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LEXA: “ESTOU REALIZANDO UM SONHO QUE, DE ONDE EU VIM, ERA MUITO IMPROVÁVEL”

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Lexa Capa (Foto:  )
Lexa Abre (Foto:  )

Lexa chega com uma hora de atraso ao estúdio do fotógrafo Gustavo Arrais, em São Paulo. Retornando de uma turnê pelos Estados Unidos e Europa, a cantora teve que encaixar às pressas um horário no cabeleireiro para retocar os fios alongados antes de posar com looks assinados por quatro stylists para esse ensaio de QUEM. Os cliques são acompanhados por 30 pessoas, entre elas a equipe do reality show Autênticas, do GNT, que registra cada passo de seus dias agitados.

A carioca, de 24 anos, está acostumada a viver assim, cercada de muitas pessoas. Com uma média de 20 shows por mês, Lexa teve que aprender a deixar os outros cuidarem dela e de sua rotina.

“Toda hora tenho muita gente em volta de mim. É um puxando meu cabelo, outro botando brinco, outro colocando um sapato em mim que nem sei a cor… A gente vai meio que perdendo a noção das coisas que estão acontecendo. Mas mesmo assim tento me inteirar de tudo. Acho que preciso imprimir a minha cara, a minha personalidade. As coisas têm que fazer sentido para mim”, conta.

Para não perder sua identidade, ela também acredita ser importante contar sempre que pode com a presença de familiares, como a avó materna Conceição Araújo, que ainda se refere à neta com o nome de batismo, Léa Cristina. “Só me sinto Léa quando estou com a minha família do lado. Minha vó mora longe, sempre que posso peço para ela ficar comigo. Ela me faz muito bem e é uma grande referência para mim.”

Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)
Lexa Aspas (Foto:  )

O jeito doce e amigável que Lexa imprime em cinco minutos de bate-papo puxaram ao de sua avó. Mas por trás dessas características está uma personalidade forte e decidida, que ela herdou de sua mãe e empresária Darlin Ferratry.

Com a mãe, que a criou sozinha em Jacarepaguá, ela aprendeu desde cedo a enfrentar trapaceiros, assédio sexual e o preconceito que sofria enquanto tentava se firmar como cantora de funk.

“Lembro que um dia estava eu e a minha mãe, bem guerreiras do jeito que somos, indo fazer um show. Um DJ, que na época estava meio que estourado, olhou para mim e disse: ‘Vamos ali atrás da caixa de som porque você tem que fazer o que eu quiser para que a sua música ande’. Minha mãe estava do meu lado, mas ele não sabia quem ela era e pensou que fosse uma empresária só. Eu tinha 18 anos e fiquei sem entender. Ela tomou a minha frente e disse: ‘Como é que é? O que você está falando? Respeite a minha filha. Ela que não precisa de nada disso. Vamos embora daqui, deixa esse nojento’. Este foi um de tantos casos de assédio que me marcou. Até reavaliei se queria mesmo seguir aquela carreira”, relembra Lexa, que passou em quinto lugar no vestibular de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro e cursou Engenharia Civil na mesma universidade.

Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Persistente, Lexa não desistiu de cantar e aceitou se reformular mais uma vez após uma pesquisa de mercado. O resultado foi o hit Sapequinha e a consolidação de sua carreira iniciada na adolescência.

“Fiz uma análise da minha carreira. Parei sentei e falei: ‘O que as pessoas gostam mais de ouvir de mim?’ E era o funk que me abriu todas as portas. Fui estudar e ver o que eu poderia mudar. Eu lembro que parei e falei: ‘Gente, preciso fazer uma música que tenha a minha cara’. O que eu sou? Sapequinha. E foi assim”, explica.

Às 23h e sem jantar ainda, ela termina o ensaio de fotos seguido de entrevista e se despede de todos no estúdio com o bom humor de costume, mas sem esconder o cansaço. O dia ainda não acabou e Lexa tem uma consulta no dentista. “Estou vivendo um momento muito maluco, mas que sempre sonhei e corri atrás para ele acontecer. Estou realizando um sonho que, de onde eu vim, era muito improvável, por isso que tenho esse sorriso largo de gratidão”, conta ela, que dorme apenas quatro horas por noite.

A vida pessoal também está como ela queria. Casada com Mc Guimê desde maio do ano passado, Lexa ama o sossego de sua mansão em São Paulo e espera no futuro dividi-la com seus filhos. “Hoje entendo que tenho que aproveitar esse momento. Trabalho full time. Daqui dez anos, me imagino cantando e fazendo meus shows, mas de forma mais moderada. Quero ter filhos e uma vida um pouco mais sossegada.”

Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Como começou a sua relação com a música?
É muito inexplicável quando a música faz parte da nossa vida. Não é uma escolha nossa. Parece que fui predestinada. Sempre amei música, desde pequena. Aos seis anos de idade, aprendi a tocar piano. Com dez anos, tocava tamborim. Olha a coordenação motora de uma criança para tocar esse instrumento! Sempre fui encantada por música. Não tinha escapatória. Tinha que me jogar de coração nisso. Passei em quinto lugar na Federal do Rio, mas a música falou mais alto. Não estava feliz ali. Resolvi seguir o meu coração e a minha família me apoiou muito neste processo.

E como foi a decisão de cantar funk?
Eu sempre vivi a comunidade e periferia dentro da minha vida. Minha avó morava ali e eu ficava muito com ela. A realidade do funk era muito próximo de mim. Amei o funk desde pequena. Só que sempre amei estudar e me dedicar a tudo que fazia. Então uni as duas coisas. Eu tenho sede de conhecimento. Agrego todo esse estudo e força de vontade ao meu trabalho. Coloco qualidade vocal, abro terças e faço melismas, que são mais difíceis de se ver no funk. Tem dado certo. Nunca tive vergonha de dizer: “Você pode me ensinar”. Também nunca quis passar por sabichona e isso me ajudou muito.

Você deve ter tido que lidar com o preconceito por fazer essa escolha profissional, já que o funk já foi muito marginalizado…
O funk cresceu muito, mas já escutei coisas muito baixas e nojentas. Tive que ser muito forte. É duro porque eu não entendia o motivo das pessoas querem machucar e humilhar as outros. Por eu ser mulher, cantando funk e ter largado a faculdade, sofri muito preconceito. Tive que enfrentar muito machismo e pessoas falando que não ia dar certo. A maioria sempre tentou me puxar para trás, mas eu tenho uma boa base familiar e soube falar não. Por mais que parecesse que o caminho fosse ser mais curto se eu aceitasse aquilo. Mas entendi que aquilo ali ia virar alguma coisa que não ia parar. Preferi ir pelo caminho mais complicado. Me lembro que um jornalista até falou: “Você não entra muito em polêmicas”. Eu corro disso. Tive possibilidade de chegar mais rápido ao sucesso, mas preferi um caminho mais duradouro e de mais caráter.

Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Lexa Aspas (Foto:  )

Você disse que sofreu assédio. Em que situação isso aconteceu?
Eu tinha 18 anos e ia fazer um show. Quando o DJ olhou para mim e disse “você tem que ir ali atrás da caixa de som para fazer o que eu quiser” foi a primeira vez que alguém tinha falado claramente coisas tão nojentas para mim. Eu já estava lidando com algumas coisas desse tipo, mas essa foi a mais forte. A minha mãe se botou na minha frente. Ela me pegou pelo braço e me levou embora. Naquela hora bateu uma dúvida. Será que é isso mesmo? Vou ter que ficar ouvindo isso? Eu estava na minha faculdade e tinha meu trabalho na padaria, que era humilde, mas era um trabalho. Eu queria viver da música e coloquei na minha cabeça que aquilo poderia acontecer de novo, mas que eu falaria “não” e xingaria se fosse preciso.

Como foi ser criada por uma mulher tão forte?
A minha mãe me teve muito novinha porque ela se sentia muito sozinha. Ela falou que queria ter filha nova. Ela diz para mim que fui planejada. É muito incrível ter uma mulher forte, que foi mãe solteira e que sempre correu atrás de tudo para que não faltasse nada para os filhos. Minha mãe é uma grande referência para mim. Não é fácil trabalhar junto com família, mas a gente está aprendendo cada dia mais uma com a outra. É uma troca muito especial. Por ela ser uma mãe jovem é mais legal ainda. Ela é animada, para cima, alto-astral e incrível. Minha mãe mudou muito. Ela era mais cabeça fechada, mas hoje a gente brinda muito, bebe juntas, a gente é parceira de copo e da vida. Somos amigas, sócias e mãe e filha. Ela usa todas as minhas roupas também e não devolve (risos).

