Com apoio dos pais, um gari e uma professora que terminou o ensino médio aos 34 anos, jovem de Porto Velho (RO) comemora conquistas que vieram a partir da educação: a graduação em direito, a aprovação no Exame de Ordem ainda durante a faculdade, um escritório de advocacia e uma pós-graduação que está prestes a terminar. A família sempre viu na busca por conhecimento o caminho para mudar de vida
Morador de Porto Velho (RO), Leonardo pegou o diploma no fim de 2018, mas a turma dele colou grau em abril de 2019. A história do advogado que é filho de gari chama a atenção, mas ele ressalta que, apesar de ter vindo de uma família humilde, nunca lhe faltou nada, graças ao trabalho e apoio dos pais. “Eu não posso dizer que a gente vive em uma situação precária, pelo contrário. Há pessoas em situações muito mais difíceis que a nossa”, diz.
“A minha bolha social são pessoas muito carentes e em situações mais críticas que a minha. Eu tenho um pai e uma mãe que sempre me apoiaram e trabalharam para não faltar nada dentro de casa”, acrescenta. “Algumas pessoas nem isso têm.” Leonardo estudou a vida inteira em escola pública: cursou o ensino fundamental 1 na Escola Municipal de Ensino Fundamental São Pedro; o ensino fundamental 2 na Escola Estadual de Ensino Fundamental Duque de Caxias e o ensino médio no Instituto Carmelo Dutra.
Na época, a mãe dele era empregada doméstica e não tinha concluído os estudos — ela se formou no ensino médio aos 34 anos. Hoje, é graduada em pedagogia e letras. O advogado conta que a família sempre o incentivou na vida acadêmica e nunca deixou faltar nem um lápis para ele estudar. Ele tem duas irmãs de 19 e de 15 anos. A primeira concluiu o ensino médio em 2019, e a segunda está na escola.
Inspiração
“Meu pai sempre falou para mim: ‘Não queira para a sua vida o que nós tivemos’. Ele acreditava que a educação era a melhor forma de mudar de vida”, lembra. “Eu sempre levei o ensinamento dele muito a sério.” Inicialmente, Leonardo almejava cursar ciências aeronáuticas, mas não conseguiu passar pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que deixou Aristelo um pouco chateado.
No entanto, com a nota obtida na prova, ele descobriu que poderia pagar o curso de direito com o Fundo Financiamento Estudantil (Fies). “Entrei para ver como era e me encantei logo no primeiro semestre. Foi a menina dos olhos azuis para mim”, brinca. A rotina durante os anos de graduação foi puxada. Pela manhã, Leonardo fazia estágio — ao longo dos cinco anos, passou pelo Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia (Detran-RO), pelo Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO), pelo Tribunal Regional do Trabalho de Rondônia e Acre (TRT-14ª Região) e pela Procuradoria-Geral do Estado de Rondônia (PGE-RO).
De tarde, ainda prestava serviços jurídicos gratuitos para ganhar experiência: em geral, escrevia algumas peças com a supervisão de um advogado. “Eu sempre quis trabalhar em escritório, mas ninguém me dava oportunidade na época. Então eu comecei a pegar tarefas de graça com alguns advogados só para aprender”, relata. Quando sobrava tempo, ele estudava para concursos. De noite, ia para a faculdade.
“Eu sei que, no fim da graduação, eu estava ajudando um amigo meu a limpar defunto em funerária para complementar a renda”, lembra, rindo. O esforço valeu a pena. No último semestre, Leonardo foi aprovado no Exame de Ordem e em um concurso da Polícia Militar, que preferiu não assumir. “Na época, eu não quis iniciar o curso de formação. Meus pais questionaram o motivo”, conta.
A verdade é que Leonardo deseja seguir a profissão para a qual se preparou durante a faculdade. “Quero advogar”, revela. O sonho dele se realizou. Assim que se formou, Leonardo já começou a atender clientes. Na época, não tinha escritório fixo e marcava as reuniões no trabalho de amigos. Algum tempo depois, ele alugou uma sala no centro de Porto Velho, onde atua até hoje no escritório Leonardo Lima Advocacia e Consultoria Jurídica. Também não parou de estudar: está terminando uma pós-graduação em direito penal e processual penal.
Correio Braziliense