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Moçambique recebeu menos de 10% da ajuda necessária para combater doenças após ciclone, diz OMS

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Por Letícia Macedo, G1


Moçambicano recebe ajuda após passagem do ciclone Kenneth na ilha do Ibo, ao norte de Pemba, em Moçambique. Imagem de 1º de maio  — Foto: Mike Hutchings/ ReutersMoçambicano recebe ajuda após passagem do ciclone Kenneth na ilha do Ibo, ao norte de Pemba, em Moçambique. Imagem de 1º de maio  — Foto: Mike Hutchings/ Reuters

Moçambicano recebe ajuda após passagem do ciclone Kenneth na ilha do Ibo, ao norte de Pemba, em Moçambique. Imagem de 1º de maio — Foto: Mike Hutchings/ Reuters

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que Moçambique só recebeu até quinta-feira (2) US$ 3 milhões dos US$ 38 milhões necessários para conter em um primeiro momento as doenças como cólera e malária — doenças comuns após desastres humanitários como os provocados pelos dois ciclones que atingiram o país com um intervalo de seis semanas.

A OMS, que apoia as iniciativas do Ministério da Saúde moçambicano na área da saúde, acompanha os esforços para recuperação da região em Sofala (centro) atingida em março pelo ciclone Idai, que deixou mais de 1000 mortos em decorrência dos fortes ventos e das inundações que afetaram parte do território por vários dias.

A situação foi agravada pelo segundo ciclone, o Kenneth, que atingiu a província de Cabo Delgado, no norte do país, na quinta-feira (25). Ao todo, mais de 2 milhões de moradores foram afetados pelas duas tempestades tropicais. Milhares de pessoas tiveram suas casas destruídas. Os sistemas de abastecimento de água e esgoto, onde existiam, ficaram seriamente comprometidos.

“Recebemos medicamentos, equipes médicas, mas dos US$ 38 milhões que precisávamos chegaram apenas cerca de US$ 3 milhões. Por isso, algumas das atividades que deveríamos levar adiante ainda estão comprometidas”, explicou ao G1 a Djamila Cabral, que representa a OMS no país desde 2016.

Até o momento, o governo e os parceiros têm utilizado recursos que dispõem para situações de emergência, mas essa verba não é suficiente para garantir a estabilização da situação, que ainda é muito grave.

“Os fundos de contingência do governo e dos parceiros estão sendo utilizados e estão dando resultado. Até agora temos feito tudo o que é preciso. Mas, se ficarmos assim, dentro de um mês não vamos poder fazer tudo o que teria que ser feito”, explicou Djamila.

A ilha de Ibo era um destino paradisíaco conhecido por seus recifes de corais e praias dignas de cartões-postais — Foto: Emidio Jozine/AFPA ilha de Ibo era um destino paradisíaco conhecido por seus recifes de corais e praias dignas de cartões-postais — Foto: Emidio Jozine/AFP

A ilha de Ibo era um destino paradisíaco conhecido por seus recifes de corais e praias dignas de cartões-postais — Foto: Emidio Jozine/AFP

Controle do cólera

Até o momento, os esforços da OMS para conter o avanço dos casos de cólera e malária têm surtido efeito em Sofala, região atingida pelo Idai. Porém, como a infraestrutura está comprometida, o país segue em alerta para essas doenças tanto na região central como no norte, onde o impacto do Kenneth ainda é avaliado.

“Registramos mais de 6 mil de cólera e vimos uma diminuição drástica depois da campanha que vacinou mais de 800 mil pessoas na região de Sofala. Atualmente, temos o registro de apenas 20 casos. Isso mostra que o trabalho foi bem feito e, por isso, pode-se dizer que a doença está controlada”, afirmou Djamila.

O país também chegou a registrar mais de 10 mil casos de malária, mas “o número voltou para o que é considerado normal para a região” nessa época do ano.

A diretora de saúde da província de Cabo Delgado, Anastacia Lidimba, informou que a região já registrou 14 casos de cólera (11 em Pemba e três em Mecufi) e 69 de diarreia.

Dois ciclones atingiram Moçambique este ano — Foto: Infografia: Wagner Magalhães/G1Dois ciclones atingiram Moçambique este ano — Foto: Infografia: Wagner Magalhães/G1

Dois ciclones atingiram Moçambique este ano — Foto: Infografia: Wagner Magalhães/G1

A OMS ainda está definindo como será a sua atuação na região. “O risco de surto é grande porque a província, como Sofala, já tem risco para cólera e malária”, afirmou.

“Nesse tipo de tragédia, é certo de que serão registrados casos de diarreia por causa da contaminação da água. As águas dos rios estão sujas. Por isso, além vacinação em massa, fazemos a distribuição de cloro para tratamento da água, instalação de latrinas”, explicou.

“Também atuamos para tentar evitar que a população fique exposta aos mosquitos. Precisamos fazer pulverizações, comprar mosquiteiros, comprar kits para diagnóstico, mas até agora tem muita gente sem casa, vivendo em tendas. Não é fácil.”

Para evitar mortes, tanto provocadas pela malária como pelo cólera, é fundamental investir em fazer um rápido diagnóstico. “São doenças graves se não forem tratadas rapidamente.”

Construções foram danificadas na passagem do ciclone Kenneth em uma aldeia ao norte de Pemba, em Moçambique, em foto de 1º de maio  — Foto: Mike Hutchings/ ReutersConstruções foram danificadas na passagem do ciclone Kenneth em uma aldeia ao norte de Pemba, em Moçambique, em foto de 1º de maio  — Foto: Mike Hutchings/ Reuters

Construções foram danificadas na passagem do ciclone Kenneth em uma aldeia ao norte de Pemba, em Moçambique, em foto de 1º de maio — Foto: Mike Hutchings/ Reuters

Má nutrição crônica

Não é só a OMS que tem enfrentado dificuldades para arrecadar o montante necessário para atuar em Moçambique depois dos ciclones.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU, que atua na distribuição emergencial de comida após os desastres, declarou nesta sexta (3) que conseguiu mobilizar menos da metade dos US$ 140 milhões necessários para contornar as consequências do Idai durante os três primeiros meses após a tragédia.

“A resposta ao ciclone Kenneth será cara e, por isso, recursos adicionais significativos são urgentemente necessários”, afirmou em nota.

Nesta sexta-feira, o Banco Mundial anunciou que vai liberar US$ 545 milhões (cerca de R$ 2,15 bilhões) para os países atingidos pelo Idai, montante que beneficiará também Malaui e Zimbábue.

Crianças são fotografadas em abrigo temporário na cidade de Pemba, no norte de Moçambique, na quinta-feira (2)  — Foto: Tsvangirayi Mukwazhi/ APCrianças são fotografadas em abrigo temporário na cidade de Pemba, no norte de Moçambique, na quinta-feira (2)  — Foto: Tsvangirayi Mukwazhi/ AP

Crianças são fotografadas em abrigo temporário na cidade de Pemba, no norte de Moçambique, na quinta-feira (2) — Foto: Tsvangirayi Mukwazhi/ AP

As duas tempestades tropicais ainda destruíram 750 mil hectares de plantações, agravando os já elevados níveis de insegurança alimentar no país. A representante da OMS alerta que quase 50% das crianças moçambicanas já sofriam de má nutrição crônica.

“A população agora não tem casa, não tem comida, não tem roupa, não tem nada e as crianças, com toda essa destruição, acabam sendo as mais vulneráveis entre os vulneráveis”, contou a representante da OMS, que já visitou Beira e programa uma visita a Cabo Delgado em breve.

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