Você parece sempre muito amigável e aquele tipo de pessoa que confia no outro. Já se deu muito mal por ser assim?
Sou muito aberta e me dou mal muitas vezes porque abro o meu coração. Prefiro continuar acreditando no ser humano. No dia que eu desacreditar nada vai fazer sentido. Prefiro me entregar de coração e ser sincera. Por mais que as pessoas pequem com você, a sua bondade vai voltar para você. Eu parto do princípio do plantar e colher. Planto o bem e assim acredito que colho o bem. Mas isso não quer dizer que eu seja boba. Sou pessoa ligada e sei o que está acontecendo. Cada ano que passa, estou mais esperta e madura.

Lexa Aspas (Foto:  )
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

No Carnaval deste ano você sofreu um golpe e não teve o trio elétrico que tinha pagado para poder se apresentar em São Paulo…
A gente confia nas pessoas. Confiei neste episódio do Carnaval e não aconteceu do jeito combinado. Fiquei muito triste porque não era só comigo. Várias pessoas saíram de suas casas para isso. Tirei gente de Salvador e tantos outros lugares do Brasil. Era um sonho meu! Fui enganada e sofri danos financeiros. Tive meu sonho interrompido por má fé de pessoas. Mas Deus é bom e tem males que vem para o bem. A sororidade veio provar isso. A Anitta e Preta Gil estiveram do meu lado neste momento e fizeram do meu Carnaval tão especial quanto se o meu trio tivesse saído. Foi uma lição ali também.

A gente não via tanto essa união das cantoras no passado. As artistas estão mais unidas mesmo?
Essa união vem crescendo de uma forma linda. As mulheres vem se apoiando demais e a gente tem que falar muito sobre isso para motivar e incentivar mulheres no seu dia a dia a se unir. A Anitta, Preta e Pabllo (Vittar) mostram que existe essa união. Estou sentindo uma coisa muito boa e linda. Uma amizade tem crescido com a Luisa (Sonza), a Lellezinha, a Pabllo, que é uma irmã, a Anitta, que é uma grande parceira, e a Preta.

Existiu de fato a rivalidade entre você e a Anitta?
Sempre foram boatos. Criaram uma rivalidade que nunca existiu. Eram momentos e histórias diferentes. Criaram para gerar nota, mas não me ajudou em nada. Não foi legal. Todas as vezes que a Anitta, Ludmilla e Preta me encontraram fui tratada com muito respeito e carinho.

Esses boatos te prejudicaram?
Fui bem subestimada. Muitas pessoas desacreditaram em mim. Tive muitos problemas de comparações, discórdia, criaram coisas inimagináveis e que não existiam. Fui colocada na parede muitas vezes. Tive que passar por muita coisa para conseguir chegar aonde estou, mas que bom que fui forte para passar por tudo isso. Isso não quer dizer que eu não tenha chorado muitas vezes no banheiro, que eu não tenha sido frágil. Eu era muito nova. Hoje tenho cinco anos de carreira. Estou com 24 anos de idade. A noite te ensina muito. É um banho de ensinamento. Você vai ficando esperta e aprendendo a criar uma barreira e autodefesa.

Lexa Aspas (Foto:  )
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Desde o início, sua carreira foi bem planejada. Teve aulas de canto, assistência de fonoaudióloga, psicóloga e até passou por cirurgias plásticas após um estudo de seu visual. Como foi viver por tudo isso sem perder sua essência?  
Eu entendi logo no início da minha carreira o que aconteceu comigo. Foi um estudo de imagem, que via o que eu poderia melhorar. Às vezes, as pessoas mudam e junto com ela a personalidade. Não sei se foi pela forma como fui criada, mas sou mais madura. Eu aprendi muita coisa. Que bom que a gente pode mudar nossos pensamentos. Pessoas estáticas não crescem. A gente tem que ter essa habilidade. Foi isso que aconteceu comigo. Fui aprendendo e não deixei que a minha essência e caráter mudasse. Tudo foi de forma positiva. Coloquei silicone, troquei a cor do meu cabelo, aprendi a me maquiar. São coisas que a maioria dos artistas passam. Fiquei mais capacitada e com uma imagem mais popular.

Como é fazer parte de um reality show?
Fui convidada pelo GNT para gravar toda essa loucura, bastidores e o lado mais humano. É uma chance das pessoas entenderem todo o processo de criação e todo esse universo da música. Estou realizando um sonho que, de onde eu vim, era muito improvável, por isso que tenho esse sorriso largo de gratidão. Eu sempre quis chegar aqui, mas não sabia que ia conseguir. No reality show vocês vão ver que também tenho problemas, fico triste, tenho dor de cabeça… Mas no geral sou uma pessoa para cima. Às vezes não tive um dia legal, mas quando subo no palco, respiro fundo e penso no que as pessoas esperam receber ali, que é alegria. Esqueço tudo e vou. Daí entra a Lexa em ação, a cantora que quer levar entretenimento e alegria para as pessoas.

