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IZA sobre o sucesso: “Acho que nada foi sorte. Trabalhei muito para isso”

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IZA (Foto: Danilo Borges/QUEM)
IZA Abre (Foto:  )

Ao entrar no estúdio do fotógrafo Danilo Borges em São Paulo, Isabela Cristina, mais conhecida como IZA, solta o vozeirão e dá seu “bom dia” cantarolado para a nossa equipe. Mesmo vindo direto do aeroporto, carregada de malas, a cantora está animadona, afinal, ela é a estrela da capa dos 18 anos de QUEM. E a gente já te explica o porquê!

Desde julho, quando um incêndio no estúdio do Rio transferiu o programa Música Boa Ao Vivo, do Multishow, para São Paulo, ela se divide entre a capital paulista e sua terra natal. Ao mesmo tempo, a cantora concilia a agenda lotada de shows com a organização de seu casamento com o produtor musical Sergio Santos, marcado para dezembro.

Mas nada veio de mão beijada para a carioca de 28 anos que hoje é dona dos hits (que estão há meses na nossa cabeça) Pesadão e Ginga. Quando decidiu largar o emprego como publicitária, aos 25 anos, para seguir o sonho de infância de ser cantora, ela viu os pais se separarem e o pai, Djalma, sair de casa. IZA poderia ter desistido logo no primeiro obstáculo. A dificuldade financeira fez com que ela e a mãe vendessem sanduíches na escola para ajudar a pagar as contas e mesmo assim, dona Isabel não deixou que a filha desistisse da carreira.

Em 2014, IZA publicou seu primeiro cover no YouTube, juntando músicas de suas divas, Beyoncé e Rihanna. Dois anos depois, assinou um contrato com a Warner Music. O primeiro álbum, Dona de Mim, nasceu em 2018 e foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. E além de tudo isso, Iza faz questão de empoderar outras mulheres, ajudando as fãs no caminho da autoaceitação e mostrando a importância da representatividade negra na vida dos jovens.

Está explicado porque ela é nossa musa da capa?

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Para quem foi a primeira pessoa que ligou quando soube da indicação ao Grammy?
Foi para a minha mãe. Eu falei que estava tudo bem, porque eu liguei chorando. A primeira coisa que ela entendeu era que alguém tinha morrido [risos]. Contei para ela o que tinha acontecido e ela chorou. Coloquei no grupo da família, todo mundo começou a chorar, meu noivo, minha prima, todo mundo emocionado, porque qualquer pessoa que se dedica muito ao seu trabalho, o Grammy é tipo o selo que você está no caminho certo. Quantos outros álbuns eles não devem ter analisado para chegar nesse grupo tão pequeno, de cinco! Eu me sinto muito lisonjeada, é algo que eu sempre sonhei. O Grammy é a premiação máxima da música, eu realmente não esperava que isso acontecesse agora.

IZA Aspas (Foto:  )

Foi difícil ser comparada com Ludmilla e Anitta no começo da carreira?
Eu tive que ter muita paciência, eu tive tempo de maturação. Eu gosto de todas as músicas que eu lancei, mas é óbvio, para mim, que depois de Pesadão foi quando eu realmente comecei a me encontrar mais musicalmente. É o que acontece com qualquer artista, a gente acaba evoluindo, criando, inovando e aprendendo coisas ao longo do caminho. Eu tive que ter paciência em meio a essas comparações, porque eu queria mostrar o que realmente era meu trabalho. Eu sinto que cada vez que aparece um cantor ou uma cantora nova, o mercado tem essa necessidade de rotular e entender do que se trata. ‘Mas essa garota se parece com quem? Ela vai ser a nova quem para a gente?’. Isso era algo que eu sempre estava tentando me desvincular, me desfazer, que as pessoas parassem de me chamar de ‘a nova tal’ e me chamassem de IZA. Eu sabia que isso ia acontecer em determinado momento, porque esse era o caminho natural das coisas. Acho que é uma comparação que soa como elogio. Mas é óbvio que eu prefiro ser chamada de IZA.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)
IZA Aspas (Foto:  )

E isso acaba aumentando a rivalidade feminina…
Criando uma rivalidade como se a ‘nova’ fosse melhor do que a outra ou como se existisse a possibilidade de ter uma nova pessoa. Tem espaço para todo mundo! O público quer outras cantoras fazendo aquilo que elas gostam! Quanto mais darmos as mãos vai ser melhor para o nosso mercado. Cada uma faz o seu trabalho, cada uma ciente do seu talento, de suas extensões, daquilo que podem e querem fazer… Acho que ninguém fica perguntando para o Lucas Lucco o que ele acha do Gusttavo Lima, por exemplo… Eu acho que isso é estritamente voltado para as mulheres e acho isso ridículo. Estamos cansadas disso.

