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Cagece retira tubulações clandestinas que causaram esgoto na Praia de Iracema, mas companhia nega responsabilidade

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Trecho da Praia de Iracema foi tomado por lixo na areia e mancha escura na água, na última semana

A Cagece vistoriou vários pontos apresentados pela Prefeitura de Fortaleza. A Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente reforçou que as ligações indevidas são de responsabilidade da Cagece.

 

Trecho da Praia de Iracema foi tomado por lixo na areia e mancha escura na água, na última semana

Um relatório foi apresentado, nesta segunda-feira (4), sobre os pontos apontados pela Prefeitura de Fortaleza com presença de possíveis ligações irregulares na rede de esgoto da capital. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) vistoriou alguns pontos apresentados pelo Executivo municipal e retirou nove ligações e tubulações clandestinas. Contudo, o órgão negou a responsabilidade pelas irregularidades.

O problema veio à tona quando apareceram imagens com lixo na areia e uma enorme mancha escura no mar da Praia de Iracema, no último mês de novembro. Na última semana, os problemas de mudança de cor na água e forte odor foram testemunhados por quem foi até os trechos da Praia dos Crush (na altura do Espigão da rua João Cordeiro) e do Espigão do Náutico.

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Anteriormente, o prefeito José Sarto declarou que as ligações clandestinas eram de responsabilidade da Cagece. Com isto, o órgão vistoriou os locais apontados pelo Executivo municipal entre os dias 6 e 17 de novembro, em parceria com a Ambiental Ceará.

Nesta segunda, o presidente da Cagece, Neuri Freitas, apresentou um relatório técnico após a vistoria. O documento apontou que foram constatados 22 pontos mencionados no relatório, e que apenas um era de responsabilidade da companhia. “Tratando-se de um rompimento de tubulação de água, que já foi resolvida pelas equipes técnicas”, disse a Cagece.

A companhia acrescentou que não foi encontrado nenhum lançamento de esgoto na rede de drenagem da prefeitura advinda de ligação realizada pela companhia.

“Apesar das 21 ocorrências não se tratarem de ligações realizadas pela Cagece, foi feita a retirada de tubulações antigas, desativadas e com vida útil comprometida; a supressão das ligações irregulares encontradas (realizadas por particulares) e o remanejamento das tubulações que estavam interceptando a rede de drenagem, mesmo quando não havia lançamento de esgoto à referida rede”, declarou a Cagece, em nota.

A companhia informou também que, em outros 10 pontos apresentados no relatório, foi possível constatar que se tratavam de lançamentos de águas pluviais, de piscinas ou de aparelhos de ar condicionado de estabelecimentos privados, sem qualquer relação com a Cagece.

“Por fim, ressalta-se que alguns pontos apresentados no relatório da Seuma estão com localização imprecisa, o que dificultou a realização da inspeção e resposta mais célere para os questionamentos apresentados”, complementou.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) reafirmou que 22 ligações indevidas da Cagece foram verificadas em relatório técnico do Bacia da Vertente Marítima de Fortaleza, divulgado no dia 5 de novembro. O problema foi apontado na rede de drenagem da Praia de Iracema, Poço da Draga e Riacho Maceió, no Bairro Papicu.

“O documento é resultado do projeto de vídeo inspeção realizado pela Seuma, que já percorreu mais de 140 km de galerias de drenagem com o objetivo de identificar obstruções e ligações indevidas na rede de drenagem e identificou, ao todo, mais de 300 ligações clandestinas. Além disso, mais de 580 toneladas de resíduos que obstruíam a rede de drenagem foram retiradas através desse trabalho”, coloca a secretaria municipal.

Troca de acusações

A poluição na Praia de Iracema, inclusive, gerou uma troca de acusações entre a Prefeitura de Fortaleza e a Cagece. A gestão municipal e a estatal sob responsabilidade do Governo do Ceará divergiram publicamente sobre a origem das ligações clandestinas na orla da capital.

A poluição foi causada pela presença de resíduos sólidos e líquidos, incluindo esgotos sanitários, óleo, graxas e outras substâncias capazes de oferecer riscos à saúde, conforme detalhou ao g1 a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

Ainda de acordo com o órgão, a qualidade das águas do mar é influenciada pelos sistemas de drenagem, coleta e tratamento de efluentes e pela coleta de resíduos sólidos.

Esgotos irregulares despejam lixo, óleo e graxa na Praia de Iracema, em Fortaleza — Foto: Arquivo pessoal

Esgotos irregulares despejam lixo, óleo e graxa na Praia de Iracema, em Fortaleza — Foto: Arquivo pessoal

Inicialmente, a Prefeitura de Fortaleza ressaltou que realizava a inspeção das galerias de esgoto para identificar possíveis ligações clandestinas. O problema aconteceu devido à sujeira levada até o mar por meio da rede de drenagem das águas da chuva.

