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Pandemia atinge milhares de idosos que trabalhavam sem carteira assinada

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Pandemia atinge milhares de idosos que trabalhavam sem carteira assinada

Pandemia atinge milhares de idosos que trabalhavam sem carteira assinada

Jornal Nacional: Aos 61 anos, seu Zé Antônio, o senhor tem alguma renda?

José Antônio, catador: Não.

Jornal Nacional: Vive de que?

José Antônio: Eu vivo catando ferro velho.

Jornal Nacional: O senhor está recebendo o benefício de R$ 600 do Governo Federal?

José Antônio: Não, porque estou sem documento. Por isso eu não estou recebendo.

A vida também não está fácil para Luiz Fernando de Souza. As roupas se amontoam entre o material de trabalho e embalagens de quentinhas sob um pedaço de céu. É o que ele enxerga todo dia de manhã quando acorda. São 66 anos de vida e os últimos seis morando dentro de um carro, que não é dele.

Luiz Fernando de Souza, ajudante de lanterneiro: Eu fiquei sem condições de pagar o aluguel. Trabalhar eu sempre trabalhei.

E trabalha até hoje. Faz bicos para se manter. Por isso, tentou o auxílio emergencial pago pelo Governo, mas segundo ele o pedido ainda está em análise.

Luiz Fernando de Souza: Inscrevi, mas não deu certo não.

Jornal Nacional: Como é que o senhor define a sua vida hoje?

Luiz Fernando de Souza: Tem nem como dizer não.

Uma pesquisa feita pela Fiocruz ouviu mais de nove mil idosos brasileiros para saber qual é a situação deles durante a pandemia. Os resultados mostram que mais da metade das pessoas acima de 60 anos trabalha na informalidade e teve redução ou perda de renda desde a chegada do novo coronavírus.

“Se não tem vínculo, o que vai acontecer? Quando chega a pandemia, muitos deles perdem o emprego e o perder o emprego significa perder a renda do domicílio. Ou uma boa parte”, explica Dalia Romero, pesquisadora da Fiocruz.

Foi o que aconteceu na casa de Sandra Regina, que vendia bala.

Jornal Nacional: Agora com a pandemia a renda da casa da senhora diminuiu?

Sandra Regina: Ficou só meu LOAS.

Jornal Nacional: Quanto?

Sandra Regina: R$ 1.045.

A LOAS é a lei que regula o pagamento de benefícios da Previdência Social a idosos como Sandra Regina.

Jornal Nacional: Antes a senhora conseguia tirar quanto por mês?

Sandra Regina: Por semana, eu tirava R$ 300, R$400. Dava pelo menos pra carne.

Maria Luiza Gonzaga tem 63 anos e uma renda fixa de pouco mais de R$ 200 por mês. Não teve acesso ao auxílio emergencial do Governo. Ela diz que tem direito, que já se inscreveu no site da Caixa, mas o dinheiro ainda não saiu. Para piorar a situação, ela tenta se aposentar, mas não consegue.

Maria Luiza Gonzaga: Eu tenho que comer, porque meu estômago não entende que tem uma pandemia, que eu não tenho dinheiro. Ele nunca vai entender isso.

A pesquisa da Fiocruz mostra também que além do baque econômico, a pandemia está deixando marcas emocionais e na saúde dos idosos.

Jornal Nacional: Dona Maria Lúcia, a senhora anda triste?

Maria Lúcia Conceição Alves, ambulante: Muito, porque eu sou avó de 10 netos, eu vendia bala, era onde eu tirava minha renda. E não tem como eu conviver. Nem porta na minha casa tem. É forte um filho pedir um pão de manhã e você não ter.

G1

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