O que você sente quando relembra o começo da sua carreira?
É um filme. É muito tempo de preparação, sonhando com tudo isso que está acontecendo. Eu comecei a cantar com 25 anos, mas se eu for analisar, as pessoas vão dizer que foi tudo bem rápido, mas acho que eu estava esperando por isso a minha vida inteira. Eu sempre quis não ter vergonha de cantar e não ter vergonha de ser quem eu sou. É um momento muito especial, eu fico muito feliz com essa trajetória e ansiosa para tudo que ainda vai acontecer. Isso ainda é o começo de tudo, eu acabei de lançar meu primeiro álbum.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Você se arrepende de não ter largado tudo antes?
De forma alguma. Eu acredito muito no tempo certo das coisas. Acho que Deus sabe fazer as coisas no tempo certo. Comecei a cantar com 25 anos, mas antes disso eu me formei em Publicidade, trabalhei com produção e mídias sociais, RH, que hoje me ajuda muito a fazer o meu trabalho. Eu comecei certo, na hora certa e com a cabeça certa.

Você acha que teve sorte de ter sido descoberta pela gravadora na internet?
Eu acho que nada foi sorte. Eu trabalhei muito para isso mesmo. Eu enviei meu vídeo para muitas pessoas e eu sabia que em algum momento alguém iria ver. Não alguém de uma gravadora, mas alguém que pudesse me levar para dentro de uma gravadora, porque eu precisava disso. Eu acho que naquele momento meu trabalho fluiria melhor, eu poderia me concentrar nas coisas de que eu gostava mais de fazer, se eu não fosse uma cantora independente. Eu tentei muito, corri muito atrás para fazer com que as pessoas me vissem. Eu acho que a gente precisa acreditar no nosso trabalho. Se a gente não acreditar, quem vai? Eu acreditei esperando que alguém pudesse reconhecer e felizmente isso aconteceu.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)
IZA Aspas (Foto:  )

Já pensou em desistir?
Pensei, antes de ter a gravadora. Tem o momento da descoberta: ‘Putz, lancei o primeiro cover’. A maioria [dos amigos], inclusive, não sabia que eu era cantora, todo mundo descobriu naquele momento. É a novidade, a descoberta, a ansiedade… Fiquei muito feliz porque um monte de gente respondeu positivamente, mas chega um momento em que você fica estagnado. Você continua ali, sem estar recebendo salário, sem pagar as contas como você gostaria, sem a estrutura que você gostaria, enfim… Foi um momento muito complicado. Assim que eu resolvi ser cantora, meu pai saiu de casa e a situação financeira ficou completamente diferente. Eu não estava recebendo salário. Então, isso me incomodava muito, saber que minha mãe estava trabalhando muito, dormindo tarde, acordando cedo e eu estava ali em casa, no YouTube. Eu precisava ajudar de certa forma. A melhor coisa é que minha mãe é fora do comum e ela acreditou em mim mais do que eu mesma. Ela nunca me deixou arrumar um emprego, nunca me deixou tirar o foco daquilo que ela realmente achava que eu deveria fazer e que bom, né? As coisas aconteceram da melhor forma possível. Graças a Deus a gente nunca ficou com dívidas, isso era o milagre mensal. Todo final do mês a gente não sabia o que ia fazer e por um milagre acontecia alguma coisa e a gente conseguia pagar. Eu via a agonia da minha mãe. Foi numa dessas vezes que minha mãe estava fazendo as contas, não estava batendo e eu pensei: ‘Não dá para continuar, isso está ridículo, eu preciso fazer alguma coisa’. Isso aconteceu algumas vezes.

