Ouvir Rádio: Rádio Senado | Rádio Câmara Fale Conosco

Disputa territorial entre Ceará e Piauí: entenda o que pode mudar e o que os estados defendem

0

Ação do estado do Piauí no Supremo Tribunal Federal reivindica parte do território de 13 cidades do Ceará.

Piauí reivindica no Supremo Tribunal Federal (STF) terras atualmente pertencentes ao estado do Ceará. O pedido afeta diretamente o território de 13 cidades cearenses, onde vivem cerca de 25 mil pessoas, que o Piauí diz ter provas históricas sobre a jurisdição da região. Pesquisadores cearenses, no entanto, dizem ter documentos que provam o contrário.

Um estudo preliminar do Exército entende que a divisa entre os estados deve mais ao leste do que o afirmado pelo Piauí. Se a ação for aprovada conforme essa avaliação, o Ceará perde uma fatia ainda maior de seu território, com 245 mil habitantes e a sede de sete municípios.

Diante do conflito entre as duas unidades da federação e informações que se contradizem, o g1 preparou uma reportagem que explica o que se sabeo que falta saber e o que alegam os defensores de cada lado do litígio.

Leia a seguir a resposta para os seguintes conteúdos:

  • O que dizem Ceará e Piauí na disputa pelo território?
  • Quais critérios definem a divisa entre os estados?
  • Quais os interesses na reivindicação das terras?
  • Quem pode definir que pedaço de terra é do Piauí e qual é do Ceará?
  • Qual a origem do litígio?
  • Já houve casos similares no Brasil?
  • Caso o Piauí vença a ação, os cearenses serão piauienses?
  • Se o STF julgar a ação procedente, em que cidade do Piauí os cearenses vão morar?

O que dizem Ceará e Piauí na disputa pelo território?

Historiadores e pesquisadores dos dois estados alegam ter documentos históricos legais que comprovam a jurisdição sobre o território da Serra da Ibiapaba, a região disputada entre os estados.

O que Ceará e Piauí alegam sobre a área de litígio entre os estados

O que defende o PiauíO que defende o Ceará
Conforme o geógrafo Eric de Melo, o Ceará “avançou” em terras piauienses e se apossou do território. A Procuradoria-Geral do Piauí pede no STF que a divisa siga um critério geográfico: a partir da Serra da Ibiapaba, as terras a oeste são do Piauí; e a leste, do Ceará. A Procuradoria pede que o STF reconheça como válido um decreto de 1880 que define a divisa dos estados conforme esse critério.O historiador João Bosco Gaspar afirma que há um decreto do século XIX, aprovado na Câmara e no Senado Imperial, definindo as terras a oeste da Serra da Ibiapaba como cearenses. Segundo pesquisadores e políticos cearenses, esse documento leva em consideração a cultura local e afirma que os moradores da divisa se reconhecem como cearenses.

Fonte: Levantamento g1

Quais critérios definem a divisa entre os estados?

Litígio no Ceará — Foto: Arte g1

Litígio no Ceará — Foto: Arte g1

Conforme ação do estado do Piauí, a Serra da Ibiapaba divide o território dos dois estados. Um estudo do Exército solicitado pelo STF e pago pelo estado do Piauí define que a divisa entre as duas unidades da federação é mais a oeste, ou seja, o Ceará deveria devolver ao estado vizinho um território ainda maior que o solicitado na ação.

Se a ação do STF for aceita conforme o estudo do Exército, o Ceará perderia território de 14 cidades, incluindo sete sedes administrativas.

O Ceará, por sua vez, afirma que a população da área de litígio é legalmente cearense com base não em critérios geográficos, mas conforme a identidade cultural.

“Minha defesa é permanente e nós temos o direito das pessoas, o seu direito de ser e continuar cearense”, defendeu a governadora do Ceará, Izolda Cela.

Quais os interesses na reivindicação das terras?

