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Fósseis do Ceará são contrabandeados e vendidos nos EUA, Japão e Europa

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Um tesouro histórico ameaçado. Reconhecido como um dos mais importantes e completos depósitos de fósseis do planeta, a Bacia do Araripe, no Sul do Ceará, é alvo de traficantes que enviam para fora do país registros só encontrados na região. Tamanha é a grandeza dos sítios paleontológicos da região que, das 50 espécies de pterossauros descritas no mundo, 23 foram identificadas na chapada do Araripe.

“A Bacia do Araripe é como se a gente tivesse uma janela aberta para observar o [período] cretáceo, há mais ou menos 120 milhões de anos. Todos os grupos de seres vivos que o habitaram, que passaram aqui por essa região, deixaram seus restos preservados nas rochas que hoje são exploradas”, explica o professor Álamo Saraiva, coordenador das pesquisas paleontológicas na Bacia do Araripe.

A lei estabelece que todos os fósseis encontrados em solo brasileiro pertencem à União e sua comercialização é proibida. Mas a facilidade de compra e venda de fósseis, dentro e fora do Brasil, assusta pesquisadores e autoridades colocando em risco patrimônio e as pesquisas paleontológicas brasileiras em favor de um mercado internacional multimilionário.

Rede de tráfico

“Existe uma rede grande envolvendo o tráfico de fósseis. Existe um laboratório clandestino de preparação de fosseis aqui na região do Cariri, servindo diretamente ao tráfico. Envolve muito dinheiro, essa quadrilha é muito grande e ela age aqui na região do Cariri há mais de 20 anos”, explica Álamo Saraiva.

A riqueza paleontológica da região é tão grande que nem é preciso ser um estudioso ou dominar a técnica de retirada de fósseis. Qualquer pessoa pode encontrar peças de valor arqueológico, principalmente em áreas de extração de calcério, onde fósseis raros acabam indo parar nas mãos dos trabalhadores, que já aprenderam a identificar quando encontram um.

“Quando abre aqui, às vezes, tem nele, tem fora. Aqui é a veia da pedra aqui e a gente abre e às vezes eles estão dentro”, revela Tiago Lima do Nascimento, limpador de pedra.

“Há muitos anos sempre tinha pessoas que comercializava, mas agora não, tudo mudou, ninguém comercializa mais não. Agora, a gente sempre acha e doa pro depósito da empresa onde os universitários vêm e o patrão entrega para os estudos”, afirma José Gomes da Costa, serrador de pedra.

No entanto, nem sempre os fósseis são entregues às pessoas certas. O pesquisador Álamo Saraiva divide com os trabalhadores a mesma área de extração das pedras e diz que muitos atravessadores já sabem que é fácil encontrar raridades em locais como este e que eles buscam fósseis daqui para vender a traficantes. Ao todo, são 92 frentes de exploração de calcário laminado na Região da Chapada do Araripe.

“Via de regra, o trabalhador do calcário laminado não ganha bem. Então, qualquer coisa que apareça que possa complementar sua renda é motivo de alegria para eles, contudo, é um prejuízo pra o patrimônio brasileiro”, ressaltao pesquisador.

Dinossauro ‘cearense’ na França

O único fóssil completo do pterossauro Tapejara navigans no mundo, encontrado na Bacia do Araripe (Foto: Marcos Santos/USP Imagens) O único fóssil completo do pterossauro Tapejara navigans no mundo, encontrado na Bacia do Araripe (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O único fóssil completo do pterossauro Tapejara navigans no mundo, encontrado na Bacia do Araripe (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O caminho certo para os fósseis encontrados deveria ser o Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri, onde eles são preparados para a identificação e estudo. De lá, alguns deles podem seguir para o museu da região, que reúne mais de 11 mil fósseis.

G1

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