Você disse que acredita que as coisas aconteceram no tempo certo, você sempre teve essa paciência?
Pesadão eu lancei em outubro do ano passado. Praticamente um ano que tudo aconteceu: o álbum, Rock in Rio, Coldplay, prêmios, o reconhecimento… Eu realmente acho que fui muito abençoada. Ao mesmo tempo em que eu quero que meus fãs, a maioria jovens, envelheçam comigo, que a gente crie essa história juntos, é muito foda saber que tem uma penca de fãs crianças, idosos, quando tem show aberto eu vejo famílias. Isso me deixa muito feliz, porque isso leva a minha música para outra categoria. Eu sou muito religiosa, sou católica.  Eu brinco que Deus é meu empresário, sempre pergunto tudo para ele antes. Óbvio que tenho crises de ansiedade. Quando você quer muito uma coisa, você fica se perguntando o que pode fazer para acelerar e que saia tudo da forma que você imagina. A fé e a minha família me seguraram e acreditaram em mim. Hoje, tenho colhido os frutos disso. Eu não sou hipócrita. É muito mais fácil hoje falar estar paciente porque as coisas aconteceram. No final das contas é confiar. Ansiedade vai estar lá, não existe não estar ansioso fazendo aquilo que você mais ama no mundo. Não existe não ter frio na barriga, não existe estar calma. A partir do momento em que é a coisa mais importante da sua vida, você vai ter crise de ansiedade, sim, medo, sim, e você vai ter que lidar com isso!

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Você lançou o clipe de Dona de Mim e fez uma homenagem a sua mãe, que é professora. Você já ficou com medo de perdê-la alguma vez?
Várias vezes. Não só com ela dentro de sala de aula. Infelizmente, morando no Rio ou em qualquer lugar do Brasil, a gente fica com medo das pessoas que a gente ama irem trabalhar e não voltarem. Mas é óbvio, ela trabalhando como professora em um lugar de risco, aumentava muito mais. Eu morria de medo, porque eu sabia que minha mãe estava exposta a isso. Assim como a minha mãe tinha medo quando eu estava na escola e não podia sair porque estava rolando alguma coisa. Eu estudava em Ramos, próximo ao Complexo do Alemão [no Rio]. Infelizmente, é uma realidade não só da minha mãe.

O que mais te inspirou a fazer Dona de Mim?
Eu quis homenagear mulheres que querem inspirar, eu pensei na minha mãe, porque ela é a mulher mais inspiradora para mim e eu queria que as pessoas pudessem se ver no clipe também. Além da mensagem positiva que o clipe passa, eu queria que as pessoas pudessem se inspirar. Estamos vivendo em uma época em que as pessoas estão prestando atenção em tudo. O público é policial às vezes. A partir do momento em que eu fizer uma coisa só para dizer que fiz, ou então para as pessoas acharem legal, meus fãs vão saber. Instantaneamente ou daqui um tempo. Se não for verdade, uma hora vai aparecer. Então, eu só posso fazer aquilo que realmente tem a ver comigo, que é a minha verdade. Se eu fizer algo diferente disso, vou pagar no futuro, sem dúvida. Todo o meu álbum está definido por uma estética, mas tem R&B, blues, trap, funk, um pouco de percussão brasileira, berimbau. Essa é a mensagem que eu sempre gostei de passar desde o meu canal de covers no YouTube. Quem é cantor gosta de cantar um monte de coisa. Simone e Simaria não cantam só sertanejo, Thiaguinho não canta só samba, ele tem um lado soul que é inacreditável. A gente sempre está evoluindo, essa é a beleza da música.

Como está a relação com o seu pai?
É uma página virada na minha vida e é isso, vida que segue. Ele é meu pai e sempre foi muito presente na minha vida, independentemente dessa situação, de ter saído de casa. Óbvio que a gente passa por um período de adaptação, porque eu fiquei muito magoada com a forma como tudo aconteceu. Eu já tinha me reaproximado dele, quando eu o comuniquei [sobre o casamento], já estava mais do que certo de que ele viria me acompanhar [até o altar].