Lexa Aspas (Foto:  )
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

O que gosta de fazer no seu tempo livre?
Eu amo sair com as minhas amigas. São poucas, mas são incríveis. Gosto de beber com elas e meu marido, de ir ao cinema, amo maratona de série. Sou bem gente como a gente. Gosto de ir à igreja no tempo vago porque trabalho muito esse lance de energia e fé. Eu acredito nas cargas da vida. Vou na igreja para abrir meu coração e reestruturar a minha alma.

Você mora em uma mansão em São Paulo. Dá tempo de aproveitar o seu lar?
Com essa vida louca e muito corrida, eu quase não fico na minha casa. Lá é o lugar que ficam as minhas roupas e a minha cama oficial. Tem lugares na minha casa que eu nem uso porque ela é muito grande. Mesmo assim conheço tudo e sei quando alguma coisa está fora do meu lugar. Eu sou daquelas que chega em casa e pega um pano para limpar o chão sujo. Eu cuido da minha casa! Também tenho esse momento mulher dentro da minha casa, além do palco.

Por falar em casamento, vocês fizeram um ano de casados. O que aprendeu neste período?
Neste um ano de casamento aprendi que tenho um norte. Posso virar o mundo, mas tenho pra onde voltar e tenho uma pessoa que me ama inteiramente. Meu casamento não é perfeito. É cheio de brigas bobas, mas está tudo bem. Não quero uma pessoa perfeita. A gente vive em processo de evolução. Eu cresci muito depois do meu casamento. Amadureci 1000%. Foi algo muito importante. Amadureci no ponto de aprender a conviver com o próximo e respeitá-lo com suas diferenças, amar a pessoa do jeito que ela é. E tem que ser aberto a mudanças. Casamento é equilíbrio. Tem que saber ceder. Eu mudei muito. Meu marido também. A gente vai crescendo junto. Esse é o objetivo do casamento, a troca sincera, a parceria e o crescimento.

Lexa Aspas (Foto:  )
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)
Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Neste ano, o Guimê foi detido por porte de maconha. Como foi passar por esse momento? 
Eu posso tentar mudar a pessoa, mas acho errado. Ela tem que fazer isso naturalmente. Eu tenho que respeitar o jeito do meu marido. Posso aconselhar. Se é algo que não me atinja e não me falte respeito, tenho que entender e aprender a lidar. Estou do lado dele para fazer o melhor, apoiar as coisas boas e positivas. Não estou aqui para forçar ninguém a mudar nada. Estou aqui para ser alicerce e estar de coração aberto para dar sempre boas palavras e incentivos.

Como você se imagina daqui dez anos?
Me imagino trabalhando menos e aproveitando um pouco mais a minha família. Tenho uma média muita alto de shows e outros compromissos. Sinto que a minha saúde fica debilitada com muita facilidade. Obviamente porque eu não durmo e como direito. Daqui dez anos, me imagino cantando e fazendo meus shows, mas de forma mais moderada. Hoje entendo que tenho que aproveitar esse momento. Trabalho full time. Minha média de sono é de quatro horas. Não é porque eu quero, mas porque preciso cumprir agendas e não dá para dizer “não” agora. Tenho que aproveitar. Me imagino daqui dez anos com filhos e um pouco mais sossegada.

Fotografia: Gustavo Arrais
Assistente de fotografia: Sérgio Conrado
Styling: Satt Lab
Assistente de styling: João Wesley
Cabelo: Caio Bastos
Assistente de beleza: Vinicius de Assunção
Maquiagem: Diego Borges
Assessoria de imprensa: Black Comunicação

Lexa (Foto: Gustavo Arrais/ Ed. Globo)

Créditos:

Look saia longa preta com blusa branca: body Pat Darc, saia Vitor Zerbinato, sandalia YSL, pulseira Bruno Gioia, brinco Marisa Clermann joias

Look preto com detalhes em vermelho: blazer YSL, gravata Zoe, saia Ella, Sandalia Jimmy Choo, brincos Samantaha Abrão

Look do vestido vermelho: vestido Ateliê Alexandrina, sapato Valentino e joias Dior

Look do vestido branco: vestido Emilio Pucci, scarpin Eleven Eleven, choker Mellina Machado, brinco Mariana Amaral, casaco Didier Ludov

Look da calça branca com blazer salmão: Blazer e corset Tufi Duek, calça Versace, sandalia Ego, joias Marisa Clermann joias

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