Conforme a gestão, houve 3.371 fiscalizações realizadas de 2022 até setembro de 2023 sobre denúncias de imóveis não interligados à rede de esgoto. A partir destas fiscalizações, foram emitidos mais de 1.500 documentos fiscais, incluindo notificações e autos de infração.

Na ocasião, a Cagece informou que as galerias clandestinas não têm relação com a rede de esgotos ligada à companhia.

Discordâncias sobre as ligações

 

Imagens de um drone mostra mancha escura no mar da Praia de Iracema. — Foto: Daniel Bezerra/Arquivo Pessoal

Imagens de um drone mostra mancha escura no mar da Praia de Iracema. — Foto: Daniel Bezerra/Arquivo Pessoal

No dia seguinte ao registro da mancha escura, a Prefeitura de Fortaleza fez ações de limpeza no trecho próximo à Praia dos Crush.

Conforme a gestão, foi a segunda grande limpeza do local feita em menos de um mês, que fez parte de uma iniciativa conjunta entre órgãos municipais para notificação de ligações clandestinas de esgoto na rede de drenagem.

Técnicos de diversas pastas fizeram a retirada de areia escura, terraplanagem e drenagem da água acumulada na saída da galeria pluvial. No primeiro dia, foram drenados 80 mil litros de água com uso de um caminhão de sucção.

Redes clandestinas de esgoto, na Praia de Iracema
Redes clandestinas de esgoto, na Praia de Iracema

Manuela Nogueira, coordenadora de Programas Integrados da Prefeitura (COPIFor), afirmou que as equipes identificaram ligações clandestinas de esgoto, pontos de extravasamento da rede de esgoto da Cagece dentro da rede de drenagem e interrupções das galerias da rede pluvial.

Esta identificação foi possível por meio de sistema de inspeção por vídeo, contratado pela prefeitura com a utilização do robô Pluvi, que entra nas galerias e produz imagens com até 80 metros de distância.

A gestão anunciou que as imagens ajudarão a identificar imóveis e estabelecimentos responsáveis, que serão notificados sobre as irregularidades.

Repercutindo a ação de limpeza nas redes sociais, o prefeito José Sarto (PDT) mencionou a Cagece dentre os responsáveis pela poluição.

“Compartilho imagens feitas pelo nosso sistema de inspeção por vídeo das irregularidades em ligações de residenciais e na rede de esgoto da Cagece. É isso mesmo que você está vendo: irregularidades feitas pela Cagece!”, comentou o prefeito na rede social.

 

Reagindo oficialmente à publicação do prefeito, a Cagece afirmou que as informações compartilhadas por Sarto eram falsas. “A Cagece esclarece que não há nenhuma irregularidade nos sistemas de esgotamento sanitário da região da Beira-Mar da capital, que estão funcionando normalmente”, diz a estatal em nota.

A companhia rebateu, ainda, as imagens utilizadas pelo gestor nas redes sociais, afirmando que elas “não retratam nenhum sistema da Cagece, mas sim uma galeria de drenagem de águas pluviais, contendo interligação clandestina da própria população de Fortaleza”.

“Caso haja interesse da Prefeitura de Fortaleza, a Cagece poderá firmar parceria com o órgão para realizar fiscalização, operação e manutenção das galerias pluviais”, complementa o comunicado.

A Cagece destacou, ainda, que a operação e a fiscalização dos sistemas de drenagem são de responsabilidade da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) e dos outros órgãos ambientais.

Relatório com ligações identificadas

 

Prefeitura fez ação de limpeza do trecho de praia com lixo e mar com mancha escura — Foto: Daniel Calvet/Prefeitura de Fortaleza/Divulgação

Prefeitura fez ação de limpeza do trecho de praia com lixo e mar com mancha escura — Foto: Daniel Calvet/Prefeitura de Fortaleza/Divulgação

Dias após, a prefeitura trouxe novas informações com a divulgação de relatório técnico das inspeções feitas por vídeo na Praia de Iracema.

O documento da Secretaria do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) apontou 26 ligações clandestinas identificadas interferindo no sistema de drenagem nas áreas da Praia de Iracema, do Poço da Draga e do Riacho Maceió, no Papicu.

O relatório detalhou que o problema das ligações clandestinas tem duas origens: o lançamento e a ligação direta nas galerias.

O lançamento é, segundo o relatório, a ligação coletiva de esgoto onde mais de uma residência é interligada em um único ponto que chega na galeria de drenagem. O documento dividiu estes casos em dois grupos:

  • Ligações prediais coletivas: quando os imóveis da região fazem ligações irregulares e acabam despejando esgoto e resíduos nas galerias de drenagem que vão para o mar.
  • Lançamento de esgoto da Cagece: casos em que “uma rede de esgoto da Companhia lança diretamente nas galerias ou quando a rede de esgoto da Cagece atinge sua vazão máxima nos poços de vista”, extravasando os resíduos nas vias públicas, alcançando as bocas de lobo ou até mesmo lançando diretamente os resíduos na galeria de drenagem.

G1 CE

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