanhã a entrevista dele. Para saber realmente a linha dele. Porque eu que tenho que me alinhar a ele. Não ele a mim. É ao contrário. Ele que é meu patrão nessa questão e não eu o patrão dele”, afirmou.

O presidente disse que não haverá criação de novos impostos, apenas a substituição deles.

Questionado sobre qual seria a fonte que permitiria desonerar a folha de pagamento das empresas, o presidente não quis dar detalhes e afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é quem manda na área.

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Marielle Franco

Bolsonaro também criticou o andamento da investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco.

Ele afirmou que o caso não está sendo bem conduzido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Disse ainda que, se a investigação sair da esfera estadual para a federal, vai passar a impressão de que ele, Bolsonaro, está querendo ser blindado pela Polícia Federal.

Suspeita de câncer

Já em relação a sua saúde, disse que a suspeita de câncer de pele foi afastada.

“Foi feita a biópsia, e não deu nada. Se fosse câncer, qual é o problema? Falaria: foi câncer. Querem cortar a orelha? Tira, não tô preocupado com isso”, afirmou.

Pacote anticrime

O presidente disse que ainda discute a possibilidade de manter no projeto a figura do juiz de garantias.

O chamado pacote anticrime, com medidas que endurecem a legislação contra o crime, foi aprovado pelo Senado na semana passada e já está com Bolsonaro para sanção.

Pelo texto, o sistema judicial brasileiro teria dois juízes: um responsável por tomar as decisões durante o processo, como determinar prisões provisórias ou quebra de sigilo; e outro para julgar o caso no final.

“Segunda-feira (23) eu vou discutir novamente aqui. É que tem coisas que foram colocadas no parlamento. Tem uma questão que está dando um choque ali. É uma questão apenas. O resto está tudo acertado. É juiz de garantias”, disse o presidente.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu veto a este ponto, por ser contrário à medida. Bolsonaro, no entanto, sinalizou ser favorável à proposta. Perguntado se entende ser necessário ‘em alguma medida’, ter a figura do juiz de garantias, respondeu que “sim”.

“O juiz de garantia, o que o Moro alega é que a Justiça não tem como bancar com recurso mais um juiz na Comarca para tratar do assunto. Agora, falam tanto em democracia, nós sabemos que o ser humano está aí, um juiz pode cometer absurdo na sua comarca”, afirmou.

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Voto impresso

Bolsonaro disse que trabalhará pela instituição do voto impresso para dissipar possibilidade de fraude.

De acordo com Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é favorável à proposta. Um projeto aprovado nesta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), prevê a impressão do voto por meio de impressoras ligadas às urnas eletrônicas.

“O Rodrigo Maia, eu conversei com ele. Nós vamos partir para algo parecido ou voto impresso a partir de agora, no ano que vem. Isso dissipa qualquer possibilidade de fraude aqui no Brasil”, afirmou.

A determinação de imprimir o voto está prevista na minirreforma eleitoral de 2015. Em 2018, no entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a obrigação, suspendendo, na prática, o dispositivo.

Candidaturas avulsas

Bolsonaro defendeu ainda a possibilidade de candidaturas avulsas nas eleições.

Partidos políticos, advogados, representantes do Congresso e de movimentos sociais debateram no início de dezembro no Supremo Tribunal Federal (STF), a possibilidade de candidaturas sem filiação partidária.

Esse é o tema de um recurso que tramita no STF e cuja decisão deve ter repercussão geral, ou seja, deverá ser seguida em casos semelhantes em todo o país.

“Se eu pudesse interferir, eu ia votar favorável a isso aí. Sou a favorável a isso aí”, disse Bolsonaro. “Seria excepcional [a candidatura avulsa]”, afirmou o presidente.

G1

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