Empresário José Roberto Nogueira é homenageado com o Troféu Sereia de Ouro 2023

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O Troféu Sereia de Ouro foi criado pelo industrial Edson Queiroz para homenagear personalidades que contribuem para o desenvolvimento e projeção do Ceará.

A TV Verdes Mares exibe uma série de reportagens sobre os homenageados com o Troféu Sereia de Ouro, que em 2023 chega a quinquagésima primeira edição.

Uma mente atenta, sempre em busca de soluções.

“Um movimento sem fim. Eu vou estar aos 99 anos abrindo novos negócios”.

José Roberto Nogueira é um empreendedor inquieto e realizador. Nasceu na zona rural de Pereiro, a trezentos e trinta quilômetros de Fortaleza. E aqui criou a Brisanet, empresa de telecomunicações que hoje atua nos nove estados do Nordeste. Tem 280 data centers espalhados pela região. Mais de 7 mil funcionários.

“É a maior empresa genuinamente nacional de telecomunicação. A Brisanet hoje é a empresa que mais conecta em fibra ótica no Nordeste”, conta o empresário.

A sede da empresa, em pereiro, emprega 3.500 pessoas na região. Uma delas é o Lucas, que saiu do interior para fazer faculdade em natal, mas voltou depois de formado porque conseguiu emprego aqui como engenheiro mecânico.

“Para mim é muito bom poder trabalhar na área de tecnologia. Principalmente aqui na Brisanet que a gente sempre tá trabalhando com a ponta da tecnologia e sempre tá se desenvolvendo com as atualidades do mercado”, diz Everton Lucas, analista de redes e comunicação de dados da Brisanet.

Para transformar a realidade em toda a região, a caminhada foi longa. Roberto é de uma família de onze filhos. Nasceu e cresceu no sertão. Começou a estudar aos 10 anos e ainda na infância definiu o que queria fazer da vida.

“Eu já comecei a despertar para área de tecnologia quando aos 13 anos em minha meu pai adquiriu um rádio. Então naquele momento foi um despertar. Inclusive quando eu cheguei da roça estava sendo instalado aquele equipamento que falava, sem nada se movimentar. Então houve aquele estalo, que eu defini naquele momento que iria estudar eletrônica no futuro”, lembra José Roberto.

O começo dos estudos na área foi fazendo cursos à distância. Neste quadro, o registro de um dos primeiros resultados práticos do que aprendia, experiência feita com uma bicicleta.

Fiz todo o elo de ataque da hélice e toda a estrutura de madeira, motor velho, e mandava sem precisar de pedalar, ou seja, com a tração, a hélice parecia uma aeronave em deslocamento.

A bicicleta foi deixada para trás quando ele decidiu ir mais longe. Como era comum na época, foi em busca de oportunidades em São José dos Campos, interior de São Paulo.

São José dos Campos era o Vale do Silício brasileiro. Onde estava todas as empresas voltadas para a indústria bélica.

O objetivo era trabalhar na Embraer, a empresa brasileira fabricante de aviões. E ele conseguiu. Mas trabalhar onde sempre quis não tirou da cabeça do Roberto um outro sonho.

“O objetivo era voltar e trazer tecnologia para desenvolver uma região. Em meados de 1992, vim junto pra cidade de Pau dos Ferros, com 30 computadores, e montei uma escola de informática. A primeira escola de informática num raio de 300 km.”

O hoje gerente de infraestrutura civil da Brisanet França Reis foi um dos alunos da escola de informática.

Na escola onde eu estudava fui um dos três alunos sorteados com essa bolsa e foi o meu primeiro contato com a informática e o início da minha jornada com o Roberto.

Tempos depois, França recebeu um convite. Ir para São Paulo para trabalhar na primeira empresa que Roberto criou.

“E montei uma empresa de manutenção de computadores e venda de computadores”, diz Roberto.

Depois, veio outro negócio.

“Comecei a fabricar pequenas máquinas para fabricar antena parabólica, no fundo do quintal”, conta.

Quando a internet chegou ao Brasil, Roberto traçou uma nova meta.

