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Filho de gari, Leonardo Lima passou na OAB no 9º semestre da faculdade

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Com apoio dos pais, um gari e uma professora que terminou o ensino médio aos 34 anos, jovem de Porto Velho (RO) comemora conquistas que vieram a partir da educação: a graduação em direito, a aprovação no Exame de Ordem ainda durante a faculdade, um escritório de advocacia e uma pós-graduação que está prestes a terminar. A família sempre viu na busca por conhecimento o caminho para mudar de vida
“Meu pai sempre dizia que a educação é a solução de todos os problemas”, conta Leonardo Lima, 24 anos. Assim, o jovem sempre correu atrás do ensino com o apoio do gari Aristelo Lima, 49, e da professora Gerciana Costa, 51. Em 2018, ele passou no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil quando ainda estava no 9º semestre da graduação em direito na União das Escolas Superiores de Rondônia (Unirom).
Morador de Porto Velho (RO), Leonardo pegou o diploma no fim de 2018, mas a turma dele colou grau em abril de 2019. A história do advogado que é filho de gari chama a atenção, mas ele ressalta que, apesar de ter vindo de uma família humilde, nunca lhe faltou nada, graças ao trabalho e apoio dos pais. “Eu não posso dizer que a gente vive em uma situação precária, pelo contrário. Há pessoas em situações muito mais difíceis que a nossa”, diz.
Leonardo recebe das mãos da mãe, Gercina, a carteirinha de advogado(foto: Vital Vaz / - Assessoria de Imprensa da OAB/RO)
Leonardo recebe das mãos da mãe, Gercina, a carteirinha de advogado(foto: Vital Vaz / – Assessoria de Imprensa da OAB/RO)
“A minha bolha social são pessoas muito carentes e em situações mais críticas que a minha. Eu tenho um pai e uma mãe que sempre me apoiaram e trabalharam para não faltar nada dentro de casa”, acrescenta. “Algumas pessoas nem isso têm.” Leonardo estudou a vida inteira em escola pública: cursou o ensino fundamental 1 na Escola Municipal de Ensino Fundamental São Pedro; o ensino fundamental 2 na Escola Estadual de Ensino Fundamental Duque de Caxias e o ensino médio no Instituto Carmelo Dutra.
Com o grupo de advogados que receberam a carteira da OAB-RO no fim de 2018 (foto: Vital Vaz / - Assessoria de Imprensa da OAB/RO)
Com o grupo de advogados que receberam a carteira da OAB-RO no fim de 2018(foto: Vital Vaz / – Assessoria de Imprensa da OAB/RO)
Na época, a mãe dele era empregada doméstica e não tinha concluído os estudos — ela se formou no ensino médio aos 34 anos. Hoje, é graduada em pedagogia e letras. O advogado conta que a família sempre o incentivou na vida acadêmica e nunca deixou faltar nem um lápis para ele estudar. Ele tem duas irmãs de 19 e de 15 anos. A primeira concluiu o ensino médio em 2019, e a segunda está na escola.

Inspiração

“Meu pai sempre falou para mim: ‘Não queira para a sua vida o que nós tivemos’. Ele acreditava que a educação era a melhor forma de mudar de vida”, lembra. “Eu sempre levei o ensinamento dele muito a sério.” Inicialmente, Leonardo almejava cursar ciências aeronáuticas, mas não conseguiu passar pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que deixou Aristelo um pouco chateado.
No entanto, com a nota obtida na prova, ele descobriu que poderia pagar o curso de direito com o Fundo Financiamento Estudantil (Fies). “Entrei para ver como era e me encantei logo no primeiro semestre. Foi a menina dos olhos azuis para mim”, brinca. A rotina durante os anos de graduação foi puxada. Pela manhã, Leonardo fazia estágio — ao longo dos cinco anos, passou pelo Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia (Detran-RO), pelo Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO), pelo Tribunal Regional do Trabalho de Rondônia e Acre (TRT-14ª Região) e pela Procuradoria-Geral do Estado de Rondônia (PGE-RO).
Leonardo ao lado irmã Lorrane Karoline, 16 anos; o pai, Aristelo; e a mãe, Gercina(foto: Arquivo Pessoal)
Leonardo ao lado irmã Lorrane Karoline, 16 anos; o pai, Aristelo; e a mãe, Gercina(foto: Arquivo Pessoal)
De tarde, ainda prestava serviços jurídicos gratuitos para ganhar experiência: em geral, escrevia algumas peças com a supervisão de um advogado. “Eu sempre quis trabalhar em escritório, mas ninguém me dava oportunidade na época. Então eu comecei a pegar tarefas de graça com alguns advogados só para aprender”, relata. Quando sobrava tempo, ele estudava para concursos. De noite, ia para a faculdade.
“Eu sei que, no fim da graduação, eu estava ajudando um amigo meu a limpar defunto em funerária para complementar a renda”, lembra, rindo. O esforço valeu a pena. No último semestre, Leonardo foi aprovado no Exame de Ordem e em um concurso da Polícia Militar, que preferiu não assumir. “Na época, eu não quis iniciar o curso de formação. Meus pais questionaram o motivo”, conta.
A verdade é que Leonardo deseja seguir a profissão para a qual se preparou durante a faculdade. “Quero advogar”, revela. O sonho dele se realizou. Assim que se formou, Leonardo já começou a atender clientes. Na época, não tinha escritório fixo e marcava as reuniões no trabalho de amigos. Algum tempo depois, ele alugou uma sala no centro de Porto Velho, onde atua até hoje no escritório Leonardo Lima Advocacia e Consultoria Jurídica. Também não parou de estudar: está terminando uma pós-graduação em direito penal e processual penal.
Correio Braziliense
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