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O Ceará e a política do hidrogênio verde: o Estado mirou no que viu e acertou no que não viu; Por Lorena Dasmascena

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Lorena Damascena é Procuradora do Estado do Ceará. Mestranda no Mestrado profissional em Direito e Gestão de Conflitos da Unifor. Pós-graduada em Compliance e Integridade Corporativa pela PUC Minas. Membro da comissão especial para estadual sobre o hidrogênio verde no Estado do Ceará da OAB Ceará . Diretora de Estratégia da Hydrogenius Hub

 

Por Lorena Damascena
Post convidado

Ao dirigir um carro movido a energia elétrica pelas ruas e avenidas de Fortaleza, pode ser fácil esquecer os investimentos na infraestrutura energética em décadas anteriores que hoje permi-tem o uso desses veículos. Ainda que o conceito de “carro elétrico” não seja a solução perfeita para questões ambientais e que esse transporte ainda não seja acessível a todos, a existência de pontos de recarga de energia em alguns locais de Fortaleza só é possível graças a estratégias energéticas bem planejadas no passado.

Nesse contexto, cabe relembrar que, o Governo do Estado, lá nos idos de 1965, iniciou a implementação de uma estratégia energética sustentável para o estado, por meio de negociações e mobilização de esforços junto ao Governo Federal (inclusive Sudene, Chesf e Eletrobras) para alavancar investimentos para garantir a construção, ampliação e reforma de subestações construção de linhas de transmissão bem como de redes de distribuição e permitiu tirar o Ceará e sua capital do isolamento energético, conectando-os ao sistema de abastecimento federal de energia elétrica de origem hidráulica.

Esta conquista foi de extrema importância para o Estado do Ceará, visto que até 1961, o Cea-rá dependia de um sistema elétrico alimentado de maneira precária e custosa por grupos geradores termoelétricos, apesar da Chesf e da geração de energia hidráulica no Nordeste já serem realidade desde 1949.

Avançando para o presente, o Ceará, mais uma vez, se vê diante da necessidade de investir em sua infraestrutura, especificamente nas redes de transmissão de energia para avançar na produção do hidrogênio verde. O impulso para esse investimento não vem tanto de necessidades internas, mas sim de um cenário global de descarbonização das grandes indústrias que ainda dependem de combustíveis fósseis, onde o hidrogênio verde e as energias renováveis surgem como potenciais soluções para o alcance das metas do Acordo de Paris e para superação da crise energética europeia resultante do agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Nessa conjuntura, o Estado do Ceará, devido a sua posição geográfica privilegiada, seu vasto potencial em energias renováveis, incluindo solar e eólica, tanto onshore quanto offshore, além da infraestrutura portuária do Ceará, desponta como um dos protagonistas chave dessa transição energética a nível global.

Esse destaque em energias renováveis é fruto de um ajuste da política energética estratégica do governo do Estado nos idos de 1987 e 1990, a qual previa uma mudança estrutural a partir de dois focos principais: otimizar a eficiência energética e diversificar as fontes de energia locais. Fundamentada em estudos técnico-científicos, o desafio era superar as limitações geográficas específicas do Ceará, como a ausência de fontes hidráulicas e a distância de fontes primárias de geração de energia de baixo custo no país. Para enfrentar esses desafios, o estado começou a direcionar seus esforços para expandir diversas fontes de energia, incluindo gás natural e energias renováveis como eólica e solar.

Assim, em 1998, os primeiros parques eólicos da prainha e Taíba passaram a operar e, em 2011, foi implantada a primeira usina solar em Tauá interligada ao Sin.

Segundo dados de 2022 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a matriz energética do Ceará é atualmente formada por 39% de energia termelétrica e 60% de fontes renováveis solar e eólica).

Portanto, pode-se dizer que antes, por questões de segurança energética, o Estado mirou nas energias renováveis e, agora, colhendo frutos de uma abordagem ambientalmente responsável, está acertando no alvo de hidrogênio verde como solução para impulsionar seu desenvolvimento econômico, criar empregos e renda e promover uma reindustrialização completa que elevará o Estado a um novo patamar.

Nesse sentido, o Estado, de forma pioneira, lançou recentemente, em 11 de setembro de 2023, a sua Política Estadual do hidrogênio verde, trazendo conceitos, princípios e objetivos ambiciosos para fortalecer o desenvolvimento econômico por meio da ampliação da matriz energética de baixo carbono no Estado do Ceará, de modo a criar uma ambiência favorável à atração de investimentos e financiamentos para tornar viável o desenvolvimento de toda a cadeia de valor do hidrogênio.

O desafio é garantir que essa “miragem” se torne uma transformação duradoura e significativa para o povo cearense e brasileiro.

Em suma, esperamos que, em alguns anos, possamos falar de carros movidos a hidrogênio verde, fabricados com aço verde cearense, circulando pelas ruas de Fortaleza.

focus.jor

 

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