“Resolvi pesquisar uma outra forma de como levar a internet para uma casa sem precisar de linha telefônica”.

Nascia aí o embrião da Brisanet, a empresa criada com a missão de transmitir o sinal de internet com custo acessível para os locais mais distantes.

“Esse foi o momento grande que foi de se encontrar uma solução de levar a internet a uma casa, uma residência comum, sem gastar milhares de dólares”, diz o empresário.

A primeira torre instalada pela empresa fica exatamente na divisa entre dois estados. De um lado fica Pereiro, no Ceará. Do outro, São Miguel, no Rio Grande do Norte. A cerca de treze quilômetros daqui já é a Paraíba. Uma localização estratégica para concretizar o sonho de conectar o interior do nordeste com o mundo.

“Começamos um negócio chamado internet a rádio, que não era conhecido no Brasil em lugar nenhum e só quatro anos depois é que já existia no mercado soluções prontas de fácil acesso. E como a Brisanet já estava com esse movimento na região, próximo de 50 cidades, aí o Brasil começou o processo de conectividade de baixo custo em pequenas cidades, áreas rurais”.

O primeiro funcionário da empresa foi França. E, desde então, eles caminham juntos.

“Ele me deu oportunidade, assim como hoje milhares de pessoas que trabalham com o Roberto têm também essa história. Começaram sem nenhum conhecimento, mas foram capacitadas e hoje trabalham nessa área”, diz França Reis.

Hoje a Brisanet é líder em acessos de banda larga fixa no Nordeste. Tem licença para explorar a tecnologia 5g no Nordeste e no Centro-Oeste. Em 2021 passou a ser uma empresa de capital aberto.

O empresário João Teixeira acompanhou de perto a evolução da empresa, que conheceu no fim dos anos 1990, quando buscava alternativas para melhorar a comunicação com a área de produção de fruticultura que mantém no interior do Ceará. Virou cliente e, logo depois, amigo do Roberto.

“Visionário, pioneiro, empreendedor, inovador, um eterno inovador”, classifica João Teixeira sobre José Roberto.

Mesmo conectado com o mundo, Roberto sempre teve os pés fincados na zona rural. Até sair da terra onde nasceu, com 21 anos, José Roberto Nogueira vivia da agricultura. E mesmo depois de trabalhar com tecnologia e de criar a própria empresa, ele não esqueceu as origens. Em Pereiro, implantou uma área experimental voltada para a agricultura familiar. Uma espécie de vitrine para incentivar e ajudar pequenos agricultores.

Na área de pouco mais de um hectare, em vez de milho e feijão, o espaço é para a fruticultura. Trinta e cinco espécies e variedades de frutas, algumas exóticas, como a pitaya, produzida em pleno semiárido. O sistema de irrigação é automatizado. No período de estiagem, a plantação recebe só água suficiente para se manter viva até a chuva chegar.

“Esse experimento, já homologado, já pode pequenos agricultores seguir, fazendo similar a esse modelo, aqui a busca foi por eficiência extrema do uso da água”, explica José Roberto.

Nouglas Veloso é o engenheiro-agrônomo responsável pela produção na área. E a orientação que recebe de Roberto é ter como foco sempre o pequeno agricultor.

“A gente percebe que alavancou. Eles vindo, procurando a gente atrás dessas tecnologias que estão sendo mostradas hoje, que é o gotejamento, a parte da irrigação da planta”, conta Nouglas.

“E essa mudança eu acredito que vá disseminar pro Nordeste inteiro nos próximos anos. Vai trazer um retorno muito grande pra essa população que não tem uma luz no fim do túnel de como sobreviver em pleno semiárido”, completa José Roberto.

Um cearense que transformou dificuldade em oportunidade, que democratizou o acesso à internet e à tecnologia para quem mais precisa. José Roberto Nogueira é um dos homenageados com o Troféu Sereia de Ouro.

“Foi uma surpresa grande. Hoje tenho a consciência de que nós fizemos um grande trabalho. Sempre um presente como esse fortalece mais ainda, traz mais energia para a gente, acelera mais”, afirma o empresário.

G1 CE