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No Focus Colloquium, reitor da UFC enxerga universidade “mais digital” no pós-pandemia e é contra adiar o Enem

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Átila Varela
atila@focus.jor.br

“A pandemia apressou a união entre as atividades presencial e a virtual.” A frase é do reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque. Ele projeta que o futuro da universidade no pós-pandemia será mais digital, com uma maior intensidade de aulas remotas.

“Nossos alunos começaram a estudar por meio de ferramentas novas. São mecanismos para facilitar a mobilização da comunidade acadêmica, mesmo depois que voltarmos as atividades presenciais plenas. Algumas universidades já faziam. Harvard já fazia.  Eles se preocuparam há dez anos em criar um mundo virtual”, declarou Albuquerque em entrevista ao Focus Colloquium desta segunda-feira, 18.

Apesar da implementação das aulas remotas, ele ressalta que houve resistência, assim como uma mobilização para adiar o calendário estudantil. “Rapidamente houve uma resistência.  Tem sempre alguns setores que são conservadores e resistiram, algumas unidades declararam que não queriam participar de atividades remotas. Mas eu insisti. O Consuni (Conselho Universitário da UFC) teve a grandeza de aprovar uma resolução mantendo o calendário”, destacou.

O reitor explica que uma paralisação acaba desmobilizando os alunos. “Quando você faz uma paralisação dessa ordem, a evasão é imensa. Quando sai, não volta. A retenção também. Começamos a lutar e bater, e rapidamente, as nossas unidades perceberam e retomaram gradualmente as atividades acadêmicas. E isso se deu de maneira muito positiva”, apontou.

Acordo com as operadoras de telefonia
Uma pesquisa conduzida pela UFC também busca mostrar o universo de alunos que hoje não têm acesso à internet. De acordo com dados preliminares, 1,5% dos alunos, algo em torno de 500 alunos da universidade, fazem parte desse grupo. Nesse sentido, a UFC segue estudando um plano com as operadoras de telefonia. “Estamos fechando com as operadoras, para o fim de que a própria UFC forneça ao aluno um pacote (de dados) para que ele possa acompanhar as atividades acadêmicas de forma remota”, explicou Albuquerque.

“Esse percentual pode aumentar, mas vamos continuar trabalhando com as operadoras para dar um pacote para cada aluno. Vamos abrir um edital para que o aluno necessitado tenha acesso”, comenta.

Cursos presenciais
Por mais que as aulas remotas sejam válidas, há cursos que requerem lições práticas, entre eles Educação Física, Odontologia, Medicina e Enfermagem. A alternativa, segundo o reitor, é readaptar o calendário. “É claro que temos atividades que não podem ser desenvolvidas remotamente. Veja o curso de odontologia. Teremos de readaptar o nosso calendário, tão logo as atividades presenciais sejam permitidas, mesmo que parciais, está sendo elaborado um plano pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG). Está bem avançado”, adianta.

Tutoriais para professores
Professores que não sabem como ministrar aulas remotas receberão diversos tutoriais para ajudar na empreitada. “Ele irá habilitar o professor para atividade remota. Quando for presencial, obviamente, será parcial. Cada professor terá que apresentar a seu coordenador, para encaminhar à Pró-Reitoria, um planejamento de recuperação das atividades que não podem ser desenvolvidas remotamente. Cada professor vai exercitar sua autonomia didática”, avalia.

“Eu fico triste quando vejo alguns setores, seja por razões de desconhecimento, ou por razões ideológicas, são contra essas modernidades. Mas elas vieram para ficar, vão nos ajudar nossa atividade pedagógica. Não precisa ter medo disso”, completa Albuquerque.

Adiamento do Enem
Adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na visão do reitor da UFC, seria “um estrago” muito grande para os alunos. “Se não tem Enem, por qual motivo estudar? É importante deixar os alunos realizarem o exame”, adianta.

Segundo ele, há condições de o exame ocorrer até novembro.  “É possível que seja para a data prevista. Se não for, vai ser adiado por pouco tempo. Você que é aluno, que vai fazer o Enem, continue estudando”, afirma. “Nós estamos em maio. Temos cinco meses. Não posso conviver com a ideia de que simplesmente se adie o Enem sem uma razão mais formada. Até lá vai ter vacina? Vai ter remédio? A pandemia vai se manter? Essa é a minha opinião pessoal. Quem decide é o Inep e o MEC. Mas se eu fosse consultado, eu faria isso”, conclui.

Otimização de recursos e geração de receitas
O que fazer para as universidades públicas não serem deficitárias? Qual o custo de um aluno que fica, por exemplo, mais do que o período do curso? De acordo com o reitor, uma ferramenta está sendo elaborada para calcular os impactos e permitir um maior controle. “O Poder Público não vai poder bancar uma universidade cara que é a pública brasileira. Ela precisa ser mais eficiente e precisa pensar em produzir os seus próprios recursos, principalmente para uma pesquisa. Se faz uma boa pesquisa, você traz dinheiro para uma nova pesquisa. Isso no mundo inteiro é assim”, finaliza.

Abaixo, a entrevista com o reitor da UFC, Cândido Albuquerque

 

 

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