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)
IZA Aspas (Foto:  )

Você está de casamento marcado e é bem discreta sobre o seu namoro, os fãs te pressionam para contar mais coisas?
Eu gosto muito de guardar a minha privacidade. A gente que tem essa vida, essa coisa de pessoa pública, o que é isso? Está um pouco mal definido para a sociedade, sabe? A partir do momento em que eu abro muito a minha vida e disponibilizo minhas informações, acho que as pessoas têm todo o direito de me cobrar isso, porque eu estou ali falando sobre. Não quero que chegue a esse ponto. Têm coisas da minha vida que eu faço questão de compartilhar e outras coisas que não. Acho que cabe só a mim, meus amigos e minha família e uma dessas coisas é meu casamento. Às vezes, viajo, vou para lugares incríveis e ninguém sabe. Às vezes, preciso me desligar, senão, a gente enlouquece. Acho que o segredo de manter o pé o chão é você ter a sua vida e não transformar isso em um espetáculo. O que é verdadeiro então? Acho que meus fãs me entendem super. Eles sentem falta que eu poste sobre meu dia, isso tem a ver com cuidado mesmo, para me acompanhar.

Você sempre teve o sonho de casar?
O Sergio é um presente na minha vida, ele veio através da música, a gente se conheceu produzindo o álbum. É um sonho que eu estou realizando, estar ao lado de um homem como ele. Minha família e a família dele, todo mundo está feliz. Está uma maluquice, eu trabalhando, noiva, está um negócio meio tenso [risos]. Está dando tudo certo… Sempre sonhei em ter uma família. Sempre fui muito cuidadosa com meus amigos, sempre gostei de cuidar e de me doar de certa forma. Poder realizar isso com uma pessoa que eu amo, já, agora, é inacreditável para mim, porque não imaginei que fosse casar tão cedo. Vou casar e vou viver um dia após o outro. Não tenho planejamento para ter filhos. Saiu uma matéria falando que eu quero ser mãe… Meu sonho é ter uma penca de filhos, mas eu não acho que seja a hora. A gente precisa viver cada etapa. É o que eu penso, o que Deus pensou sobre isso não sei, não adianta ficar fazendo muitos planos [risos]. Eu tenho toda a paciência do mundo para poder criar uma família com ele do zero, no nosso tempo.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

E o vestido de noiva, como será?
Vai ser feito pela Giulia Borges. Ela é uma estilista do Rio, já fez várias peças para mim. O vestido do Prêmio Multishow, por exemplo, ela é maravilhosa. A gente está criando um projeto muito especial, o que eu posso adiantar é que não vai ser muito tradicional ao mesmo tempo em que vai ser [risos]. Não sei! Vou casar durante o pôr do sol, a festa vai até a última pessoa cair, desistir, então o vestido da cerimônia não vai ter brilho. Mas o vestido da festa vai ter!

Você vai cantar?
Não vou! Primeiro, eu vou estar extremamente emocionada e quando eu choro, eu não consigo cantar. Vai ser uma pagação de mico cantando e chorando, ninguém merece. Sei lá, não quero colocar isso no altar. É celebração do nosso amor. Acho que ele vai desmaiar, enfim! Melhor não! Nunca foi meu sonho cantar no casamento, eu já canto para ele todos os dias. Eu estou a louca do bem casado, eu só penso em festa, flores, toldo, essas coisas! Casamento é uma loucura, um investimento, eu já me desapeguei dos valores, já entendi que é um dia superimportante para mim e se eu ficar pensando nisso eu não vou casar [risos]. Sergio é muito participativo em tudo! Ele me ajuda com tudo, qualquer coisa que eu perguntar ele se envolve. Não posso escolher nada sem falar com ele, o detalhe do convite, as lembranças, a degustação de tudo…

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)
IZA Aspas (Foto:  )

