A cena diz muito da volta por cima dos argentinos. Marcos Rojo, o menos badalado dos remanescentes de 2014, carregando Messi nas costas em corrida desenfreada após o gol da vitória contra a Nigéria. A Argentina não é mais time de um homem só. E o gol de um dos carregadores de piano consagra a classificação milagrosa de uma seleção que aprendeu na marra a sofrer na Rússia.
Sofrer como o herói improvável aprendeu nos últimos anos. A boa participação no Mundial do Brasil catapultou a carreira da cria do Estudiantes de La Plata. Do Sporting de Portugal, foi para o gigante Manchester United, onde passou um ciclo inteiro de Copa entre altos e baixos.
Indicado por Van Gaal, foi mantido por Mourinho, esteve em campo 47 vezes no primeiro ano do português, mas viu as chances cessaram na última temporada. Uma lesão no joelho o levou ao banco de reservas, até chegar à Copa com somente 12 partidas, oito como titular e cinco os 90 minutos em campo.
Realidade que o levou a uma atitude “extrema”: superar o temor do Special One.
– No final da temporada, com medo, fui conversar com ele. Perguntei o que estava acontecendo. Ele disse que há muitas situações como a minha e que vai botar para jogar quem estiver melhor.
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A atitude repercutiu mal na imprensa inglesa. O prestígio com Mourinho, por sua vez, era maior do que o argentino imaginava e seu contrato foi ampliado até 2021:
– Marcos demonstrou muita força ao longo dos últimos anos e muito profissionalismo. Está sempre preparado para fazer tudo por esse clube e merece a renovação – disse o técnico.
A oscilação pelos Red Devils abriu espaço para Tagliafico na lateral da seleção, e Rojo chegou à Rússia mais como coringa do que titular. Virou alternativa como zagueiro e foi barrado ao ir mal diante da Islândia. A exigência por jogadores experientes o colocou ao lado de Otamendi novamente contra a Nigéria e o transformou em herói e profeta:
– Tinha dito aos meninos que ia fazer o gol. Falei com Éver (Banega) e Ota (mendi). É um gol que vale muitíssimo, estava precisando. Estamos mais fortes do que nunca. Agora, começa a Copa para nós – disse ao canal argentino TyC na saída do campo.
Confiança surpreendente para quem foi às redes apenas três vezes nos últimos quatro anos (duas pelo United e uma pela seleção), mas tem o destino iluminado contra a Nigéria. Em 2014, no Brasil, marcou quase sem querer o terceiro gol da vitória por 3 a 2 em Porto Alegre. Em São Petersburgo, um novo presente do imponderável.
Lateral-esquerdo, Rojo começou mais uma vez como zagueiro. A proximidade da eliminação fez Sampaoli tomar uma atitude extrema: tirar Tagliafico, recuar Mascherano e liberá-lo em sua posição de origem. A partir daí, sete minutos foram suficientes para mudar a história.
Aos 41, o cruzamento de Mercado encontrou o pé ruim de Rojo. Desta vez, não tinha porque ter medo. A finalização chapada encontrou as redes de Uzoho. Explosão albiceleste em São Petersburgo. O reserva que tinha medo de falar com o técnico, levou um país inteiro nas costas. A imagem com Messi diz muito, e fique tranquilo Rojo: até Mourinho deve ter gostado.