Ceasa de Tianguá: região da Ibiapaba, área de litígio entre Ceará e Piauí, tem forte produção no agronegócio e energia limpa — Foto: Governo do Ceará

Ceasa de Tianguá: região da Ibiapaba, área de litígio entre Ceará e Piauí, tem forte produção no agronegócio e energia limpa — Foto: Governo do Ceará

A região da Ibiapaba é uma área de forte potencial na geração de energia limpa e no agronegócio e tem pontos turísticos que recebem milhares de visitantes. Na avaliação de políticos e empresários cearenses ouvidos pelo g1, o Piauí tem interesse econômico na região.

O procurador do Piauí que defende a ação, Luiz Filipe, nega que a intenção seja econômica e diz que o objetivo é fazer o reparo histórico de terra “comprovadamente” piauiense.

“A ação é pautada no interesse jurídico, a indefinição gera uma insegurança jurídica. Se houver repercussão econômica, não é objeto dessa ação. Existem dados geográficos que fundamentam a ação. É uma ação bem embasada com fatos históricos e jurídicos, não é nenhuma ação aventureira”, diz.

Se a ação for favorável ao Piauí, as pessoas na área de litígio também deverão pagar impostos municipais e estaduais às cidades e ao estado do Piauí.

Divisa do Ceará com Piauí, conforme definida pelo Exército, define como piauiense território onde há aeroporto, escolas e unidades de saúde de municípios e do estado do Ceará — Foto: Arte g1

Divisa do Ceará com Piauí, conforme definida pelo Exército, define como piauiense território onde há aeroporto, escolas e unidades de saúde de municípios e do estado do Ceará — Foto: Arte g1

Quem pode definir que pedaço de terra e do Piauí e qual é do Ceará?

A decisão será do STF. A ação está sob relatoria da ministra Cármen Lúcia e não há prazo para ocorrer o julgamento. Os ministros podem decidir ou não por uma nova divisão de terras.

Não está claro se os ministros do Supremo vão considerar uma nova divisa conforme o solicitado pelo estado do Piauí ou se baseado no estudo do Exército.

Qual a origem do litígio?

O conflito sobre a jurisdição das terras já tem mais de 140 anos. Conforme pesquisadores, o litígio ocorre por uma série de fatores:

  • moradores do Piauí na região de divisa com o Ceará buscaram serviços públicos como educação e saúde no Ceará e passaram a se considerar culturalmente como cearenses;
  • cidades cearenses se expandiram em direção ao território piauiense;
  • falta de clareza de documentos antigos, do século XIX;
  • decretos da época do Império que se contradizem; Piauí e Ceará se baseiam nos registros que defendem as terras como sendo de sua jurisdição.

Já houve casos similares no Brasil?

Sim. Há vários registros históricos envolvendo a divisa de estados de todas as regiões do Brasil. Em um caso mais recente, o Piauí obteve no STF, em decisão de 2020, territórios que estavam sob jurisdição de Tocantins.

Em junho deste ano, governados da Bahia e Tocantins assinaram um acordo sobre a definição da divisa entre os dois estados.

Caso o Piauí vença a ação, os cearenses serão piauienses?

Não. Não haverá mudança na identidade e nos documentos de identidade. As pessoas que nascerão na região após uma possível mudança, no entanto, serão nascidas piauienses.

O registro de moradia deverá ser alterado para o de uma cidade do Piauí. As pessoas também deverão buscar serviços públicos do Piauí.

Se o STF julgar a ação procedente, em que cidade do Piauí os cearenses vão morar?

Ainda não há definição nesse sentido. O Piauí pede ao STF duas coisas: reconhecimento da área de litígio como sendo piauiense e demarcação das terras para evitar futuros conflitos.

Caso a ação seja julgada procedente, o Piauí fará um novo estudo para definir quais cidades piauienses ficarão com cada trecho de terra das cidades cearenses.

G1 CE

Compartilhe

Deixe um comentário