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‘Há várias linhas de investigação, nenhuma foi descartada’, diz MPF sobre conflito e morte de índio

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O Ministério Público Federal (MPF) declarou na tarde desta segunda-feira (29), durante coletiva, que não há indícios de invasão na aldeia Waiãpi, que fica no Oeste do Amapá, após a morte de um indígena e denúncia de conflito com garimpeiros. Mas, a conclusão parcial das investigações feitas pela Polícia Federal (PF) não descarta nenhuma linha de investigação.

“Na madrugada de sábado para domingo, entramos em contato com as autoridades e informamos que era necessário ter bastante cautela. Hoje [segunda-feira, 29] pela manhã, as equipes da PF e Bope retornaram com algumas conclusões preliminares. A circunstâncias ainda serão esclarecidas. Com o que foi colhido, ainda não há uma linha de investigação, são várias linhas”, disse o procurador do MPF, Rodolfo Lopes.

O MPF detalhou que as equipes, formadas por 26 agentes da PF e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Amapá, foram guiadas pelos próprios indígenas, que indicaram onde teria ocorrido as supostas invasões.

“A perícia, de forma bastante minuciosa e detalhista, não encontrou pegadas, restos de fogueiras, objetos, nada que indicasse presença humana no local. Nessa oportunidade, a comunidade colocou duas embarcações à disposição pra analisar essas áreas”, explicou.

Pela manhã, o Exército Brasileiro já havia declarado que a perícia da PF não encontrou indícios de que houve invasão de garimpeiros e nem conflito com índios Waiãpi. No fim da manhã, a Fundação Nacional do Índio (Funai) certificou, em nota, que não houve presença de grupo armado no local e que, de acordo com a equipe, “será feito um relatório pormenorizado, contendo até os pontos georreferenciados”.

PF diz que não encontrou indícios sobre a presença de garimpeiros na terra indígena Waiãpi
Jornal Hoje
PF diz que não encontrou indícios sobre a presença de garimpeiros na terra indígena Waiãpi

PF diz que não encontrou indícios sobre a presença de garimpeiros na terra indígena Waiãpi

Apesar da declaração do Exército de que não foi encontrado rastro de invasão, o MPF afirma que as investigações ainda estão em curso e que até o fim da semana, a PF deve concluir o relatório com fotos e algumas conclusões. O MPF informou que não foram descartadas outras diligências, a exemplo de envio de helicóptero e outras analises necessárias.

“Estamos afirmando que não se confirmaram as informações iniciais. As investigações ainda estão em curso. Acredito que até o final desta semana a PF vai concluir o relatório circunstanciado, com imagens, fotos, coordenadas geográficas, especificando todos os locais que foram visitados e com algumas conclusões dessa diligência inicial na terra indígena”, reforçou o procurador.

O MPF adiantou que vai ser aberto um processo criminal para apurar a morte do indígena.

Também na tarde desta segunda-feira, o Conselho das Aldeias Wajãpi divulgou nota relatando que os indígenas continuam preocupados com a situação.

“Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso”, diz a nota.

Sobre a saída dos indígenas das suas terras, o Ministério Público não soube informar. Disse que nas regiões onde os representantes levaram os policiais não havia vestígios de desocupação, de que os habitantes teriam saído às pressas.

Investigação

A Funai e a Polícia Militar (PM) do Amapá confirmaram que um cacique foi morto na região na última semana. As duas situações, denúncia de invasão e morte, são investigadas com cautela pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Funai e pela PF.

Segundo o Exército, a PF encaminhou agentes no domingo (28) para a região, que investigaram os possíveis rastros de garimpeiros, com uso de peritos florestais, drones e outros equipamentos. Tropas do Exército não chegaram a ser enviadas para a terra indígena.

Matheus Leitão, do blog de política do G1, citou que, segundo a antropóloga Dominique Tilkin Gallois, professora da Universidade de São Paulo (USP) e com trabalhos há mais de 30 anos sobre a região, as invasões ocorrem desde 1971, antes mesmo da instalação de um posto da Funai na região.

Morte

A PF segue apurando a morte do índio, declarou o comandante do Exército no Amapá, general Viana Filho. A vítima foi identificada como Emyra Waiãpi. Ele tinha 62 anos e era um dos líderes do povo Waiãpi, segundo a PM.

corpo tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica, segundo a PM do Amapá, que enviou equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) à região também no domingo.

A morte do líder indígena ocorreu em 23 de julho, mas as autoridades de segurança foram alertadas apenas no sábado.

O Exército afirmou que a PF deu como concluída a investigação sobre a invasão, mas que a morte ainda está em investigação. Através de nota, o Conselho das Aldeias Waiãpi – Apina se manifestou e divulgou informações colhidas com os indígenas da região, reforçando que “a morte não foi testemunhada por nenhum Waiãpi e só foi descoberta na manhã seguinte [23 de julho]”.

A entidade citou que foram encontrados rastros no entorno da aldeia que indicam que a morte do líder indígena foi causada por “não-indígenas”. O conselho relata que houve a invasão de homens que se instalaram em uma das casas da aldeia Mariry.

Mapa - invasão de garimpeiros em terra indígena — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1Mapa - invasão de garimpeiros em terra indígena — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1

Mapa – invasão de garimpeiros em terra indígena — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1

Relatos de conflito

Os relatos de conflitos começaram no último sábado e documentos de servidores da Funai afirmam que cerca de 15 invasores passaram uma noite na aldeia Yvytotõ de forma “impositiva” e “de posse de armas de fogo de grosso calibre”.

Por meio de nota, a Funai falou sobre a denúncia de morte do indígena Emyra Waiãpi, no dia 23 na Aldeia Mariry, e disse que precisa de mais informações sobre o caso.

Por G1 AP — Macapá

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