A família da empregada doméstica Antônia Palhares Cavalcante, 62, e de Sandra Regia Palhares Cavalcante, 38, teve alívio dobrado, nesta semana. Após 13 dias internadas por complicações de Covid-19, mãe e filha receberam alta na terça-feira (16), no Hospital São Lucas, localizado na cidade de Crateús, no interior do Ceará.
Sandra tem Síndrome de Down, e Antônia possui problemas de pressão alta, sendo ambas de grupo de risco para a doença. A mãe ainda se recuperava de uma cirurgia para reduzir problemas de circulação quando contraiu o novo coronavírus. As duas começaram a sentir os sintomas na mesma época que o pai da família, Manuel Cavalcante, 78, vítima da doença no início desse mês.
Na tarde do dia 3 de junho, após oito dias de avanço dos sintomas, Antônia e Sandra deram entrada no Hospital São Lucas. A filha já chegou para atendimento com falta de ar. “Nós fizemos o exame da minha irmã para saber como estava a situação dela. O pulmão estava 55% afetado”, conta o empresário Alessandro Cavalcante, 41, filho de Antônia.
Para ele, a alta hospitalar foi um conforto. “Foi um alívio receber elas em casa depois de tanto tempo”, confessa. “Eu corri o risco de perder os três no mesmo período. Minha família era seis pessoas, vão ficar só três agora?”, relembra, emocionado.
Alessandro reside em Tauá, a 137 km do município de Crateús, e acompanhava o estado da família à distância. “Nós estávamos todos em isolamento social. Mas, em abril, o meu pai começou a tossir e ter febre, e foi internado com suspeita de Covid-19. Quando ele faleceu, eu fui para mais perto para cuidar da minha mãe e da minha irmã que eram grupo de risco”, revela.
Na casa, além de Antônia, Manuel e Sandra, moravam também um irmão e um sobrinho de Alessandro. “Minha mãe e irmã não saíam de casa fazia mais de dois meses. Foi tudo muito rápido. Em um dia, eu estava enterrando o meu pai. No outro, estava dando entrada na internação da minha mãe e da minha irmã”, recorda o empresário.
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Precauções
Para fazer o acompanhamento da família, Alessandro tomou diversos cuidados. A visita à casa da mãe só era feita para levar alimentação e o medicamento prescrito por um médico para tratar o avanço da doença.
“Ia sempre de máscara e nunca entrava em contato com elas diretamente. Meu sobrinho, que mora com eles e já tinha desenvolvido a doença, era quem fazia esse contato, ele ficava na linha de frente dos cuidados. Quando foi preciso levar elas para o hospital, fomos em carros separados para evitar contaminação”, aponta.
“Eu conversei com o médico. Pedi para minha mãe e a Sandra ficassem juntas na mesma enfermaria. Se elas fossem separadas, minha mãe ficaria preocupada e a Sandra também. A equipe atendeu muito bem o meu pedido, foram muito solícitos”, fala Alessandro sobre o acolhimento no hospital.
O estado de saúde de ambas foi acompanhado por telefone. Foi Alessandro que ficou responsável por repassar as informações da unidade de saúde e o restante da família. “O hospital me ligava sempre, todo o dia, para dar as atualizações. Eu fiquei de receber e passar para todo mundo, para evitar que eles ficassem se deslocando”, recorda.
Celebrar
Agora, mãe e filha se recuperam em casa e, apesar de sensíveis, estão estáveis. “Elas estão muito cansadas e com a imunidade muito baixa, aí o médico pediu para evitar que gente venham aqui visitar”, explica Alessandro. Mesmo que já tenham desenvolvido a doença, por recomendação médica, elas devem permanecer em isolamento domiciliar pelos próximos 30 dias.
A família prepara a festa de aniversário das duas, que completam um novo ano de vida nos próximos dias. “Eu passei nove dias de tempestade. Agora que tudo passou, é bola para frente. Minha mãe ainda está meio afetada por causa do luto do meu pai, mas a gente conversou e vimos que ele iria querer festa. A gente tem que celebrar a vida. Se Deus deu a oportunidade de retornar, porque não celebrar?”.
G1 CE