Quando você se apropriou de si mesma e começou a ter mais confiança?
Acho que foi quando eu me permiti ser eu. Acho que isso começou na faculdade… Na escola, a gente está ali com pessoas que moram pelos bairros em volta. Então, a realidade de todo mundo era muito parecida. Fui estudar na PUC Rio, bolsista, eu entrei em contato com uma realidade completamente diferente da minha. Eu vi como a faculdade estava celebrando a diferença de cada um e como cada um estava sendo quem era, mas ao mesmo tempo, inseguro. Ali eu comecei a tentar entender o que eu fazia por mim e o que eu estava fazendo porque os outros diziam que era legal. Eu estava vendo como era importante ser indivíduo, porque o normal, no caso, era ser diferente. Não foi uma coisa que aconteceu de um dia para o outro, foi uma longa conversa que eu tive comigo. Meses, anos, até chegar no que eu sou hoje e ainda acho que estou evoluindo muito, sabe? Eu ainda tenho minhas inseguranças. As meninas e os meninos olham para mim como se eu fosse uma fortaleza, empoderadíssima o dia inteiro, que eu não me estresso, mas não é assim. É um trabalho eterno, porque a sociedade está ali dizendo o que é bonito e o que não é. E a gente tem diariamente que dizer: ‘Foda-se! Não é nada disso, eu quem sei da minha vida’. É importante que vejam [o que está por trás], isso me aproxima das meninas. Elas olham para mim e acham que é inatingível estar tranquilona. Mas eu não estou 100%! Eu só tenho noção de quem eu sou e me amo muito. Tenho noção de que sou um ser humano, que tenho meu tempo, minha caminhada, e que eu tenho que respeitar isso. Ao mesmo tempo em que sou virginiana, sou extremamente perfeccionista e me cobro muito por isso. Eu sei da minha postura, mas tem a questão artística. Eu no palco sou eu, a Isabela, mas tem um trabalho a ser feito. É um show, um espetáculo. Vem outra atitude ali na hora, porque eu sei que se eu me diminuir vai ser pior para mim. Eu preciso estar lá inteira e faço o que eu tenho que fazer. Eu faço o melhor que eu posso. Eu sempre me questiono muito, é diário na minha vida.

Você sofreu muito com a falta de confiança na adolescência?
Acho que qualquer adolescente, né? Quantos amigos lindos você tinha que estavam pleníssimos com sua vida, com seu cabelo, com sua pele? Dois ou três infelizes que a gente odiava provavelmente [risos], porque a maioria estava em evolução. É um período cruel! Sua pele está mudando, seu cabelo, seu corpo… Você tem suas expectativas. A gente ainda é criança achando que é adulto! Quando eu era mais nova achava que meu corpo estava errado, que não tinha que ser assim, que meu peito tinha que ser maior porque todo mundo tinha. Eu achava que minha bunda tinha que ser menor, porque as meninas eram mais magrinhas, e que eu tinha que ser mais baixa. Tem como fazer uma operação para ficar mais baixa, porra? Os boys não chegavam em mim. Considere que os homens achavam que para ficar comigo tinham que ser maiores do que eu. Aí, já cortei 2/3 da população do Brasil [risos].

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Qual sua altura?
1,75 metros. O que para uma mulher brasileira, estatisticamente, é ser alta. Os homens tinham essa coisa, de achar que tinham que ser maiores do que eu. Isso era um problema [risos]. Hoje em dia, não tem nada a ver com a minha aparência. Estou ótima, me achando maravilhosa, mas é meu trabalho. Meu trabalho é minha maior fonte de neura.

O que você faz para cuidar da saúde?
Hoje eu olho no espelho e eu gosto do que eu vejo. Comecei a ter um tratamento exclusivo com a Lana Pessoa, personal, mas mais do que isso, ela cuida do meu condicionamento físico. Eu rompi o ligamento do joelho e foi um período muito complicado. Graças a Deus, alguns meses antes, eu tinha entendido que eu era uma atleta de alta performance e que eu precisava que meu corpo me desse tudo aquilo que eu exigia dele. Dormir pouco, ficar sem comer, fazer show. Eu precisava que meu corpo me acompanhasse, senão não ia dar certo. Eu comecei a fazer muita musculação e a me alimentar de outra forma, cortei açúcar. Isso tem me ajudado a manter meu condicionamento físico, porque eu fico muito mal quando eu vou para um palco e sinto que eu não dei tudo o que eu poderia ter dado, sabe? Não é isso que o público merece. Hoje, me sinto mais forte do que nunca, forte mesmo. Além de me sentir gostosa, porque antes disso eu já me achava, mesmo com alguns quilos a mais. Eu já me achava maravilhosa antes. Foi muito mais para não sofrer com isso [o desgaste físico]. Hoje eu posso fazer show com o ligamento rompido. Isso é fruto de muita dedicação, de pensar no meu corpo e estar saudável.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)
IZA Aspas (Foto:  )

Como você lidou com o racismo quando era criança?
É óbvio que emocional e psicologicamente lidamos com várias coisas quando somos adolescentes, mas quando junta com preconceito e racismo, isso piora. A gente sempre ouve dos nossos pais: ‘Você vai mudar, você é normal, daqui a pouco seu corpo muda’, mas eu sabia que meu cabelo nunca ia deixar de ser crespo e que eu nunca ia deixar de ser negra. E aí? O que eu faço com essa informação? Claramente, isso foi um problema para mim quando mais nova, já que os outros [colegas na escola]não aceitavam muito bem isso. Quando eu cheguei ao Rio, aos 14 anos, isso mudou. Eu deixei de ser a única negra da escola. Eram pessoas que lidavam com isso diariamente e que vinham de outra educação diferente. Foi um salto social que eu dei, de me sentir mais confortável.

