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Nevasca em Bariloche prenuncia o frio no Sudeste do Brasil

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Na sexta-feira nevou tanto em San Carlos de Bariloche que parecia que a cidade se havia mudado para o cerro Catedral, o famoso pico de 2.405 metros na Cordilheira dos Andes, situado a 19 quilômetros do centro desta turística cidade argentina, e que abriga um importante centro de escalada e as pistas de esqui mais importantes da América do Sul. No entanto, o mais duro estava por vir: a nevasca deste domingo foi considerada oficialmente a maior em 22 anos, um manto branco que trouxe consigo um recorde absoluto de temperaturas. A cidade coberta já é uma notícia em si mesma. As calefações e chaminés das casas costumam atuar como escudo quando as temperaturas são baixas, por isso é comum ver a neve na periferia, mas não na zona urbana. Desta vez tudo ficou coberto de neve e, portanto, a previsão é da melhor temporada em anos para esquiar.

O trânsito de pedestres se torna inseguro pela pouca aderência dos pneus ampliar foto
O trânsito de pedestres se torna inseguro pela pouca aderência dos pneus Télam

Às 4h22 deste domingo, segundo confirmou o Serviço Meteorológico Nacional (SMN), os termômetros marcaram 25,4 graus abaixo de zero, o ponto mais baixo registrado até hoje na cidade, de quase 113.000 habitantes. O recorde anterior era de 30 de junho de 1963 e estava em -21,1. Em outro tuíte, acompanhado de um mapa de temperaturas, o SMN reconhece que a zona de Bariloche “sai da escala no gráfico, por ser -25.4°C um valor extremo de tão baixo”. A sensação térmica é de -29 graus. A onda polar que ameaça metade do país provocou o atraso e o cancelamento dos voos de e para a Patagônia. O aeroporto de Bariloche teve de ser fechado por causa do deslizamento de uma aeronave privada que aterrissou com muita dificuldade, produto da neve e do gelo que havia na pista. Também permanecem fechadas 14 passagens fronteiriças para o Chile, de um total de 48.

A nevasca bloqueou numerosas estradas e obrigou a fechar, durante 24 horas, os aeroportos das cidades de San Carlos de Bariloche e Chapelco, localizadas nas províncias sulistas de Río Negro e Neuquén, respectivamente. Somente a Aerolíneas Argentina cancelou 27 voos, o que afetou cerca de 3.000 passageiros. O SMN prevê que prosseguirão as nevascas e os ventos fortes na Patagônia, com mínimas de até -15°C. Este forte temporal, apelidado de “a nevada do século”, coincide com o início das férias de inverno no país, e Bariloche é o destino mais visitado da Patagônia e um dos mais populares de toda Argentina, com cerca de um milhão de turistas, sobretudo na temporada invernal. A ocupação turística na cidade é muito alta e, embora não haja dados oficiais, fontes do setor estimam que alcance 80%, o que contrasta com o ocorrido no ano passado e no anterior, quando o início da temporada teve atraso por falta de neve. Calcula-se que já se encontrem na cidade cerca de 30.000 turistas.

A neve obriga alguns barilochenses a levar a pá ao trabalho ampliar foto
A neve obriga alguns barilochenses a levar a pá ao trabalho Télam

Outra cidade da província de Río Negro, Maquinchao, aparece depois de Bariloche no pódio das localidades continentais mais gélidas, com uma temperatura de -10,4. É seguida por Esquel, na província de Chubut, com -8,3, e Malargüe, em Mendoza, com -8,2 graus. Neste sábado, outra nevasca repentina cobriu de branco Santiago do Chile depois de dois anos sem neve. O fenômeno ocasionou a morte de uma pessoa e a interrupção do fornecimento de energia elétrica para cerca de 200.000 pessoas. Agora, a massa de ar frio que passou pela Argentina e Chile deve chegar ao Brasil. Em São Paulo, o Climatempo indica que as temperaturas podem chegar a 10 graus, com máxima de 16 ainda nesta terça-feira. Nas cidades mais frias do Brasil, Urupema e São Joaquim, em Santa Catarina, neve é esperada a qualquer momento. Em São Joaquim, a temperatura deve chegar a três graus negativos.

Em Bariloche, onde se calcula que caíram 40 centímetros de neve, quase a metade dos habitantes ficou sem luz, sem Internet e sem telefone. No domingo à noite ainda havia cerca de 2.700 usuários sem o serviço. Apesar da alta demanda, não foram registrados problemas com o gás natural, embora o fornecimento não chegue a todos os bairros da cidade, onde se esgotaram em poucas horas as pilhas e as velas. Segundo um comunicado do Ministério dos Transportes, houve acúmulo de neve de até 50 centímetros em Bariloche e intensas geadas em Chapelco, onde as pistas também ficaram bloqueadas pela neve à noite.

O frio foi sentido em todo o país. Segundo o monitoramento que o SMN realiza em 104 cidades de norte a sul, 65% do território argentino suportou nesta segunda-feira pela manhã uma sensação térmica inferior a zero grau e até chegou a nevar em zonar próximas de Buenos Aires, como Villa Ventana (a 560 quilômetros da capital), onde houve acúmulo de 20 centímetros de neve. Na capital argentina, a temperatura chegou a zero grau e a sensação térmica era de -2,4 grados. A previsão é que o fenômeno continuará durante toda a semana.

EL PAÍS

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