O que eles falavam?
Eram inúmeros apelidos, as pessoas me chamavam de ‘preta’ para me ofender. E eu não entendia bem, porque eu era assim e não era um problema. Crianças podem ser muito cruéis, justamente por não ter noção. Meus pais eram exemplares, me observavam muito. Eu chegava em casa e prendia o cabelo. Eles perguntavam: ‘O que está acontecendo?’. Eles iam na escola na hora! Não importa quantas vezes eles já tinham ido lá no mês. Meus pais nunca deixaram um caso passar despercebido, sempre resolveram todos eles. Isso acabou me fortalecendo, porque alguns amigos podiam dizer que era exagero, mas meus pais estavam ali para dizer que não era, que estava errado, sim, e que eu tinha que falar para os outros, que eu tinha que educar as pessoas e ter essa postura.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Em que momento você percebeu a importância da sua representatividade para meninas negras?
Várias já vieram falar comigo, coisas muito lindas. ‘Poxa, eu me achava muito feia, mas as pessoas falam que eu pareço com você e se você se acha bonita, eu sou bonita também!’, ou ‘Estou fazendo transição capilar porque você está fazendo. Obrigada!’, ‘Sua música me tirou da depressão’, ‘Chorei mares e rios ouvindo Dona de Mim e agora estou de boa!’, quer dizer, são muitas pessoas que falam comigo, mas eu também não tenho ideia do impacto que o meu trabalho tem na vida das pessoas. Quando elas falam isso para mim é muito importante. Há algumas semanas eu participei do Programa do Faro, que foi uma menina de 9 anos, cantando todas as minhas músicas, as coreografias, com uma roupa e cabelo iguais ao meu e eu achei aquilo surreal! Quem sabe um dia ela vai ser cantora quando crescer, isso só depende dela. Olha que coisa louca! Eu estou aqui fazendo meu trabalho e atingiu uma vida dessa forma muito especial. Isso não tem preço, isso mostra que eu estou no caminho certo, porque isso importava muito para mim quando eu era mais nova.

IZA Aspas (Foto:  )

Em quem você se espelhava?
Em quase ninguém. Tinham pouquíssimas figuras negras na TV, na mídia. Aisha Jambo, Tais Araújo e Isabel Filardis, mas pô, elas são mais velhas do que eu. Me ver mesmo, eu não me via. Eu via mulheres que eram semelhantes a mim e sabia que elas eram a minoria. Essa é a questão da representatividade, não adianta ter um só. Eu preciso saber que é possível para várias pessoas! Preciso ver que existe oportunidade para várias pessoas, que a IZA não é exceção, Karol Conká não é exceção. Tem lugar para todo mundo. Eu não me sentia representada por ninguém. Eu acho que tinha que ter mais de “mim” em vários lugares, não só na TV, mas nos escritórios de advocacia, como diretoras de cinema, sei lá, qualquer coisa. Qualquer papel de destaque que eu não via pessoas iguais a mim.

IZA  (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

CRÉDITOS
FOTOS: Danilo Borges
DESIGNER DE CAPA: Gabriel Pontes
STYLING: Bianca Jahara
MAQUIAGEM E CABELO: André Veloso e Rafael Valentinni (assistente)

LOOKS
Look capa
Casaco flores Lança Perfume
Biquini  Amir Slama
Scarpin Inbox shoes

Look casaco preto e braco
Casaco Trash Chic
Chocker Avergara

Look casaco pelúcia vermelho
Casaco Morena Rosa
Biquíni Água de Coco
Bota  Morena Rosa
Short JOHN JOHN
Brincos Mylah

Look body vermelho
Body Amir Slamar
Sandália Louboutin
Sobretudo Letage
Pulseiras Monalisa Jóias
Brincos Mylah

Look brilho
Macaquinho BOBÔ
Brincos Aulore
Cinto Forever 21
Boina (acervo)

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